Pense global, beba local
25 de janeiro de 2008Anúncio
A cerveja pode ser a bebida nacional da Alemanha, mas cada vez mais alemães parecem estar perdendo o gosto por ela. De acordo com a associação alemã de cervejarias, o consumo da bebida caiu cerca de 18% entre 1992 e 2006. No entanto, a tendência parece não afetar Oliver Lemke, proprietário de uma das poucas cervejarias independentes da capital. Em seus quatro estabelecimentos, o primeiro dos quais foi inaugurado em 1999, as vendas continuam de vento em popa e, segundo ele, a queda do consumo só reflete a destruição das pequenas cervejarias locais por grandes corporações. "Antigamente, havia cerca de 100 cervejarias só neste bairro", conta Lemke. "Todas elas fecharam as portas na década de 70, com a chegada das monocervejarias [cervejaria onde só é oferecida uma marca de cerveja]. Grandes marcas, como Warsteiner ou Licher, decidiram fazer apenas um tipo de cerveja para todo o mercado nacional. Isso leva inevitavelmente a um beco sem saída, pois, em algum momento, até o maior idiota percebe que não há diferença entre uma Warsteiner e uma Licher." Novos sabores, pouca inspiração A Alemanha possui aproximadamente 1300 cervejarias, mas a grande maioria – inclusive a Beck's, a marca mais famosa – pertence a grandes conglomerados internacionais que restringem sua produção às variedades pilsen e weizenbier (cerveja de trigo). Sua principal estratégia para conquistar o público jovem é misturar cerveja com outros sabores como limão e Coca-Cola. Enquanto isso, a Alemanha parece ficar de fora da tendência às microcervejarias, observada em países como os Estados Unidos e o Reino Unido. Afinal, um yuppie de Manhattan que se preze dificilmente seria visto com uma Bud Light na mão. "Trata-se de uma mistura mundial de marketing equivocado, das pessoas erradas como proprietários de bares, e de estruturas erradas de venda", argumenta Lemke, que procura resgatar variedades de cerveja regionais, sazonais e outras quase esquecidas, atingindo um volume de vendas de 2,5 mil hectolitros ao ano. Concorrência injusta No entanto, é difícil para um fabricante independente se impôr no mercado dominado por conglomerados que controlam as redes de distribuição e incentivam bares a vender exclusivamente seus próprios produtos através da oferta de créditos e descontos, e do fornecimento gratuito de refrigeradores, equipamentos como bomba, serpentina e torneira, copos e até cinzeiros. O primeiro problema é tornar-se conhecido entre potenciais consumidores, "em parte devido às habilidades de marketing das grandes companhias", explica Marc-Oliver Huhnholz, assessor de imprensa da associação que reúne os fabricantes de cerveja do país. "Além disso, os americanos nunca beberam tanta cerveja quanto os alemães, então pequenas cervejarias têm mais impacto." A isso soma-se o fato de que, para atender à demanda de uma nova geração de potenciais consumidores, devem levar em conta mudanças no espectro demográfico e as alterações nos gostos e preferências que estas implicam. "A média etária está subindo na Alemanha e o público mais velho tende a consumir menos", avalia Huhnholz. "Já entre os mais jovens cresce a preferência por bebidas mais suaves, especialmente as mulheres preferem bebidas mais doces. Elas não querem nada muito amargo." Apesar disso, Huhnholz acredita que pequenas cervejarias podem desempenhar um papel importante quando se trata de despertar o interesse pela cerveja. "Elas têm que oferecer um produto atraente e investir muito em marketing", admite. "Mas muitos podem ser bem-sucedidos." Gosto amargo da burocracia Mas ainda há outro grande obstáculo: sem o apoio de grandes marcas, a burocracia alemã pode dificultar ainda mais a proliferação de pequenas cervejarias. "Existe um estereótipo da burocracia alemã, mas agora eu sei que não é um estereótipo", lamenta Philipp Brokamp, que teve de adiar a inauguração de seu estabelecimento em Berlim. "Tive de obter permissões de pelo menos oito repartições públicas, responsáveis por setores que vão desde engenharia civil até meio ambiente e proteção a deficientes. Cada uma delas se considera especialmente importante, mas nenhuma conseguiu chegar a um acordo sobre o que diz o regulamento", critica. Tudo isso para um bar capaz de receber até 100 clientes, onde a cerveja é fabricada no porão. Mas Brokamp continua apostando na qualidade superior da cerveja não filtrada, de aparência turva. "O que os fabricantes em massa filtram não são impurezas, mas algo nutritivo, que torna a cerveja mais saborosa", explica. "Este é exatamente o nicho certo do mercado. O consumo está caindo, as pessoas estão mais conscientes daquilo que bebem e portanto, mais seletivas."
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