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Migração feminina: nem escravas, nem vítimas

Mirra Banchón (em)17 de setembro de 2006

A migração da América Latina à Alemanha tem feição feminina. As migrantes não se sentem nem escravas nem vítimas, mesmo contrariando sociólogos, revelou um estudo do Instituto Alemão para Estudos Globais.

As imigrantes encontram espaço na Alemanha, mesmo na ilegalidadeFoto: dpa

Um estudo publicado pelo Instituto Alemão para Estudos Globais (Giga) de Hamburgo apresenta o fenômeno da migração sob uma perspectiva inovadora: a migração se feminiza e, ao contrário de análises de sociólogos europeus, as imigrantes latino-americanas, ilegais e trabalhadoras domésticas, não se sentem nem oprimidas muito menos escravizadas. Seus objetivos e suas metas familiares estão claras antes mesmo de chegarem na Europa. E as situações de medo e insegurança daquelas que vivem na ilegalidade não são maiores que as vividas na terra natal.

Emigrar para trabalhar

Patricia Cerda-Hegerl, autora do estudo e docente do Instituto para Comunicação Intercultural da univesidade de Munique, sustenta que o número de mulheres latino americanas que abandonam seus países é tão alto que é possível falar de uma feminização da migração.

O fenômeno das "trabalhadoras domésticas migrantes", como são denominadas no estudo, não é particular da América Latina. Na Alemanha, entretanto, o fenômeno quase não é percebido, afinal a maioria das imigrantes são ilegais. E por isso vivem de maneira menos chamativa possível. A motivação e os caminhos que levam essas mulheres até a Alemanha é descrita na pesquisa onde 12 mulheres contam sua história.

Graças aos laços

Muito menos de domínio público são as circunstâncias que as mantêm no exterior: podem levar uma vida anônima sustentanto suas famílias aqui e lá – denominado por Cerda-Hegerl de laços primordiais–, é possível porque a Alemanha as necessita e de alguma forma as protege. Para as mulheres alemãs que trabalham, por exemplo, são indispensáveis ajudantes domésticas e babás. Isto e a rede de migrantes que as acolhem formam os chamados laços secundários.

Cerda-Hegerl explica que as redes existentes tornam-se mais complexas, tanto no país emissor quanto no receptor, a partir do momento em que mais mulheres emigram e mais tempo elas permanecem no exterior. A importância dessas redes de migrantes potencializa-se no caso das ilegais, este é o seu "capital social": contatos, laços, empatia.

Medo de quê?

A possibilidade de serem descobertas pela polícia, estarem sujeitas à exploração, assim ocmo a falta de seguro social ou médico fazem parte do cotidiano dessas trabalhadoras migrantes. O que passa despercebido pelos sociólogos europeus é o grau de coletivização–o sentimento de pertencer a algo–que nestas sociedades é bem mais alto que na sociedade alemã, onde prima o individualismo. Este se define na pesquisa como um sistema segundo o qual "as relações entre os indivíduos são frouxas, e espera-se que todos façam por si só e pelos parentes mais próximos."

Este sentimento de pertencer a algo é o ponto crucial da feminização da migração. Graças a ele e aos claros objetivos que as migrantes carregam–melhorar o estátus social e econômico da família aqui e lá–, não é tão relevante a falta de segurança, um fator definido diferentemente em cada cultura. Por isso, as imigrantes não se sentem escravas, exploradas ou vítimas, pois estão aqui por escolha própria e isto as abre o caminho a muitos sonhos.

E viver com medo? Patricia Cerda-Hegerl, que fez seu doutorado com trabalho em relações interétnicas, opina que o medo que passam aqui não é maior que nas instáveis sociedades e nos baixos estratos sociais de que provêem.

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