Migrantes no centro de nova crise entre França e Itália
11 de novembro de 2022
Governo de extrema direita em Roma é acusado de violar leis internacionais ao negar acesso a navio com centenas de migrantes, que encontram abrigo na costa francesa. Paris reage com reimposição de controles de fronteira.
Anúncio
Um navio com 230 migrantes resgatados no Mar Mediterrâneo se tornou o centro de novos desentendimentos entre a França e a Itália, após o novo governo italiano de extrema direita impedir o acesso da embarcação da ONG SOS Méditerranée aos portos do país.
Durante semanas, o navio Ocean Viking viveu uma verdadeira odisseia, enquanto buscava autorização para atracar em algum porto seguro. A procura levou a embarcação até a costa da França, onde finalmente recebeu permissão para desembarcar os migrantes em Toulon.
O navio chegou ao porto militar no sul da França nesta sexta-feira (11/11), mas a crise entre Paris e Roma não demonstra sinais de abatimento. O governo francês e as ONGs acusam a Itália de violar leis marítimas internacionais ao negar refúgio às pessoas resgatadas.
O ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, em retaliação, anunciou o reforço dos controles nas fronteiras terrestres com a Itália.
Na passagem entre Ventimiglia, no lado italiano, e Nice, na parte francesa, a polícia fazia a verificação de automóveis, embora os dois Estados-membros da União Europeia (UE) façam parte do Espaço Schengen, a zona de livre fronteira do continente europeu. Outros dez postos de fronteiras serão monitorados por cerca de 500 policiais.
O ministro francês para Assuntos Europeus, Laurence Boone, disse que a fronteira com a Itália seria fechada, com a imposição de controles de passaporte. Além disso, Darmanin informou que a França decidiu não acolher 3,5 mil migrantes que chegariam ao país vindos do território italiano no próximo ano, como previsto em um acordo entre os países da UE.
Violação das leis internacionais
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, impôs limites às embarcações de resgate de refugiados no Mediterrâneo, a quem chamou de "serviço de taxi de migrantes". Ela criticou Paris por reclamar da chegada de 230 migrantes, quando "desde o começo do ano, quase 90 mil chegaram à Itália".
Anúncio
Em outubro, o novo ministro italiano do Interior, Matteo Piantedosi, sugeriu que a Itália teria o direito de proibir os navios de resgate de entrarem em suas águas territoriais com base no artigo 19 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Unclos), que afirma que as embarcações não devem ser "prejudiciais à paz, à ordem ou à segurança" do país que as recebem.
As ONGs, no entanto, rejeitam essa interpretação da lei. Especialistas afirmam que negar ou atrasar o acesso às águas italianas usando a migração ilegal como justificativa seria uma violação das leis internacionais.
Em 2 de novembro, Meloni disse que os Estados representados nas bandeiras dos navios devem ser os responsáveis pelos migrantes resgatados. Esses países seriam, no caso, a Alemanha e a Noruega. Piantedosi descreveu as embarcações como "ilhas", ou seja, extensões dos territórios ao qual pertencem.
Juristas nas duas nações rejeitam essa afirmação. A lei, segundo afirmam, explicita que "um navio não é um território". Especialistas também condenaram a alegação de que os navios poderiam ser considerados locais de segurança, ou que os pedidos de asilo possam ser processados nas próprias embarcações.
rc (DPA, Reuters)
Mundo em fuga
Cerca de 68 milhões de pessoas se encontram atualmente em fuga: pelo mar, pelas montanhas, pelas estradas. A migração afeta todos os continentes. As rotas de fuga são as mais diversas. E todas são desoladoras.
Foto: Imago/ZUMA Press/G. So
Fuga por caminhão
O mais recente movimento migratório tem origem na América Central. Violência e fome levam milhares de pessoas a fugir de Honduras, Nicarágua, El Salvador e Guatemala. O destino: os Estados Unidos da América. Mas lá, o presidente Trump se mobiliza contra os imigrantes indesejados. A maioria dos refugiados permanece na fronteira mexicano-americana.
Foto: Reuters/C. Garcia Rawlins
Refugiados terceirizados
O governo conservador em Camberra não quer ter refugiados no país. Aqueles que conseguem chegar ao quinto continente são rigorosamente deportados. A Austrália assinou acordos com vários países do Pacífico, incluindo Papua Nova Guiné e Nauru, para alocar ali os refugiados em campos, cujas condições são descritas por observadores como catastróficas.
Foto: picture alliance/AP Photo/Hass Hassaballa
Os refugiados esquecidos
Hussein Abo Shanan tem 80 anos. Ele vive há décadas como refugiado palestino na Jordânia. O reino tem apenas dez milhões de habitantes. Entre eles, estão 2,3 milhões de refugiados palestinos registrados. Eles vivem, em parte, desde 1948 no país – após o fim da guerra árabe-israelense. Além disso, existem atualmente cerca de 500 mil imigrantes sírios.
Foto: Getty Images/AFP/A. Abdo
Tolerado pelo vizinho
A Colômbia é a última chance para muitos venezuelanos. Ali, eles vivem em acampamentos como El Camino, nos arredores da capital, Bogotá. As políticas do presidente Nicolás Maduro levaram a Venezuela a não conseguir mais suprir seus cidadãos, por exemplo, com alimentos e medicamentos. As perspectivas de volta a seu país de origem são ruins.
Foto: DW/F. Abondano
Fuga no frio
Pessoas em fuga, como estes homens na foto, tentam repetidamente atravessar a fronteira da Bósnia-Herzegovina para a Croácia. Como membro da União Europeia, a Croácia é o destino dos migrantes. Especialmente no inverno, essa rota nos Bálcãs é perigosa. Neve, gelo e tempestades dificultam a caminhada.
Foto: picture-alliance/A. Emric
Última parada Bangladesh?
Tempo de chuva no campo de refugiados de Kutupalong em Bangladesh. Mulheres da etnia rohingya, que fugiram de Myanmar, protegem-se com seus guarda-chuvas. Mais de um milhão de muçulmanos rohingya fugiram da violência das tropas de Myanmar para o vizinho Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo e que está sobrecarregado com a situação. Este é atualmente o maior campo de refugiados do planeta.
Foto: Jibon Ahmed
Vida sem perspectiva
Muitos recursos minerais, solos férteis: a República Centro-Africana tem tudo para estabelecer uma sociedade estável. Mas a guerra no próprio país, os conflitos nos países vizinhos e governos corruptos alimentam a violência na região. Isso faz com que muitas pessoas, como aqui na capital, Bangui, tenham que viver em abrigos.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Blackwell
Chegada à Espanha
Refugiados envoltos em cobertores vermelhos são atendidos pela Cruz Vermelha após sua chegada ao porto de Málaga. 246 imigrantes foram retirados do mar pelo navio de resgate Guadamar Polimnia. Cada vez mais africanos evitam agora a Líbia. Em vez disso, eles tomam a rota do Mediterrâneo Ocidental, a partir da Argélia ou Marrocos.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/J. Merida
Refugiados sudaneses no Uganda
Por muito tempo, Uganda foi um país dilacerado pela guerra civil. Atualmente, a situação se estabilizou em comparação com outros países africanos. Para esses refugiados do Sudão do Sul, a chegada a Kuluba significa, sobretudo, segurança. Centenas de milhares de sul-sudaneses encontraram refúgio no Uganda.