Migrantes protestam na Grécia contra o plano UE-Turquia
2 de abril de 2016
Centenas se reúnem na ilha de Quios para protestar contra envio de migrantes da Grécia para a Turquia, previsto para começar nesta segunda-feira. Em Idomeni, manifestação pede abertura da fronteira.
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O plano de enviar de volta para a Turquia os migrantes ilegais que chegarem à Grécia gerou uma série de protestos nos últimos dias. A medida, prevista no controverso acordo entre a Turquia e a União Europeia e em vigor desde 20 de março, deverá ser posta em prática a partir desta segunda-feira (04/04).
Nesse dia está prevista a transferência das primeiras 750 pessoas, que deverão deixar a cidade de Mitilene, na ilha de Lesbos, em direção ao porto de Dikili, na Turquia, em dois navios da Frontex, a agência de fronteiras da UE. As medidas de segurança serão elevadas, com um policial para acompanhar cada migrante.
Nesta sexta-feira, centenas de refugiados se reuniram no porto da principal cidade da ilha grega de Quios para protestar contra o início da operação, que eles chamaram de deportação. "Atenas, Atenas" e "Liberdade, liberdade" foram alguns dos gritos mais bradados pelos presentes.
Houve protestos também em Dikili, na Turquia, onde centenas de pessoas expressaram sua insatisfação com a iminente chegada dos refugiados. A cidade ainda não tem um local para abrigá-los. O prefeito de Dikili afirmou não desejar um campo de refugiados na cidade.
Europa receberá refugiados
O acordo entre Bruxelas e Ancara prevê que todos os refugiados que chegarem à Grécia de forma ilegal a partir de 20 de março serão devolvidos para a Turquia. Também devem ser enviados aqueles cujo pedido de asilo não esteja fundamentado ou seja inadmissível. A intenção é coibir o tráfico de pessoas. Para cada pessoa enviada de volta, uma outra será recebida pela UE.
A vida no acampamento de refugiados de Idomeni
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Assim, também nesta segunda-feira deverá ser iniciado o processo inverso, de assentamento na Europa de refugiados que estão em situação legal na Turquia. A Holanda, por exemplo, receberá um primeiro grupo de migrantes, segundo o Ministério da Justiça. França, Finlândia e possivelmente Portugal deverão fazer o mesmo. O número total de refugiados a ser acolhido por esse mecanismo poderá chegar a 72 mil em toda a UE.
A Alemanha deverá receber, também nesta segunda-feira, o primeiro grupo de 40 sírios, que chegarão de avião da Turquia. Segundo o Ministério alemão do Interior, o grupo é composto principalmente por famílias. A Alemanha se comprometeu a receber 1.600 pessoas, segundo o ministério. O número poderá ser ampliado em mais 13.500 migrantes.
Diversos grupos de defesa dos direitos humanos e de assistência humanitária afirmam que o acordo UE-Turquia desrespeita os direitos dos refugiados e requerentes de asilo. Entre eles estão a Médicos Sem Fronteiras (MSF) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
A Anistia Internacional, por sua vez, acusou nesta sexta-feira a Turquia de enviar diariamente centenas de refugiados de volta à Síria, desde meados de janeiro. Em relatório, a organização afirmou que essas deportações em grande escalas são ilegais.
O cenário em Idomeni
A situação também é dramática no território continental grego, especialmente no acampamento improvisado da cidade de Idomeni, na fronteira da Grécia com a Macedônia. Lá, mais de 11 mil pessoas vivem em condição precária e sem ter para onde ir, já que a fronteira está fechada.
Na manhã deste sábado, mais de 200 refugiados bloquearam uma estrada local por cerca de uma hora, em protesto contra a situação. Eles exigiam a abertura da fronteira com a Macedônia para que possam seguir viagem para outros países da Europa.
Muitos requerentes começam a perder as esperanças, como é o caso do iraquiano Muthanna al Hashemy, de 36 anos. Ele, a mulher e dois filhos, de 4 e 6 anos, estão em Idomeni há 43 dias, "sem saber o que fazer".
"A única solução é voltar para o meu país. A situação aqui é pior do que a guerra. Eu não tenho mais dinheiro", diz Hashemy, que gastou "mais de 2.500 euros" para chegar a Idomeni com a família. "Vou esperar até segunda-feira para ver o que acontece. Senão volto para casa."
As autoridades gregas estimam que mais de 52 mil requerentes de asilo estejam presos na Grécia após o fechamento da chamada rota dos Bálcãs, alternativa dos migrantes para chegar ao norte da Europa.
EK/ap/dpa
2015, o ano dos refugiados
Nunca tantas pessoas estiveram em fuga como em 2015. Muitos delas seguiram para a Europa, com o objetivo de chegar à Alemanha ou à Suécia. Confira uma restrospectiva fotográfica do "ano dos refugiados".
Foto: Reuters/O. Teofilovski
Chegada à União Europeia
Esses jovens sírios superaram uma etapa perigosa da sua viagem: eles conseguiram chegar à Grécia e, assim, à União Europeia. O objetivo final, porém, ainda não foi alcançado: eles querem continuar a jornada para o norte, em direção a outros países-membros do bloco. Em 2015, a maioria dos refugiados seguiu para a Alemanha e para a Suécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Perigosa travessia do Mediterrâneo
O caminho que eles deixam para trás é extremamente perigoso. Vários barcos com refugiados, nem sempre aptos à navegação, já viraram durante a travessia do Mar Mediterrâneo. Estas crianças sírias e seu pai tiveram sorte: eles foram resgatados por pescadores gregos na costa da ilha de Lesbos, na Grécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
A imagem que comoveu o mundo
Aylan Kurdi, de 3 anos, não sobreviveu à fuga. No início de setembro, ele se afogou no Mar Egeu, juntamente com o irmão e a mãe, ao tentar chegar à ilha grega de Kos. A foto do menino sírio, morto na praia de Bodrum, espalhou-se rapidamente pela mídia e chocou pessoas de todo o mundo.
Foto: Reuters/Stringer
Onde as diferenças são visíveis
A ilha grega de Kos, a menos de 5 quilômetros de distância da Turquia continental, é o destino de muitos refugiados. As praias geralmente cheias de turistas servem de ponto de desembarque, como no caso deste grupo de refugiados paquistaneses que chegou à costa da Grécia com um bote de borracha.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Em meio ao caos
Porém, muitos refugiados não conseguem simplesmente seguir viagem quando chegam a Kos. Eles somente podem seguir para o continente após serem registrados. Durante o verão europeu, a situação se agravou quando as autoridades fizeram com que os refugiados esperassem pelo registro num estádio, sob o sol escaldante e sem água.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Um navio para refugiados
Por causa da condições precárias, tumultos eram frequentes na ilha de Kos. Para acalmar a situação, o governo grego fretou um navio, que permaneceu ancorado e foi transformado em alojamento temporário para até 2.500 pessoas e em centro de registro de migrantes.
Foto: Reuters/A. Konstantinidis
"Dilema europeu"
Mais ao norte, na fronteira da Grécia com a Macedônia, policiais não permitiam mais a passagem de pessoas, entre elas crianças aos prantos, separadas de seus pais. Esta foto tirada pelo fotógrafo Georgi Licovski no local, e que mostra o desespero de duas crianças, foi premiada pelo Unicef como a imagem do ano, já que mostra "o dilema e a responsabilidade da Europa".
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem conexões para refugiados
No final do verão europeu, Budapeste se transformou em símbolo do fracasso das autoridades e da xenofobia. Milhares de refugiados estavam acampados nas proximidades de uma estação de trem da capital húngara, pois o governo do país os proibira de seguir viagem. Muitos decidiram seguir a pé em direção à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Fronteiras abertas
Uma decisão na noite de 5 de setembro abriu caminho para os refugiados: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o chanceler austríaco, Werner Faymann, decidiram simplesmente liberar a continuação da viagem por parte dos migrantes. Como consequência, vários trens especiais e ônibus seguiram para Viena e Munique.
Foto: picture alliance/landov/A. Zavallis
Boas vindas em Munique
No primeiro final de semana de setembro, cerca de 20 mil refugiados chegaram a Munique. Na estação central de trem da capital da Baviera, inúmeros voluntários se reuniram para receber os refugiados com aplausos e lhes fornecer comida e roupas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Stollarz
Selfie com a chanceler
Enquanto a chanceler federal Angela Merkel era aplaudida por refugiados e defensores de sua política de asilo, muitos alemães se voltavam contra a política migratória. "Se tivermos de pedir desculpas por mostrar uma face acolhedora em situações de emergência, então este não é mais o meu país", respondeu a chanceler. A frase "Nós vamos conseguir" se tornou o mantra de Merkel.
Foto: Reuters/F. Bensch
Histórias na bagagem
No final de setembro, a polícia federal alemã divulgou uma imagem comovente: o presente que uma menina refugiada deu a um policial da cidade alemã de Passau. O desenho mostra o horror que vários migrantes vivenciaram e o quão felizes eles estavam por, finalmente, estarem em um local seguro.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundespolizei
O drama continua
Até o final de outubro, mais de 750 mil refugiados haviam chegado à Alemanha. Mas o fluxo não parava. Sobrecarregados, os países da chamada Rota dos Bálcãs decidiram fechar suas fronteiras. Apenas sírios, afegãos e iraquianos estavam autorizados a passar. Em protesto, migrantes de outros países chegaram a costurar seus lábios.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem fim à vista
"Ajude-nos, Alemanha" está escrito em cartazes de manifestantes na fronteira com a Macedônia. Na Europa, o inverno se aproxima, e milhares de pessoas, entre elas crianças, estão presas nas fronteiras. Enquanto isso, até mesmo a Suécia retomou o controle temporário de fronteiras. Em 2016, o fluxo de refugiados deverá continuar.