Em viagem ao norte da África, ministro alemão do Interior estabelece procedimento para repatriação de migrantes que tiveram pedido de asilo rejeitado. Berlim se compromete a colaborar com os países na área de segurança.
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O ministro do Interior da Alemanha, Thomas de Maizière, viajou para Marrocos, Argélia e Tunísia com a missão de negociar a repatriação de migrantes e refugiados que tiverem seus requerimentos de asilo negados por Berlim. Os três dias nos países magrebinos resultaram em acordos positivos.
Na Tunísia, em vez de se reunir com seu homólogo, De Maizière conseguiu um encontro com o primeiro-ministro do país, Habib Essid. Um golpe de sorte, já que, em seu tempo como ministro do Interior, Essid negociou um acordo semelhante de repatriamento com a Itália.
As conversações entre De Maizière e Essid resultaram em uma fase-piloto, na qual 20 tunisianos serão levados via voo fretado de volta ao seu país de origem. Apesar de ser um número pequeno, De Maizière classifica o acordo como um "avanço", pois não existia qualquer regulamentação entre Berlim e Túnis nesta questão.
Estimativas apontam que haja em toda a Alemanha somente 1.300 tunisianos obrigados a deixar o país. E, assim como enfatizou no Marrocos e na Argélia, De Mazière salientou também na Tunísia que "não se trata de dezenas de milhares de cidadãos que pagam seus impostos, possuem comércios e enviam seus filhos a escolas alemãs".
O ministro afirmou que a repatriação se destina àqueles entraram na Alemanha em 2015 em meio ao fluxo de refugiados, mas que não têm perspectiva de permanecer no país. Muitos deles alegaram ser refugiados sírios ou esperavam obter asilo ou conivência do Estado alemão por serem cidadãos magrebinos.
Na realidade, o número de requerentes de asilo comprovadamente vindos do Magreb representa apenas entre zero e 4% de todos os pedidos recebidos na Alemanha. Ainda não está claro por que justamente no ano passado o número de migrantes desta parte do norte da África aumentou tanto. O Ministério do Interior alemão parte do princípio de que isso esteja ligado à facilidade de entrada direta na União Europeia (UE) através da rota dos Bálcãs.
No passado a Alemanha teve más experiências ao tentar deportar imigrantes ilegais do norte da África. Os supostos países de origem não queriam acolher os migrantes até que ficasse claro que eles eram de fato argelinos, tunisianos ou marroquinos – muitos migrantes não possuíam documentos de identificação.
O procedimento estabelecido por De Mazière foi o seguinte: a Alemanha fornece nomes e impressões digitais, que serão comparados com informações nos bancos de dados nos Estados magrebinos. Cada pessoa certificada como nacional de Marrocos, Argélia ou Tunísia receberá então um laissez-passer, um documento de viagem válido para uma ida ao país expedidor e que substitui o passaporte.
Colaboração para fortalecer segurança
Em sua viagem pelos três países, De Maizière salientou que ambos os lados têm interesse em manter boas relações. Além disso, o ministro tinha classificado os países como "de origem segura", imagem que, segundo ele, foi confirmada em sua visita.
Categorização alemã à parte, a insegurança segue sendo um grande problema – especialmente na Argélia e na Tunísia. De Maizière anunciou novos acordos de cooperação no campo da segurança com os três países. Com a Argélia foi assinado um acordo para troca de dados visando o combate ao terrorismo. Na Tunísia foram entregues 29 veículos militarizados e equipamentos para desarmar explosivos. E com o Marrocos, o ministro fechou um "acordo de segurança negociado há anos".
E com isso De Maizière manda também uma forte mensagem aos migrantes que buscam asilo no país: a Alemanha, e somente ela, decide quem entra no país e quem tem que deixá-lo.
2015, o ano dos refugiados
Nunca tantas pessoas estiveram em fuga como em 2015. Muitos delas seguiram para a Europa, com o objetivo de chegar à Alemanha ou à Suécia. Confira uma restrospectiva fotográfica do "ano dos refugiados".
Foto: Reuters/O. Teofilovski
Chegada à União Europeia
Esses jovens sírios superaram uma etapa perigosa da sua viagem: eles conseguiram chegar à Grécia e, assim, à União Europeia. O objetivo final, porém, ainda não foi alcançado: eles querem continuar a jornada para o norte, em direção a outros países-membros do bloco. Em 2015, a maioria dos refugiados seguiu para a Alemanha e para a Suécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Perigosa travessia do Mediterrâneo
O caminho que eles deixam para trás é extremamente perigoso. Vários barcos com refugiados, nem sempre aptos à navegação, já viraram durante a travessia do Mar Mediterrâneo. Estas crianças sírias e seu pai tiveram sorte: eles foram resgatados por pescadores gregos na costa da ilha de Lesbos, na Grécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
A imagem que comoveu o mundo
Aylan Kurdi, de 3 anos, não sobreviveu à fuga. No início de setembro, ele se afogou no Mar Egeu, juntamente com o irmão e a mãe, ao tentar chegar à ilha grega de Kos. A foto do menino sírio, morto na praia de Bodrum, espalhou-se rapidamente pela mídia e chocou pessoas de todo o mundo.
Foto: Reuters/Stringer
Onde as diferenças são visíveis
A ilha grega de Kos, a menos de 5 quilômetros de distância da Turquia continental, é o destino de muitos refugiados. As praias geralmente cheias de turistas servem de ponto de desembarque, como no caso deste grupo de refugiados paquistaneses que chegou à costa da Grécia com um bote de borracha.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Em meio ao caos
Porém, muitos refugiados não conseguem simplesmente seguir viagem quando chegam a Kos. Eles somente podem seguir para o continente após serem registrados. Durante o verão europeu, a situação se agravou quando as autoridades fizeram com que os refugiados esperassem pelo registro num estádio, sob o sol escaldante e sem água.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Um navio para refugiados
Por causa da condições precárias, tumultos eram frequentes na ilha de Kos. Para acalmar a situação, o governo grego fretou um navio, que permaneceu ancorado e foi transformado em alojamento temporário para até 2.500 pessoas e em centro de registro de migrantes.
Foto: Reuters/A. Konstantinidis
"Dilema europeu"
Mais ao norte, na fronteira da Grécia com a Macedônia, policiais não permitiam mais a passagem de pessoas, entre elas crianças aos prantos, separadas de seus pais. Esta foto tirada pelo fotógrafo Georgi Licovski no local, e que mostra o desespero de duas crianças, foi premiada pelo Unicef como a imagem do ano, já que mostra "o dilema e a responsabilidade da Europa".
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem conexões para refugiados
No final do verão europeu, Budapeste se transformou em símbolo do fracasso das autoridades e da xenofobia. Milhares de refugiados estavam acampados nas proximidades de uma estação de trem da capital húngara, pois o governo do país os proibira de seguir viagem. Muitos decidiram seguir a pé em direção à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Fronteiras abertas
Uma decisão na noite de 5 de setembro abriu caminho para os refugiados: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o chanceler austríaco, Werner Faymann, decidiram simplesmente liberar a continuação da viagem por parte dos migrantes. Como consequência, vários trens especiais e ônibus seguiram para Viena e Munique.
Foto: picture alliance/landov/A. Zavallis
Boas vindas em Munique
No primeiro final de semana de setembro, cerca de 20 mil refugiados chegaram a Munique. Na estação central de trem da capital da Baviera, inúmeros voluntários se reuniram para receber os refugiados com aplausos e lhes fornecer comida e roupas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Stollarz
Selfie com a chanceler
Enquanto a chanceler federal Angela Merkel era aplaudida por refugiados e defensores de sua política de asilo, muitos alemães se voltavam contra a política migratória. "Se tivermos de pedir desculpas por mostrar uma face acolhedora em situações de emergência, então este não é mais o meu país", respondeu a chanceler. A frase "Nós vamos conseguir" se tornou o mantra de Merkel.
Foto: Reuters/F. Bensch
Histórias na bagagem
No final de setembro, a polícia federal alemã divulgou uma imagem comovente: o presente que uma menina refugiada deu a um policial da cidade alemã de Passau. O desenho mostra o horror que vários migrantes vivenciaram e o quão felizes eles estavam por, finalmente, estarem em um local seguro.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundespolizei
O drama continua
Até o final de outubro, mais de 750 mil refugiados haviam chegado à Alemanha. Mas o fluxo não parava. Sobrecarregados, os países da chamada Rota dos Bálcãs decidiram fechar suas fronteiras. Apenas sírios, afegãos e iraquianos estavam autorizados a passar. Em protesto, migrantes de outros países chegaram a costurar seus lábios.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem fim à vista
"Ajude-nos, Alemanha" está escrito em cartazes de manifestantes na fronteira com a Macedônia. Na Europa, o inverno se aproxima, e milhares de pessoas, entre elas crianças, estão presas nas fronteiras. Enquanto isso, até mesmo a Suécia retomou o controle temporário de fronteiras. Em 2016, o fluxo de refugiados deverá continuar.