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Milhões saem às ruas no Egito e pedem a renúncia de Morsi

Matthias Sailer (md)1 de julho de 2013

Oposição dá ultimato para que o presidente Mohammed Morsi deixe o poder até esta terça-feira. Ao menos 16 pessoas morreram durante os protestos, afirma o governo.

Foto: picture-alliance/AP

O Egito está profundamente dividido, um ano após a posse do presidente Mohammed Morsi. Enquanto seus partidários argumentam que ele é o primeiro presidente democraticamente eleito do país, seus adversários o acusam de só representar os interesses da Irmandade Muçulmana.

Há dias ocorrem grandes manifestações a favor e contra o presidente. A oposição convocou seus seguidores a permanecer nas ruas até a queda de Morsi e deu um ultimato para que ele renuncie até as 17h desta terça-feira. Ao menos 16 pessoas morreram desde domingo (30/06) durante os protestos, segundo anúncio do ministro da Saúde, Yehya Moussa.

A cidade do Cairo ficou paralisada no final de semana. Até tarde da noite, milhares de manifestantes protestaram nas ruas contra o governo Morsi. Eles são ricos e pobres, jovens e velhos, simpatizantes dos militares e revolucionários liberais, homens e mulheres, com e sem o véu muçulmano. Eles gritam irrhaal! em direção ao presidente egípcio, a palavra árabe para "desapareça". Muitos agitam no ar simbólicos cartões vermelhos. Bandeiras egípcias e retratos pedindo a renúncia do presidente predominam nas manifestações.

Há consenso entre os não islâmicos: já se foi o tempo em que cada partido trazia suas próprias bandeiras. "A mensagem é clara. Morsi tem que sair", disse um estudante de 16 anos que participava de um protesto diante do palácio presidencial. "Estou aqui hoje porque o país mudou completamente. Mubarak era corrupto, mas ainda era melhor do que Morsi. Percebemos agora que Morsi é ainda mais corrupto."

Rosto de Morsi riscado é um cartaz exibido com frequência nos protestosFoto: Reuters

Clima de festa e determinação

De um lado, há um clima festivo nos protestos. Pessoas riem e brincam umas com as outras. Vuvuzelas coloridas e apitos causam um barulho ensurdecedor. Ambulantes vendem milho grelhado e frutas em carrinhos de madeira.

Num dos portões do palácio, entretanto, fica claro que alguns não estão dispostos a festejar. Centenas de adolescentes sobem em pesados contêineres de metal, posicionados frente aos muros do palácio para servir de barricadas. Eles batem os pés freneticamente no metal enferrujado, e o barulho se espalha por toda a área. Como se estivessem em transe, eles agitam bandeiras do Egito e gritam em coro "desapareça!".

Quem vê as manifestações sente a determinação da população em não se submeter mais aos desmandos da Irmandade Muçulmana. Milhões foram às ruas no final de semana, no aniversário da revolução. Esses manifestantes estão determinados a derrubar o presidente. Amr Shawy é um deles. "Vou continuar protestando e insistindo para que ele renuncie. Todos aqui estão de acordo e querem ficar até que ele desapareça. Na minha família todos concordam sobre isso. E se eu voltar para casa, alguém da minha família virá me substituir."

Multidão ocupa praça Tahrir com bandeiras e cartazes pedindo renúncia do chefe de governoFoto: Reuters

Mas há várias opiniões de como se livrar de Morsi. O professor Ali Saijid, de 35 anos, é a favor de protestos pacíficos. "Se não funcionar, é preciso começar a desobediência civil em todo o país", opina. Exatamente para isso que o Movimento 6 de Abril, um dos grupos juvenis mais influentes da revolução, convocou oficialmente o protesto naquela noite.

Saijid prevê que haverá uma intervenção dos militares. Na opinião dele, o Exército não vai permitir que o país seja paralisado por um impasse durante muito tempo. Ele diz acreditar que, no final, os militares tomarão o poder da Irmandade Muçulmana.

Muitos manifestantes têm uma opinião positiva sobre o Exército. Muitos gritam o slogan "militares e povo de mãos dadas" diante do palácio. Muitos aplaudiram quando um helicóptero militar circulou à noite sobre os manifestantes. Mas especialmente os jovens ativistas, vítimas dos crimes do regime militar após a revolução, têm dificuldade em aceitar os militares.

Manifestações têm mulheres com e sem véu islâmicoFoto: Reuters

"Eu não sou contra os militares", diz Salma, uma das manifestantes. "Eles devem ocupar o poder, mas apenas de forma provisória, durante a fase de transição para eleições presidenciais em fraude. O Exército é necessário para proteger o país, mas não para governar o país."

"Por isso você será morto"

Também há pessoas violentas entre aqueles que protestam perto do palácio presidencial. Sob aplausos e gritos, alguns desfraldam um grande pôster sobre a fachada de uma casa próxima ao palácio, onde se vê o rosto riscado do presidente e a frase "Você tem governado este país, mas você não tem sido justo. Por isso você será morto!".

Salma também não descarta que haja violência. "Pode haver violência, mas ela virá da Irmandade Muçulmana. Esperamos que Deus nos proteja. Mas mesmo se a Irmandade Muçulmana tiver armas, nós somos mais numerosos do que ela."

Mas o ataque durante a madrugada contra a sede central da Irmandade Muçulmana, no Cairo, mostra que a violência também vem dos outros. O prédio foi invadido e incendiado. A polícia não interveio, depois de haver anunciado diversas vezes que não protegeria instalações da Irmandade Muçulmana.

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