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Milhares de peruanos protestam contra perdão a Fujimori

26 de dezembro de 2017

População critica decisão de Kuczynski de conceder indulto a ex-presidente, apontada como resultado de um acordo político. Polícia usa gás lacrimogêneo, ergue barricadas e entra em confronto com manifestantes.

Manifestante segura cartaz "Fujimori assassino", em Lima, no Peru
"Fujimori assassino": familiares de vítimas do governo do ex-presidente participaram do protesto em LimaFoto: Reuters/M. Bazo

Milhares saíram às ruas de cidades do Peru nesta segunda-feira (25/12) para protestar contra o indulto concedido pelo presidente do país, Pedro Pablo Kuczynski, ao ex-mandatário Alberto Fujimori, eximindo-o de cumprir uma condenação de 25 anos por violações dos direitos humanos.

A maior manifestação, com cerca de 6 mil pessoas, aconteceu em Lima e terminou com ao menos um detido. Apesar de o protesto ocorrer de maneira pacífica, a polícia tentou dispersá-lo com gás lacrimogêneo e ergueu barricadas para evitar que a marcha chegasse à clínica onde Fujimori permanece internado ou ao Palácio do Governo.

Leia também: Opinião: No Peru, um golpe contra a confiança na política

Houve confrontos entre manifestantes e policiais. Um cameraman da televisão estatal TV Peru foi agredido pela polícia e levado a um hospital, segundo escreveu o presidente da emissora, Hugo Coya, no Twitter.

Kuczynski concedeu o indulto a Fujimori, que governou o país de 1990 a 2000, e a outros sete presos neste domingo, alegando razões humanitárias. Segundo a Junta Médica Penitenciária que recomendou o indulto, Fujimori, de 79 anos, sofre de "doença progressiva, degenerativa e incurável", que se agrava na prisão.

"Assassino. Ladrão. Não ao perdão", diz cartazFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Mejia

"Kuczynski nos roubou a justiça"

Manifestantes exigiram a anulação do indulto por considerar que este favorece a impunidade. Fujimori, cujo governo é classificado por críticos de autoritário, foi condenado em 2009 pelo assassinato de 25 pessoas nos massacres de Barrios Altos (1991) e La Cantuta (1992), executados pelo grupo militar secreto Colina, e pelos sequestros de um jornalista e um empresário em 1992. 

"Fujimori, assassino e ladrão. Não ao perdão”, dizia um dos cartazes. Familiares das vítimas do governo do ex-presidente participaram da marcha.

"Estamos aqui como parente para rejeitar esse perdão ilegal, porque ele não corresponde à gravidade dos crimes", disse Gisela Ortiz, representante de um grupo de familiares das vítimas. "O Natal é por si só uma festa difícil para nós, porque não podemos passar com os familiares que perdemos, e ter que escutar este presente que Kuczynski deu a Fujimori dói."

"Uma reconciliação se baseia na justiça, e não na impunidade, e essa justiça é a que Kuczynski nos roubou ontem. É uma notícia dolorosa para nós e negativa para o país e para a democracia", acrescentou.

Além de Lima, houve manifestações contra a decisão de Kuczynski em outras cidades importantes do país, como Arequipa, Ayacucho, Puno, Tacna e Trujilo, entre outras.

Maior manifestação, com cerca de 6 mil pessoas, aconteceu em LimaFoto: Reuters/M. Bazo

Crise política

Com o indulto, Kuczynski colocou-se novamente no centro de uma crise política dias depois de se livrar da destituição. O perdão a Fujimori foi apontado por críticos como resultado de um pacto político entre o presidente e o fujimorismo para que o governante, acusado de corrupção no caso Odebrecht, pudesse continuar no poder.

Kuczynski salvou seu cargo na votação no Congresso graças à abstenção de dez fujimoristas liderados por Kenji Fujimori, filho mais novo do ex-governante, que anteriormente tinha pedido de maneira aberta ao presidente para indultar seu pai.

Nesta segunda-feira, manifestantes também exigiram a deposição do presidente, que, na campanha eleitoral do ano passado, havia prometido que não libertaria Fujimori. "Fora PPK”, gritavam os que participavam do protesto em Lima, usando as iniciais do governante.

Manifestante arremessa bomba de gás lacrimogêneo de volta em direção à polícia, em LimaFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Mejia

O presidente defendeu o indulto a Fujimori num pronunciamento televisionado. Ele afirmou que indultar Fujimori foi a decisão mais difícil da sua vida, mas que assim porque o ex-presidente já tinha cumprido perto da metade da sua pena e a sua saúde tinha se deteriorado.

"Trata-se da saúde e das possibilidades de vida de um ex-presidente do Peru que, tendo cometido excessos e erros graves, foi sentenciado e já cumpriu 12 anos de condenação", argumentou Kuczynski. "Estou convencido de que, quem se sente democrata, não deve permitir que Alberto Fujimori morra na prisão. A justiça não é vingança."

Kuczynski, que foi chamado de traidor por setores da sociedade que o apoiaram nas eleições presidenciais para evitar que chegasse à Presidência Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori, e que seu pai fosse indultado, afirmou que sua função é ser o presidente de todos os peruanos e não só dos que votaram nele. Ele reiterou que o indulto se baseia "em razões humanitárias".

Nesta terça-feira, Fujimori pediu perdão por ter frustrado uma parte de seu compatriotas durante seu governo e agradeceu o indulto. Ele deixou a unidade de terapia intensiva e foi transferido para a ala de casos de risco médio na clínica onde está internado em Lima.

LPF/efe/lusa/ap/afp

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