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SociedadeBelarus

Milhares desafiam veto e protestam contra governo em Belarus

30 de agosto de 2020

Governo montou bloqueios e pôs tropas de choque nas ruas, mas repressão não intimidou mais de 100 mil opositores que exigiram a renúncia de Lukashenko no dia de seu aniversário. Centenas de manifestantes foram detidos.

Belarus Minsk Protest Demonstration
Dezenas de milhares foram às ruas no quarto domingo consecutivo de grandes protestos em MinskFoto: Reuters/Tut.By

Sob forte presença policial e ameaças de prisão, dezenas de milhares de pessoas desafiaram a proibição de protestar e saíram às ruas da capital de Belarus neste domingo (30/08) para exigir a renúncia do autoritário presidente Alexander Lukashenko, no dia em que ele faz 66 anos de idade.

O movimento oposicionista no país do Leste Europeu completou três semanas de intensos protestos, que eclodiram após a eleição presidencial de 9 de agosto. O pleito oficialmente garantiu um sexto mandato consecutivo para Lukashenko, no poder desde 1994, mas a oposição alega que os números foram fraudados e exigem uma nova eleição.

Neste domingo, os manifestantes planejavam se reunir na Praça da Independência, palco de protestos anteriores em Minsk, mas o local estava bloqueado por barreiras e tropas de choque com escudos. Isso não impediu que o povo tentasse entrar, o que acabou gerando confrontos.

A agência de notícias alemã DPA relatou cenas de ataques gratuitos de policiais contra manifestantes pacíficos. Além disso, oficiais teriam tentado afastar pessoas usando veículos com imensas grades acopladas aos para-choques dianteiros. Imagens mostram mulheres deitadas no chão, e manifestantes gritando "Vergonha!" aos policiais. Blindados militares foram vistos nas ruas da cidade.

A multidão acabou tomando uma das principais avenidas da capital. Aos gritos de "Liberdade!" e "Renuncie!", alguns deles chegaram aos arredores do palácio presidencial, que também estava bloqueado por policiais da tropa de choque. Agências de notícias relatam a presença de atiradores nos telhados.

Não houve contagem oficial do número de manifestantes, mas agências de notícias e fontes da oposição afirmam que mais de 100 mil pessoas participaram do ato em Minsk. O número se assemelha ao de outros protestos das últimas semanas, que se tornaram o maior movimento antigoverno desde que Lukashenko assumiu o poder, há 26 anos.

Manifestantes carregam bandeira vermelha e branca, símbolo da independência do paísFoto: Reuters/BelaPAN
Dezenas de milhares foram às ruas no quarto domingo consecutivo de grandes protestos em MinskFoto: Reuters/Tut.By

Segundo o Ministério do Interior bielorrusso, ao menos 140 manifestantes foram detidos neste domingo em Minsk, acusados de participar de manifestação ilegal. Três foram presos por danificar um carro de polícia, disse o ministério.

Mais cedo, autoridades alertaram que a manifestação deste domingo não havia sido autorizada e ameaçaram fazer uso da força para impedir a aglomeração.

Mas o movimento pró-democracia ignorou as ameaças e defendeu que, no dia em que Lukashenko faz aniversário, ele deveria ver que o povo bielorrusso é contra seu governo.

Os manifestantes chegaram a carregar "presentes" peculiares feitos à mão, incluindo uma privada de papelão com uma placa pedindo que o presidente desse descarga em si mesmo, um caixão escrito "Cadáver político" e a foto de uma barata, apelido da oposição para Lukashenko.

Alguns depositaram flores e presentes simbólicos no chão, em frente a uma grande barreira comandada por policiais da tropa de choque equipados com capacetes e escudos. Essa foi a "demonstração mais ousada de desobediência civil em três semanas de protestos", descreveu o jornal bielorrusso de oposição Nasha Niva.

Dezenas de pessoas foram detidas neste domingo, acusadas de participar de manifestação não autorizadaFoto: Reuters/BelaPAN

A manifestação ocorreu em meio a uma grande repressão à liberdade de imprensa no país. No sábado, as autoridades de Belarus retiraram as credenciais de imprensa de vários jornalistas de veículos estrangeiros que vinham cobrindo a onda de protestos.

Entre os repórteres afetados, estão profissionais que trabalham para as agências de notícias francesa AFP, americana AP e britânica Reuters, a emissora britânica BBC, a emissora pública alemã ARD e a americana Radio Liberty. Representantes da mídia afirmam que a medida foi uma tentativa do governo de impedir que os protestos fossem noticiados fora do país.

As autoridades bielorrussas também têm reagido às manifestações com uma violenta repressão policial, que é condenada por líderes europeus e organizações de direitos humanos. Ao menos três pessoas morreram e centenas ficaram feridas em meio à repressão. Cerca de 7 mil foram detidas, e há relatos de atos brutais de violência contra os presos.

A União Europeia não reconheceu o resultado da eleição presidencial bielorrussa e já anunciou que está preparando sanções às autoridades do país do Leste Europeu. Belarus não faz parte do bloco. 

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, por sua vez, afirmou que o governo em Moscou está pronto para ajudar o país vizinho se a situação de segurança "sair do controle".

Neste domingo, o Kremlin anunciou que Putin e Lukashenko devem se encontrar pessoalmente em Moscou nas próximas semanas. Os dois líderes já se falaram por telefone algumas vezes desde as contestadas eleições, inclusive neste domingo, quando Putin parabenizou Lukashenko pelo seu aniversário.

EK/afp/ap/rtr/dpa

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