Milhares marcham em silêncio após morte de judia em Paris
29 de março de 2018
Franceses saem às ruas em homenagem a Mireille Knoll, uma sobrevivente do Holocausto assassinada aos 85 anos em aparente crime antissemita. Líderes de extrema direita e esquerda são vaiados ao chegar à passeata.
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Milhares de pessoas participaram nesta quarta-feira (28/03) de uma marcha silenciosa pelas ruas de Paris, na França, em homenagem a Mireille Knoll, uma judia francesa de 85 anos assassinada na semana passada. Autoridades estão tratando o crime como de motivação antissemita.
Representantes do governo francês e de vários partidos políticos se uniram à passeata. Entre eles estavam o ministro do Interior, Gérard Collomb, e a ministra da Cultura, Françoise Nyssen. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, também esteve presente. As atividades parlamentares foram suspensas para que políticos pudessem participar.
Muitos dos manifestantes seguravam rosas brancas. Um dos cartazes levantados pelos participantes afirmava: "Na França, avós são mortas porque são judias". Outra faixa trazia a frase "Nunca mais" escrita em diferentes idiomas. A marcha começou na praça Place de la Nation e foi até o prédio onde Knoll morava, ambos no leste da capital.
Marine Le Pen, presidente do partido de extrema direita Frente Nacional, foi vaiada ao chegar à passeata. Antes do ato, ela havia sido avisada pelo Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif) de que não era bem-vinda na marcha.
"Eu tenho o direito de estar aqui", afirmou ela, insistindo que seu partido vem lutando "há anos" contra o antissemitismo. Um dos fundadores da legenda é o pai de Le Pen, Jean-Marie Le Pen, um negador convicto do Holocausto. A própria política causou polêmica em 2017 ao negar a responsabilidade da França na deportação de judeus durante a ocupação nazista.
Também foi vaiado ao chegar na marcha o líder de extrema esquerda Jean-Luc Mélenchon, do movimento França Insubmissa e adversário de Le Pen nas eleições presidenciais francesas do ano passado. Ambos os políticos deixaram o local pouco tempo depois.
"Eu deixei bem claro. Expliquei que o grande número de antissemitas na extrema esquerda e na extrema direita tornaram esses partidos inaceitáveis", afirmou Francis Kalifat, presidente do Crif.
Várias cidades francesas realizaram marchas semelhantes em homenagem a Knoll nesta quarta-feira, incluindo Marselha, Lyon, Tours, Dijon, Estrasburgo, Metz e Nantes. Outras passeatas estão marcadas para esta quinta-feira em Orleans e Lille.
O presidente da França, Emmanuel Macron, não participou do ato em Paris, mas compareceu ao funeral da judia, realizado mais cedo nesta quarta-feira, também na capital francesa.
Morte chocou a França
Knoll, que escapou de perseguições nazistas contra judeus em Paris durante a Segunda Guerra Mundial, foi encontrada morta na sexta-feira passada em seu apartamento no 11º arrondissement, no leste da capital francesa, por bombeiros que foram chamados para apagar um incêndio no local.
A autópsia mostrou que ela fora esfaqueada 11 vezes. Em seguida, seus agressores colocaram fogo no apartamento, provavelmente para tentar esconder o crime. Seu corpo estava parcialmente queimado.
A morte da octogenária, descrita pelos vizinhos como uma pessoa reservada, chocou a comunidade judaica. Na segunda-feira, os investigadores disseram acreditar que o assassinato de Knoll pode estar relacionado à religião dela.
Nesta terça-feira, dois homens foram detidos e indiciados pelo crime. O filho de Knoll, que não quis ser identificado, declarou à agência de notícias AFP que um dos suspeitos é um vizinho de 20 anos que conhecia bem a vítima e a visitara no dia da morte. Segundo fonte policial, ele tinha condenações por estupro e agressão sexual.
O segundo suspeito, de 21 anos, tem antecedentes criminais por assalto violento. Ele estava no prédio no dia da morte de Knoll, e seu nome foi mencionado à polícia pelo primeiro suspeito.
Em 1942, aos 10 anos, Knoll conseguira escapar da operação em que policiais franceses prenderam mais de 13 mil judeus por ordem da ocupação alemã, fugindo com a mãe de Paris para Portugal. Após a guerra, retornou à capital francesa e se casou com outro sobrevivente do Holocausto, morto no início dos anos 2000.
EK/afp/dpa/rtr
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Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.