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Milhares protestam para que Alemanha acolha mais refugiados

7 de março de 2020

Alemães saem às ruas de Hamburgo e outras cidades para exigir que governo aceite receber migrantes em meio à crise na fronteira grego-turca. Manifestantes denunciam violência estatal na região e clamam: "Há espaço aqui."

Entre outros manifestantes, mulher levanta cartaz que diz: "Abram as fronteiras"
"Abram as fronteiras", diz cartaz em protesto em HamburgoFoto: picture-alliance/dpa/M. Scholz

Milhares de pessoas saíram às ruas de cidades como Berlim e Hamburgo neste sábado (07/03) em protesto contra a atitude do governo alemão diante da crise migratória que se instalou na região fronteiriça entre a Grécia e a Turquia. "Abram as fronteiras", clamam os manifestantes.

Os protestos ocorrem em resposta à delicada situação provocada na divisa turca com a União Europeia (UE) depois que o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que não mais impediria os migrantes de cruzarem o limite de seu país em direção à Europa.

O anúncio levou milhares de refugiados – muitos do Afeganistão, Irã e Síria – para a região fronteiriça, onde forças de segurança gregas tentam impedir a todo custo a entrada desses migrantes, fazendo uso inclusive de gás lacrimogêneo e canhões de água.

A Alemanha, juntamente com outros países da UE, insiste que não pode acolher mais requerentes de refúgio e que a fronteira para o continente permanece fechada.

"Se a Europa fecha oficialmente suas fronteiras e a violência estatal contra os refugiados aumenta, todas as pessoas que defendem a solidariedade e o direito de refúgio devem ir às ruas", disse Christoph Kleine, ativista do grupo Seebrücke, que organizou o ato em Hamburgo.

Ao menos 5 mil pessoas estiveram presentes na manifestação na cidade no norte do país neste sábado, segundo os organizadores. A polícia fala em 3.900 manifestantes.

"Hamburgo tem espaço", gritavam muitos dos presentes, em referência às alegações de alguns políticos de que a Alemanha não tem espaço suficiente para acolher mais migrantes. Em cartazes, liam-se frases como "parem a guerra, não as pessoas" e "ajudem!".

Segundo organizadores, ao menos 5 mil pessoas participaram da manifestação em HamburgoFoto: picture-alliance/dpa/M. Scholz

O protesto também buscou chamar atenção para as condições cada vez mais degradantes no superlotado campo de refugiados de Moria, na ilha grega de Lesbos.

Segundo a médica Verena Atabay, que trabalhou em Lesbos, muitos migrantes ali vivenciaram tortura e maus-tratos, enquanto menores de idade moravam sozinhos em tendas, dormindo no frio e no molhado. "Não podemos decepcionar essas pessoas", disse ela.

"Tenho vergonha desta Europa", afirmou Heiko Habbe, da organização Fluchtpunkt, que presta assistência jurídica gratuita a refugiados. Segundo ele, fechar as fronteiras da UE não afasta inimigos, mas pessoas necessitadas. Habbe exige o fim da violência estatal, a dissolução do campo de Moria e um processo de concessão de refúgio mais justo aos migrantes.

O protesto em Hamburgo foi o maior de vários ocorridos na Alemanha neste sábado. Em Berlim, organizadores falam em 4 mil manifestantes. Também estavam planejados atos em Münster, Weimar, Ulm, Leipzig, Oldenburg e Rostock, bem como em cidades da Áustria e da Suíça.

As demandas dos manifestantes ecoam as de vários políticos alemães de esquerda, que pediram à chanceler federal Angela Merkel que acolha ao menos os refugiados mais vulneráveis.

Em comunicado conjunto neste sábado, governadores do Partido Social Democrata (SPD), incluindo os prefeitos das cidades-estados de Berlim, Hamburgo e Bremen, exigiram a criação de um "pacto de humanidade", sob o qual migrantes possam ser acolhidos e distribuídos entre as regiões.

"Colocando todo o cálculo político de lado, agora é hora de agir e, no mínimo, tirar pelo menos as crianças e jovens refugiados desacompanhados dessa situação", afirmou o prefeito de Berlim, o social-democrata Michael Müller.

Em cartazes, liam-se frases como "parem a guerra, não as pessoas" e "ninguém é ilegal"Foto: picture-alliance/dpa/M. Scholz

Dezenas de milhares de migrantes estão tentando entrar na Grécia, um Estado-membro da UE, desde que a Turquia afirmou, em 28 de fevereiro, que não mais tentaria mantê-los em seu território, conforme foi acordado em 2016 com o bloco em troca de ajuda financeira.

A atitude foi vista como uma tentativa de pressionar a UE a aumentar a ajuda ao país, que abriga em torno de 3,6 milhões de refugiados sírios, ou ainda para obter o apoio europeu à campanha militar da Turquia na Síria.

A própria Grécia vem registrando um aumento no número de refugiados oriundos da Turquia. Em 2019, mais de 60 mil requerentes de refúgio chegaram ao país, onde os campos estão superlotados e sofrem com escassez de alimentos, roupas e medicamentos.

Na última quarta-feira, o Parlamento alemão rejeitou uma moção do Partido Verde para admitir 5 mil menores provenientes de campos de migrantes gregos. O ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, que adota uma postura rígida em relação a refugiados, disse que o país apenas acolheria pessoas no contexto de uma iniciativa europeia ampla.

Desde que Merkel abriu as fronteiras alemãs para mais de um milhão de refugiados em 2015, a migração se tornou uma das questões mais polêmicas no país, gerando uma divisão em seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), e alimentando uma onda de extrema direita.

EK/dpa/afp/epd/rtr

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