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Milhares saem às ruas contra o presidente da Argélia

3 de março de 2019

País africano vive onda de protestos sem precedentes contra reeleição de Abdelaziz Bouteflika, acusado de ser "fantoche de militares". Apesar da pressão popular, ele oficializa candidatura para quinto mandato seguido.

Um grande contingente de forças policiais foi destacado para os protestos deste domingo
Um grande contingente de forças policiais foi destacado para os protestos deste domingoFoto: picture alliance/AA/F. Batiche

Milhares de manifestantes voltaram às ruas da Argélia neste domingo (03/03), em protesto contra a tentativa de reeleição do presidente Abdelaziz Bouteflika. Apesar da pressão popular, o mandatário acabou oficializando sua participação na disputa, no último dia para a inscrição das candidaturas.

Segundo a imprensa local, o recém-nomeado diretor de campanha de Bouteflika, Abdelghani Zaalane, foi quem apresentou, na tarde deste domingo, a documentação necessária para a formalização da candidatura ao órgão competente em Argel, capital do país.

O jornal Actufil informou que Zaalane, que é também ministro dos Transportes do país, invocou um artigo da lei eleitoral para justificar o fato de o presidente não ter feito sua inscrição pessoalmente. Bouteflika, de 82 anos, está internado há uma semana em um hospital da Suíça.

Protesto em universidade em Argel foi uma das manifestações registradas na capital neste domingoFoto: Reuters/R. Boudina

O mandatário, contudo, prometeu grandes mudanças políticas caso seja eleito para um quinto mandato nas eleições de 18 de abril. Em mensagem escrita à nação e divulgada neste domingo, ele disse que determinaria a realização de um referendo sobre uma nova Constituição.

Bouteflika também prometeu que, se for reeleito, não cumprirá seu novo mandato até o final, mas convocará eleições antecipadas na Argélia, das quais não participará.

"Eu ouvi os apelos dos manifestantes e especialmente dos milhares de jovens que questionaram sobre o futuro de nossa nação", escreveu no texto.

A polícia usou canhões de água para dispersar manifestantes neste domingoFoto: picture alliance/AP/F. Guidoum

A apresentação da candidatura ocorre no último dia do prazo estabelecido pelo Conselho Constitucional da Argélia e em meio a grandes manifestações populares contrárias ao fato de Bouteflika, há 20 anos no poder, disputar um quinto mandato consecutivo.

Neste domingo, protestos em vários pontos da capital argelina e em outras cidades do país reuniram milhares de pessoas, em sua maioria estudantes, que entoavam frases como "Isto é uma república, e não um reino" e "Bouteflika não terá um quinto mandato".

No centro da cidade de Argel, os manifestantes se depararam com um esquema policial reforçado. Alguns militantes chegaram a tentar romper o cordão de isolamento feito pela tropa de choque e avançar para a praça que abriga o Grande Poste d'Alger.

Segundo a imprensa local, as forças policiais usaram canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão de manifestantes.

Opositores argelinos protestaram também em outras partes do mundo. Houve manifestações em Berlim, na Alemanha, e em algumas cidades francesas, incluindo Paris e Marselha.

Ato próximo à embaixada da Argélia em Berlim reuniu dezenas de pessoasFoto: DW

As grandes mobilizações contra a candidatura a um quinto mandato do atual presidente começaram em 22 de fevereiro em Argel, numa onda de atos cuja magnitude não era vista há décadas na capital argelina. Ao menos uma pessoa morreu durante confrontos.

Bouteflika está desde 1999 na presidência do país norte-africano, completando, assim, 20 anos no poder. Em 2013, o chefe de Estado sofreu um acidente cardiovascular agudo que o impediu de fazer campanha para as presidenciais de 2014.

Desde então, Bouteflika não fala em público e se locomove em uma cadeira de rodas. Suas aparições públicas são raras, limitadas a imagens gravadas pela emissora estatal durante os Conselhos de Ministros e por ocasião de visitas de altos dignitários estrangeiros.

Há cinco anos, o presidente argelino não viaja para compromissos no exterior. Nos dois últimos anos, cancelou de última hora, alegando recaídas de saúde, reuniões já confirmadas com nomes importantes da política mundial, como a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.

A oposição argelina acusa Bouteflika de ser um presidente "fantoche de militares", que apenas dá rosto civil a um governo comandado há décadas pelas Forças Armadas.

Bouteflika, de 82 anos, está há 20 anos no poderFoto: Getty Images/AFP/R. Kramdi

Boicote eleitoral da oposição

Além do atual presidente, outros seis nomes apresentaram suas candidaturas às eleições presidenciais previstas para 18 de abril. Por outro lado, o principal adversário de Bouteflika nos pleitos de 2004 e 2014, Ali Benflis, anunciou que não participará da corrida neste ano.

"O meu lugar e o seu não são em uma concorrência que o povo rejeita", afirmou Benflis neste domingo. Ele é presidente do partido opositor Talaie al Hurriyet e foi primeiro-ministro do próprio Bouteflika no gabinete formado entre 2001 e 2003.

Além de Benflis, outras duas figuras importantes da oposição decidiram não participar das eleições, aderindo a um boicote eleitoral convocado por dois grandes grupos oposicionistas. Foram eles Luisa Hanun, líder do Partido dos Trabalhadores (PT), e Abdelrrazek Makri, que encabeça o Movimento Social pela Paz (MSP).

EK/ap/efe/rtr

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