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Militares americanos na Alemanha, um legado da 2ª Guerra

16 de junho de 2020

Se se concretizar, plano de Trump de retirar tropas americanas da Alemanha marcaria grande mudança na relação de defesa entre os dois países e reformularia a base da presença militar dos EUA na Europa.

Soldados americanos na Alemanha
EUA mantêm mais militares que na Alemanha somente no JapãoFoto: picture-alliance/dpa/N. Armer

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira (15/06) que diminuirá significativamente a presença militar americana na Alemanha, segundo ele, de 52 mil para 25 mil soldados. "É um custo tremendo para os Estados Unidos", afirmou.

Contrariando os dados citados pelo presidente, segundo o Pentágono entre 34 mil e 35 mil soldados ocupam atualmente em caráter permanente as bases americanas em solo alemão. Se incluídas as unidades militares em rotação, o número pode chegar apenas temporariamente a 50 mil. Além do contingente militar, cerca de 17,5 mil civis americanos trabalham para o Departamento de Defesa dos EUA na Alemanha.

A República Federal da Alemanha tem sido parte vital da estratégia de defesa dos Estados Unidos na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial: durante dez anos as forças americanas integraram a ocupação dos Aliados no país. Embora o contingente tenha diminuído drasticamente desde então, nas décadas seguintes comunidades militares americanas se formaram em torno de diversas cidades, e os militares dos EUA ainda são uma presença importante no país.

A importância estratégica da Alemanha para os EUA se reflete na localização do quartel-general do Comando Europeu dos EUA (Eucom) na cidade de Stuttgart, no sudoeste do país, que serve como estrutura de coordenação partes todas as forças militares americanas em 51 países principalmente europeus.

A missão da Eucom é proteger e defender os EUA, impedindo conflitos, apoiando parcerias como a Otan e combatendo ameaças transnacionais. Sob seu comando estão o Exército, as Forças Aéreas e o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA na Europa, todos com unidades na Alemanha.

A Alemanha abriga a maior parte das tropas americanas na Europa. Só no Japão os EUA mantêm mais pessoal militar. No entanto os números vêm caindo nos últimos anos: dados do governo alemão mostram que, entre 2006 e 2018, o número de militares dos EUA estacionados na Alemanha diminuiu em mais da metade, de 72.400 para 33.250. Paralelamente, as forças americanas passaram a encarar uma situação de segurança global cada vez mais complexa.

Fuzileiros navais, soldados e aviadores

A Alemanha abriga cinco das sete guarnições do Exército americano na Europa (as outras duas estão na Bélgica e na Itália), e o quartel-general do Exército dos EUA na Europa está sediado na guarnição de Wiesbaden, próximo a Frankfurt, no centro-oeste do país.

Dados fornecidos pelas Forças Armadas dos EUA mostram que essas cinco guarnições, cada uma englobando várias bases em locais diferentes, compreendem atualmente cerca de 29 mil militares. Esse número inclui as Forças de Fuzileiros Navais da Europa e da África, com sede em Böblingen, sudoeste da Alemanha, como parte da Guarnição do Exército dos EUA em Stuttgart.

Além disso, há cerca de 9.600 funcionários da Força Aérea dos EUA espalhados por vários locais na Alemanha, incluindo as duas bases aéreas americanas em Ramstein e Spangdahlem.

Mais do que apenas soldados

Como as instalações militares dos EUA também empregam civis e militares por vezes podem levar suas famílias para o exterior, consideráveis comunidades de civis se formam em torno dessas instalações. Na verdade, algumas bases americanas na Alemanha, como a de Ramstein, são pequenas cidades autônomas, englobando não só quartéis, aeroportos, áreas para exercícios militares e depósitos de materiais, mas também seus próprios shoppings, escolas, serviços postais e força policial americanos. Em certos casos, a única moeda corrente é o dólar americano.

Atualmente, a guarnição do Exército dos EUA na Baviera, com quartel-general em Grafenwöhr, perto da fronteira com a República Tcheca, é a maior base do Exército americano no exterior, tanto em número de militares quanto em superfície, espalhando-se por mais de 390 quilômetros quadrados.

As bases também costumam empregar um número significativo de residentes e servem de impulso econômico às comunidades alemãs adjacentes, cujas empresas fornecem bens e serviços. O fechamento de instalações anteriores, como a guarnição do Exército em Bamberg em 2014, afetou a economia local, e muitos alemães que vivem perto de instalações militares americanas manifestam oposição a possíveis reduções de tropas.

Porém a extensão da presença militar dos EUA na Alemanha não se limita ao pessoal: o país também mantém aviões em outras bases aéreas não americanas em solo alemão. Além disso, calcula-se que 20 ogivas nucleares sejam mantidas na Base Aérea de Büchel, no âmbito do Acordo de Compartilhamento Nuclear da Otan, fato que suscitou muitas críticas por parte dos alemães.

Outra circunstância controversa é o uso da Base Aérea de Ramstein como central de controle de ataques com drones no Iêmen e em outros lugares.

Ocupação aliada do pós-guerra e seu legado

A presença militar dos EUA na Alemanha é um legado da ocupação aliada pós-Segunda Guerra Mundial, que durou de 1945 a 1955. Durante esse período, milhões de militares americanos, britânicos, franceses e soviéticos estiveram estacionados na Alemanha. A parte nordeste do país ficou sob controle soviético, tornando-se oficialmente a República Democrática Alemã (RDA) em outubro de 1949.

Na parte ocidental, a ocupação foi regulamentada pelo Estatuto da Ocupação, assinado em abril de 1949, quando foi fundada a República Federal da Alemanha. O estatuto permitiu que França, Reino Unido e EUA mantivessem forças de ocupação no país e o controle completo sobre o desarmamento e desmilitarização da antiga Alemanha Ocidental.

Quando a ocupação militar da República Federal da Alemanha (RFA) terminou oficialmente, o país recuperou o controle de sua própria política de defesa. No entanto, o Estatuto de Ocupação foi sucedido por outro acordo com seus parceiros na Otan. O pacto – conhecido como Convenção sobre a Presença de Forças Estrangeiras na República Federal da Alemanha e assinado pelos alemães em 1954 – permitiu que oito países-membros da Otan, incluindo os EUA, mantivessem presença militar permanente na Alemanha. O tratado ainda regula os termos e condições das forças da Otan estacionadas hoje na RFA.

O número de militares americanos na Alemanha vem diminuindo desde o fim da Guerra Fria, em 1990, quando, segundo Berlim, havia cerca de 400 mil soldados estrangeiros estacionados no país. Cerca de metade deles eram americanos, mas foram gradualmente retirados à medida que diminuíam as tensões com os Estados sucessores da União Soviética, e conflitos em outros lugares, como a guerra do Iraque, requeriam mais militares dos EUA.

 

 

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