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Protestos na Argélia

14 de fevereiro de 2011

Diferentemente do Egito e da Tunísia, força militar é contra manifestações na Argélia. Apoiando o presidente Abdelaziz Bouteflika, há 11 anos no poder, os militares não querem mudanças. A acusação de corrupção é óbvia.

Manifestantes ocupam ruas da capital ArgelFoto: AP

Abdelaziz Bouteflika era a grande esperança da Argélia quando, em 1999, foi eleito o presidente sucessor de Liamine Zéroual. Antes de concorrer ao posto, no entanto, Bouteflika, ex-ministro de Relações Exteriores, precisou exilar-se por longos anos devido a acusações de corrupção – fato que foi esquecido, ou ignorado.

Ainda não se sabe, até hoje, qual foi o papel do Exército na reabilitação de Bouteflika e, posteriormente, na sua candidatura. É claro, no entanto, que o líder tem um bom relacionamento com a força militar. Caso contrário, ele não teria ficado por tão longo período no poder e não teria conseguido impor as mudanças legislativas que deram a ele cada vez mais poder.

As manobras de Bouteflika também o ajudaram a assegurar, praticamente, o poder vitalício. A limitação original de dois mandatos legislativos foi suspensa, assim como a separação entre o chefe de Estado e o chefe de governo. O atual líder, de 73 anos, exerce ambas as funções. O primeiro-ministro, Ahmed Ouyahia, é subordinado a Bouteflika, e o Parlamento, na prática, não tem poder.

O aumento da insatisfação

Embora não se possa comparar a situação na Argélia com outros países do mundo árabe, os acontecimentos na Tunísia e no Egito levaram o líder argelino à reflexão: nem alterações na Constituição nem estado de emergência tampouco apoio dos militares podem garantir tal poder ilimitado duradouro. Por isso, Bouteflika já anunciou que quer revogar o estado de emergência, em vigor há 19 anos.

Mas isso não é o suficiente para evitar as manifestações dos argelinos insatisfeitos – os jovens, principalmente, que estão mais preocupados com o crescente problema do desemprego e da falta de oportunidades do que com a questão do estado de emergência que vigora no país.

O desemprego atinge pelo menos 30% da população e a mais afetada é a maioria jovem da nação – 60% da população tem menos de 30 anos. E, naturalmente, esse grupo se sentiu motivado pelos protestos organizados também por jovens na Tunísia e no Egito – mas os problemas, no entanto, são outros.

O poder dos militares

Soldados tentam conter manifestantesFoto: picture alliance/dpa

A posição dos militares é um fator importante: na Tunísia e no Egito, eles ficaram do lado dos manifestantes, ou mantiveram uma atitude neutra. Na Argélia, no entanto, a força militar representa o que se pode chamar respeitosamente de le pouvoir, ou seja, o poder.

Não só a política é dependente dos militares, mas também a economia e quase todas as áreas da vida pública. Protestar contra o presidente Bouteflika e pedir a sua renúncia representariam, de fato, manifestações contra o sistema em geral, mantido e assegurado pelos militares.

Os manifestantes, no entanto, evitam o confronto direto com o poder militar. Ainda é fresca a lembrança dos fatos que sucederam as eleições de 1991. Depois da admissão de 1988 partidos, o partido islâmico FIS venceu o pleito em dezembro de 1991 e, pouco depois, os militares intervieram e anularam as eleições. Foi o começo de uma violenta guerra civil, que durou seis anos. Mais de 100 mil argelinos morreram no confronto, marcado por enorme crueldade de ambos os lados.

Depois da guerra civil

Sob o governo do então recém-eleito presidente Bouteflika – e certamente com apoio e aprovação dos militares – iniciou-se em 1999 um programa de "reconciliação nacional", que prometia, entre outros, anistia a todos que abandonassem as armas.

Aos poucos, a situação se acalmou, mas a Argélia nunca foi apaziguada por completo. O núcleo mais resistente dos radicais islâmicos não esteve disposto a se render e, desde então, persegue o curso da organização Al Qaeda, que mantém um braço no Magreb. Ali existe um grupo que se autodenomina como tal.

A maioria dos argelinos, no entanto, aceitou o programa de reconciliação com gratidão. A população estava esgotada e cansada do massacre violento. Foi assim que, nos últimos anos, inimigos encarniçados se transformaram novamente em vizinhos – embora se saiba exatamente os crimes cometidos por cada um.

Com a crescente pacificação, os problemas sociais e econômicos começaram a se agravar novamente – o que contribuira para a vitória dos islâmicos em 1991. E os argelinos constatam que sua situação piora a cada dia, embora o país vá bem.

Riquezas e interesses

Riquezas: petróleo e gás no sul do paísFoto: picture alliance/dpa

A Argélia dispõe de grande reserva de petróleo e gás. O país se beneficia bastante do setor, principalmente em decorrência da estreita relação com os Estados Unidos e França. Os interesses dessas nações na Argélia ficaram praticamente intactos durante a guerra civil: o confronto se desenrolou no norte, onde se concentram os centros urbanos, enquanto que o petróleo e gás natural estavam bem seguros no sul do país. O setor corresponde a 60% do faturamento da Argélia e a 95% da receita com a exportação.

Com o aumento dos preços dos alimentos nos últimos meses, houve protestos com registro de mortos e feridos. O fato de a receita dos lucrativos negócios com petróleo e gás não chegarem até a população também motivou os novos protestos.

A acusação de corrupção é óbvia, assim como a suspeita de que os próprios militares se beneficiem e, consequentemente, impeçam qualquer exigência política com a violência. Quase 30 mil soldados foram mobilizados no último final de semana para conter os cerca de 300 a 10 mil manifestantes. Os números variam de acordo com a fonte, dependendo se eles vêm das autoridades ou dos manifestantes. Centenas de pessoas foram presas.

Assim como na Tunísia e no Egito, este não é um movimento de muçulmanos ou mesmo de simpatizantes de um islamismo politizado. Na Argélia, principalmente, sabe-se com clareza o que um conflito como esse pode gerar.

Autor: Peter Philipp (np)
Revisão: Carlos Albuquerque

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