Soldados iraquianos e milícias xiitas entram pelo norte da cidade. Ofensiva é a maior contra o "Estado Islâmico" no Iraque e importante passo para a retomada de Mossul.
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Soldados iraquianos e milícias xiitas entraram nesta quarta-feira (11/03) na cidade de Tikrit, uma das mais importantes áreas controladas pelo "Estado Islâmico" no Iraque. A operação é considerada um teste para as forças militares iraquianas e também a maior ofensiva contra os jihadistas no país.
Os militares entraram na cidade pelo bairro de Qadisiyya, no norte. Imagens de um vídeo obtido pela agência de notícias Associated Press mostram ataques aéreos lançados de um helicóptero, enquanto soldados e milícias abrem fogo com armas pesadas pelas ruas do bairro, cobertas de fumaça.
"Os terroristas estão tomando carros de civis e tentando fugir da cidade", relatou o policial Kheyon Rasheed, da província de Salah-ad-Din, cuja capital é Tikrit, à agência estatal de notícias Iraqiyya.
"As forças entraram no hospital de Tikrit. Há confronto intenso perto dos palácios presidenciais, próximo ao complexo hospitalar", afirmou um oficial no centro de comando militar.
A ofensiva foi lançada há cerca de dez dias e conta com cerca de 30 mil militares e milícias xiitas, apoiadas pelo Irã e conhecidas como Hashid Shaabi. Eles começaram o avanço a partir do leste e ao longo do rio Tigre. Na terça-feira, forças iraquianas retomaram a cidade de Al-Alam, nos arredores de Tikrit, consolidando o caminho para o ataque à capital.
Plano de retomar Mossul
Sob controle de "Estado islâmico" desde junho, Tikrit, a apenas 130 quilômetros de Bagdá, é uma das maiores cidades nas mãos dos jihadistas e está no caminho que conecta a capital iraquiana a Mossul. A ocupação de Tikrit será fundamental para que as forças iraquianas possam retomar Mossul – a segunda maior cidade do Iraque – das mãos dos terroristas.
Segundo militares americanos, uma ação militar coordenada para ocupar Mossul deve começar entre abril e maio, e envolverá 25 mil soldados iraquianos. O autodeclarado califado jihadista ocupa cerca de um terço do território do Iraque e da vizinha Síria.
Nas últimas 24 horas, forças da aliança liderada pelos Estados Unidos realizaram 13 ataques contra militantes do "Estado Islâmico" no Iraque e dois na Síria, segundo um oficial militar americano. Cinco ataques ocorreram contra Mossul e três próximos de Fallujah e Al-Qaim, destruindo prédios, veículos e artilharia dos extremistas, segundo nota divulgada pelos aliados.
Já os ataques na Síria destruíram dois veículos do EI próximos a Kobane e atingiram diversas bombas de petróleo perto da cidade de Hasakah.
MSB/ap/rtr
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.