Ministério alemão vai suspender projetos na Amazônia
10 de agosto de 2019
Em entrevista ao jornal "Tagesspiegel", ministra alemã do Meio Ambiente anuncia que, diante do aumento do desmatamento, vai congelar projetos de proteção florestal na Região Amazônica no valor de 155 milhões de reais.
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Devido ao forte aumento do desmatamento na Amazônia brasileira, o Ministério alemão do Meio Ambiente decidiu suspender o financiamento de projetos para a proteção da floresta e da biodiversidade, anunciou a ministra responsável pela pasta, Svenja Schulze, em entrevista ao jornal Tagesspiegel neste sábado (10/08).
"A política do governo brasileiro na Região Amazônica deixa dúvidas se ainda se persegue uma redução consequente das taxas de desmatamento", declarou a ministra ao jornal alemão, apontando que somente quando houver clareza, a cooperação de projetos poderá continuar.
Segundo a reportagem, num primeiro passo, trata-se de projetos no valor de 35 milhões de euros (cerca de 155 milhões de reais), provenientes da iniciativa para proteção climática do Ministério do Meio Ambiente em Berlim. De acordo com o órgão, desde 2008, já foram disponibilizados 95 milhões de euros (por volta de 425 milhões de reais) através dessa iniciativa para projetos de proteção florestal no Brasil.
"Embora o governo do presidente direitista, Jair Bolsonaro, esteja comprometido com o objetivo do Acordo Climático de Paris de reduzir o desmatamento ilegal de florestas a zero até 2030 e de iniciar o reflorestamento maciço, a realidade é outra", escreveu o jornal alemão. "Um dos maiores defensores de Bolsonaro é o lobby agrário."
O Tagesspiegel escreveu ainda: "A região amazônica é amplamente utilizada para o cultivo de soja para ração animal e para criação de gado. Por volta de 17% da Floresta Amazônica desapareceu nos últimos 50 anos, alertam os pesquisadores, uma perda de 20% a 25% poderia fazer com que o pulmão verde da Terra entrasse em colapso – ameaçando transformar a região numa vasta savana."
Para conter o desmatamento florestal, a Alemanha também apoia o Fundo Amazônia, onde o Ministério alemão da Cooperação Econômica já injetou até agora 55 milhões de euros (por volta de 245 milhões de reais). A suspensão de projetos atinge somente o financiamento do Ministério do Meio Ambiente em Berlim.
Com um volume de quase 800 milhões de euros (por volta de 3,5 bilhões de reais), a maior parcela do Fundo Amazônia é financiada pela Noruega e, uma pequena parte dele, pela Alemanha. O dinheiro se destina a projetos para reflorestamento, contenção do desmatamento e apoio à população indígena.
Segundo a reportagem do Tagesspiegel, o Ministério do Meio Ambiente em Berlim também defende que a participação alemã no Fundo Amazônia seja revista.
Criada em 1984, unidade de conservação foi concedida à iniciativa privada há dez anos. Serviço Florestal Brasileiro monitora cada árvore cortada.
Foto: DW/N. Pontes
Entre minério e Floresta Amazônica
Criada em setembro de 1984, a unidade de conservação Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia, nasceu para evitar que a região fosse destruída pela mineração. Estanho e cassiterita eram extraídos do local. A 112 km da capital Porto Velho, a floresta tem uma área de 223 mil hectares e recebeu o nome do rio que, na linguagem indígena, significa águas turvas.
Foto: DW/N. Pontes
Concessão história
Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, as florestas nacionais se enquadram na categoria de uso sustentável. A do Jamari foi a primeira no país a ser "alugada" para exploração de madeira. Os contratos de concessão foram assinados em 2008, e as atividades começaram dois anos depois. Das três áreas concedidas, duas estão ativas. Uma das empresas abandonou o contrato em 2011.
Foto: DW/N. Pontes
A cada 25 anos
Na área da Floresta Nacional do Jamari, 60 espécies de árvores de interesse comercial aparecem no inventário florestal das empresas. No entanto, dezenove são atualmente exploradas. As áreas sob concessão são divididas em 25 unidades menores, e apenas uma é explorada por ano. Quando as atividades acabam, a área é deixada intocada por 25 anos para que a regeneração natural ocorra.
Foto: DW/N. Pontes
Rastro da madeira legal
A gestão dos contratos de concessão é feita pelo Serviço Florestal Brasileiro. O órgão criou um sistema para rastrear toda a madeira que sai da floresta, chamado cadeia de custódia. Quando uma árvore é derrubada, uma plaquinha com um número é fixada no toco. E quando o produto chega ao consumidor, ele consegue rastrear e ver, num mapa, a origem exata da madeira na floresta.
Foto: DW/N. Pontes
Da floresta para a exportação
O que é extraído da Floresta Nacional do Jamari é trabalhado nas serrarias das concessionárias, em Itapuã do Oeste. Para fiscalizar se as toras estocadas no pátio condizem com o volume de madeira declarado, o Serviço Florestal desenvolveu uma técnica de medição feita com a ajuda de drones. Na serraria, a madeira é cortada de acordo com os pedidos dos clientes – cerca de 70% estão fora do Brasil.
Foto: DW/N. Pontes
Recuperação das primeiras áreas
Depois da assinatura dos contratos de concessão na Floresta Nacional do Jamari, em 2008, as primeiras árvores foram cortadas em 2010. Oito anos depois, a área de onde foram extraídas cerca de duas mil árvores apresenta boa recuperação vegetal. Na foto, o engenheiro florestal Evandro Muhlbauer, da Madeflona, confere a placa deixada numa das primeiras árvores extraídas.
Foto: DW/N. Pontes
Apreensão madeira ilegal
A retirada ilegal de madeira ainda é problema na Floresta Nacional do Jamari. Na foto, toras apreendidas se acumulam num antigo campo de futebol dentro da unidade de conservação. Uma recente operação de fiscalização comandada pelo Ibama destruiu dez caminhões e um trator usados nas atividades ilegais. Serrarias em municípios próximos, que recebiam a madeira, também foram fechadas.
Foto: DW/N. Pontes
Desmatamento em Rondônia
Segundo imagens de satélites captadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado de Rondônia é um dos que mais perderam cobertura vegetal no bioma amazônico. Em 2017, restavam 122 mil km2 de Floresta Amazônica no estado, área concentrada praticamente em unidades de conservação. A análise do Inpe mostra que a agricultura ocupou a maior parte do território da mata nativa.