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Saúde exonera diretor acusado de cobrar propina

30 de junho de 2021

Roberto Dias é afastado pouco depois de empresário denunciar cobrança de suborno para a compra de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, em entrevista à "Folha". CPI convocará o vendedor.

Roberto Ferreira Dias
Roberto Ferreira Dias está no Ministério da Saúde desde janeiro de 2019Foto: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil

O Ministério da Saúde anunciou na noite desta terça-feira (29/06) a exoneração do seu diretor de Logística, Roberto Ferreira Dias. 

O motivo da exoneração não foi explicitado no curto comunicado do Ministério. A exoneração foi publicada no "Diário Oficial da União" desta quarta-feira.

O anúncio ocorreu poucas horas depois de Dias ter sido acusado, por um empresário, de cobrar propina, em nome de "um grupo dentro do ministério", para que a pasta comprasse doses da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca.

A acusação foi feita em entrevista do empresário Luiz Paulo Dominguetti Pereira ao jornal Folha de S. Paulo, publicada nesta terça-feira. Dominguetti se apresentou como representante de uma empresa vendedora de vacinas, a Davati Medical Supply. 

Dominguetti declarou à Folha que Dias pediu um suborno de 1 dólar por cada dose da vacina para que o contrato fosse fechado. "Foi uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa", resumiu Dominguetti.

Dias está no Ministério da Saúde desde janeiro de 2019, ou seja, desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro. Na época, o ministro da Saúde era Luiz Henrique Mandetta. Dias também já foi indicado por Bolsonaro para chefiar a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), em outubro de 2020, mas a indicação não avançou por causa de denúncias de irregularidades num contrato, assinado por ele, para a compra de kits de testes de covid-19.

A Folha afirmou que Dias foi indicado para o cargo de diretor de Logística pelo líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros, que também foi acusado de envolvimento num esquema de corrupção na compra de vacinas, no caso a indiana Covaxin. Barros, contudo, nega ter indicado Dias.

A entrevista

O encontro entre Dias e Dominguetti ocorreu em 25 de fevereiro, num jantar num restaurante no Brasília Shopping, na zona central do Distrito Federal, relatou o empresário.

De acordo com ele, a Davati procurou o Ministério da Saúde brasileiro para negociar 400 milhões de doses da vacina contra a covid-19 da Astrazeneca, ao preço de 3,5 dólares por dose.

Dominguetti afirmou que Dias disse existir um grupo que trabalhava dentro do Ministério da Saúde e que era necessário "compor com esse grupo".

O representante da Davati salientou ao jornal ter recusado o pedido de suborno feito pelo diretor de Logística, acrescentando que, a partir daí, o Ministério da Saúde não quis avançar com o negócio.

Diante da negativa do empresário, Dias teria respondido: "Pensa direitinho, se você quiser vender vacina no ministério tem que ser dessa forma".

Além de Dominguetti e de Dias, estavam presentes mais duas pessoas no encontro. "E, olha, foi uma coisa estranha porque não estava só eu, estavam ele [Dias] e mais dois. Era um militar do Exército e um empresário lá de Brasília", disse o empresário.

A CPI da Pandemia anunciou que vai convocar Dominguetti a depor. O presidente da CPI, senador Omar Aziz, disse se tratar de uma denúncia forte, motivo pelo qual o depoimento deve ocorrer dentro de poucos dias.

Mais denúncias de corrupção

O governo do presidente Jair Bolsonaro está no centro de denúncias de corrupção na aquisição de vacinas, que começaram na semana passada com as declarações dos irmãos Miranda, o deputado federal Luis Miranda e o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda.

Eles declararam à CPI da Pandemia e à imprensa que alertaram o presidente da República para possíveis irregularidades no contrato de aquisição da Covaxin pelo Ministério da Saúde.

Luis Ricardo disse ter sofrido pressões incomuns para finalizar os trâmites de compra da vacina, mesmo tendo identificado falhas no processo e apesar de que o pagamento deveria ser feito a uma empresa com sede em Cingapura que não constava no contrato da compra.

As suspeitas de superfaturamento e pressão sobre servidores do Ministério da Saúde para que o negócio fosse aprovado se tornaram o principal foco da CPI da Pandemia, que investiga a gestão da pandemia pelo governo.

Nesta terça-feira, o Ministério da Saúde anunciou que vai suspender o contrato de compra de 20 milhões de doses da Covaxin, fabricada pelo laboratório indiano Bharat Biothec.

as/lf (Lusa, OTS)

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