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Ministro acusa Putin de guerra de informação contra Alemanha

3 de março de 2024

Intenção russa ao interceptar e vazar videoconferência entre altos oficiais sobre a guerra na Ucrânia seria minar a unidade política alemã, afirma chefe da Defesa. Conteúdo da conversa é, de fato, embaraçoso para Berlim.

Míssil de cruzeiro Taurus, de fabricação alemã
Mísseis de cruzeiro alemães Taurus são pomo da discórdia no episódio de vazamento de informaçõesFoto: MBDA/abaca/picture alliance

Na primeira reação oficial ao vazamento, por uma emissora estatal russa, de informações sensíveis relativas à segurança da Alemanha, o ministro da Defesa Boris Pistorius acusou neste domingo (03/03) Moscou de estar travando uma "guerra de informação".

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, estaria tentando "desestabilizar" a Alemanha, afirmou Pristorius à imprensa. "O objetivo é claramente minar a nossa unidade [...], semear a divisão política em casa. Espero sinceramente que Putin não tenha sucesso e que permaneçamos unidos." O incidente "é muito mais do que apenas a intercepção e divulgação de uma conversa, é parte de uma guerra de informação que Putin está travando".

Na sexta-feira, Margarita Simonyan, diretora da emissora estatal russa RT, divulgara na plataforma Telegram um áudio de 38 minutos em que quatro altos oficiais alemães, inclusive o chefe da Aeronáutica, tenente-general Ingo Gerhartz, debatiam a possibilidade de fornecer mísseis de longo alcance Taurus para a Ucrânia, o que seria necessário para permitir que as forças locais os utilizassem e o possível impacto deles.

Embaraço para Berlim

No áudio vazado, os oficiais consideram se os mísseis Taurus, de fabricação alemã, seriam capazes de destruir uma ponte – uma aparente alusão à nova ligação entre a península da Crimeia, sob ocupação russa, e o território do país invasor, através do Estreito de Kerch. Eles debatem ainda como se poderia fornecer aos ucranianos informações sobre alvos estratégicos sem se envolver diretamente no conflito com a Rússia.

O conteúdo dessa conversa confidencial é altamente embaraçoso para a Alemanha, que oficialmente se recusa a fornecer os mísseis a Kiev, temendo envolvimento maior naguerra na Ucrânia. Os oficiais também revelam pormenores sobre como o Reino Unido e a França estão ajudando o Exército ucraniano a utilizar os mísseis de cruzeiro Storm Shadow e Scalp-EG, que ambos os países forneceram a Kiev para o combate ao invasor.

Ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, acusa Moscou de semear discórdia internaFoto: Matthias Schrader/AP/picture alliance

No sábado, o Ministério da Defesa alemão confirmou a autenticidade do material. Ao que tudo indica, a gravação foi feita durante uma videoconferência, a qual, segundo a revista alemã Der Spiegel, não teria se realizado através de uma linha segura, mas pela plataforma Webex.

Em visita a Roma, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, descreveu a questão como "muito séria", prometendo que "agora será investigada de forma muito cuidadosa, intensa e rápida".

Por sua vez, a porta-voz do Ministério do Exterior russo, Maria Zakharova, exigiu de Berlim uma explicação "imediata", alegando que o áudio seria prova de uma "guerra híbrida" do Ocidente contra a Rússia.

Incidente isolado ou falha estrutural de segurança?

Até agora as autoridades alemãs têm evitado o termo "espionagem". A comissária especial do Bundestag (Parlamento) para assuntos militares, Eva Högl, apelou para a necessidade de os altos oficiais militares passarem por treinamento intensivo sobre comunicações seguras.

O presidente do grêmio de controle do Bundestag, Konstantin von Notz, comentou ser preciso determinar "se este é um incidente isolado ou um problema estrutural de segurança". O vice-presidente do comitê, Roderich Kiesewetter, disse crer que a Rússia vazou a interação para pressionar Berlim a não fornecer os Taurus para a Ucrânia. E antecipou: "Um número de outras conversas terá certamente sido interceptado e talvez vá ser revelado mais tarde, para beneficiar a Rússia."

Até o momento, Scholz tem se recusado a disponibilizar os mísseis de cruzeiro para a defesa contra os russos. Poucos dias atrás, argumentou que o alcance das armas e a provável necessidade de assistência por soldados da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) eram problemáticos, podendo ser interpretados como uma participação indireta na guerra.

av/as (AFP, Lusa, Reuters, DPA)