Opositores de medidas para conter a pandemia vêm se comparando a vítimas do regime de Hitler, como Anne Frank e Sophie Scholl. Para ministro Heiko Maas, manifestantes banalizam o Holocausto e zombam das vítimas.
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O ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, criticou neste domingo (22/11) os manifestantes que se opõem ao uso de máscaras e outras medidas para combater a pandemia. A crítica de Maas foi dirigida, sobretudo, aos opositores que vêm se comparando com vítimas do nazismo ou afirmando que o governo alemão vem se comportando como o regime de Adolf Hitler ao impor as medidas de distanciamento social.
Para Maas, essas comparações "banalizam o Holocausto" e "zombam" da coragem demonstrada pelos membros da resistência ao regime nazista (1933-1945).
A crítica de Maas ocorre após o discurso de uma participante de um "protesto anticorona" organizado pelo movimento Querdenken em Hannover, no sábado, ter viralizado na internet. Na sua fala, ela diz que se sentia "igual a Sophie Scholl" em sua "resistência" às medidas para conter a pandemia, citando a jovem estudante de Munique que foi executada pelos nazistas em 1943 por criticar o regime de Hitler.
A fala provocou uma série de críticas de usuários de redes sociais. Pelo Twitter, Maas disse: "Qualquer pessoa hoje em dia que se compare a Sophie Scholl ou Anne Frank está zombando da coragem necessária para enfrentar os nazistas."
"Isso banaliza o Holocausto e mostra uma amnésia histórica intolerável. Nada conecta os protestos com os membros da resistência. Nada!"
As imagens do protesto em Hanover ainda mostram que a fala causou revolta até mesmo no protesto. No vídeo, é possível ver um homem que trabalhava na segurança do evento interrompendo a mulher no palco após a fala. Em seguida, ele entregou seu colete de identificação. "Não estou trabalhando na segurança para ouvir essas bobagens." Ele também acusou a mulher de "minimizar o Holocausto". A jovem, que se identificou como Jana, de 22 anos, começou então a chorar e largou o microfone antes de sair do palco. O homem foi retirado pela polícia para evitar uma escalada de tensão.
Na semana passada, um episódio similar num protesto do movimento Querdenken Karlsruhe também atraiu críticas. Na ocasião, os organizadores arregimentaram uma menina de apenas 11 anos para ler um discurso. Na sua fala, ela se comparou à adolescente judia Anne Frank porque teve que comemorar seu aniversário em silêncio para evitar que os vizinhos soubessem que ela tinha convidado amigos para uma festa, violando as medidas de isolamento que restringem o número de visitas. "Eu me senti como se estivesse com Anne Frank no 'anexo secreto', onde eles tinham que ficar 'quietos como camundongos' para evitar a captura", disse a menina para uma multidão.
Anne Frank é uma das mais conhecidas vítimas do Holocausto. Entre 1942 e 1944, ela documentou, por meio de um diário, seu cotidiano familiar num esconderijo em Amsterdã, onde sua família levou uma existência claustrofóbica e silenciosa na esperança de ser não capturada pelos nazistas. Em 1944, a família foi descoberta. Anne morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945.
A comparação gerou indignação na cidade, com a polícia de Karlsruhe classificando a fala como "inadequada e de mau gosto". A promotoria local abriu uma investigação sobre o caso, e o conselho tutelar foi acionado para falar com os pais.
Nos últimos meses, a Alemanha tem sido palco de vários protestos contra as medidas impostas pelo governo alemão para controlar a pandemia. Esses protestos têm reunido uma massa de participantes diversa, como neonazistas, propagadores de teorias conspiratórias, adeptos de tratamento de esotéricos e até alguns membros da extrema esquerda, entre outros. Muitos se apropriaram de slogans usados por manifestantes durante a derrocada da antiga Alemanha Oriental, em 1989, como "Nós somos o povo". Nas manifestações, não é raro ver bandeiras usadas pela extrema direita e uma desconsideração praticamente total ao regulamento de uso de máscaras.
Desde o início da pandemia, a Alemanha acumulou cerca de 918 mil casos de covid-19. Os óbitos passam de 14 mil. Em comparação com vizinhos europeus, o país se encontra em uma situação relativamente mais calma. O país tem uma taxa de 16,96 mortes por 100 mil habitantes. A França, por exemplo, tem taxa de 72,54. O Reino Unido, 82,30.
Recentemente, no entanto, o número de novos casos da doença aumentou de maneira acelerada. Isso levou os governos federal e estaduais a impor um lockdown parcial, fechando restaurantes, bares, centros culturais e de lazer pelo mês de novembro. Mas ao contrário das restrições impostas no primeiro semestre, escolas e lojas foram autorizadas a permanecer em funcionamento.
A chanceler federal Angela Merkel e os governadores dos 16 estados alemães devem se reunir na próxima quarta-feira para analisar se medidas mais rígidas serão necessárias antes do Natal.
O movimento contra as medidas impostas para conter a pandemia não é apoiado pela maioria da população alemã. Uma pesquisa divulgada pela revista Der Spiegel nesta semana mostrou que sete em cada dez alemães são favoráveis a uma prorrogação das medidas.
Memoriais do Terror Nazista
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, diversos memoriais foram inaugurados na Alemanha para homenagear as vítimas do conflito e os perseguidos e mortos pelo regime nazista.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de concentração de Dachau
Um dos primeiros campos de concentração criados durante o regime nazista foi o de Dachau. Poucas semanas depois de Hitler chegar ao poder, os primeiros prisioneiros já foram levados para o local, que serviu como modelo para os futuros campos do Reich. Apesar de não ter sido concebido como campo de extermínio, em nenhum outro lugar foram assassinados tantos dissidentes políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Reichsparteitagsgelände
A antiga área de desfiles do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, denominada "Reichsparteitagsgelände", foi de 1933 até o início da Segunda Guerra palco de passeatas e outros eventos de propaganda do regime nazista, reunindo até 200 mil participantes. Lá está atualmente instalado um centro de documentação.
Foto: picture-alliance/Daniel Karmann
Casa da Conferência de Wannsee
A Vila Marlier, localizada às margens do lago Wannsee, em Berlim, foi um dos centros de planejamento do Holocausto. Lá reuniram-se, em 20 de janeiro de 1942, 15 membros do governo do "Terceiro Reich" e da organização paramilitar SS (Schutzstaffel) para discutir detalhes do genocídio dos judeus. Em 1992, o Memorial da Conferência de Wannsee foi inaugurado na vila.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de Bergen-Belsen
De início, a instalação na Baixa Saxônia servia como campo de prisioneiros de guerra. Nos últimos anos do conflito, eram geralmente enviados para Bergen-Belsen os doentes de outros campos. A maioria ou foi assassinada ou morreu em decorrência das enfermidades. Uma das 50 mil vitimas foi a jovem judia Anne Frank, que ficou mundialmente conhecida com a publicação póstuma do seu diário.
Foto: picture alliance/Klaus Nowottnick
Memorial da Resistência Alemã
No complexo de edifícios Bendlerblock, em Berlim, planejou-se um atentado fracassado contra Adolf Hitler. O grupo de resistência, formado por oficiais sob comando do coronel Claus von Stauffenberg, falhou na tentativa de assassinar o ditador em 20 de julho de 1944. Parte dos conspiradores foi fuzilada no mesmo dia, no próprio Bendlerblock. Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência Alemã.
Foto: picture-alliance/dpa
Ruínas da Igreja de São Nicolau
Como parte da Operação Gomorra, aviões americanos e britânicos realizaram uma série de bombardeios contra a estrategicamente importante Hamburgo. A Igreja de São Nicolau, no centro da cidade portuária, servia aos pilotos como ponto de orientação e foi fortemente danificada nos ataques. Depois de 1945 não foi reconstruída, e suas ruínas foram dedicadas às vítimas da guerra aérea na Europa.
Foto: picture-alliance/dpa
Sanatório Hadamar
A partir de 1941, portadores de doenças psiquiátricas e deficiências eram levados para o sanatório de Hadamar, em Hessen. Considerados "indignos de viver" pelos nazistas, quase 15 mil – de um total de 70 mil em todo o país – foram mortos ali com injeções de veneno ou com gás. O atual memorial engloba a antiga instituição da morte e o cemitério contíguo, onde estão enterradas algumas das vítimas.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento de Seelow
A Batalha de Seelow deu início à ofensiva do Exército Vermelho contra Berlim, em abril de 1945. No maior combate em solo alemão, cerca de 100 mil soldados das Wehrmacht enfrentaram o Exército soviético, dez vezes maior. Após a derrota alemã, em 19 de abril o caminho para Berlim estava aberto. Já em 27 de novembro de 1945 era inaugurado o monumento nas colinas de Seelow, em Brandemburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial do Holocausto
O Memorial ao Holocausto em Berlim foi inaugurado em 2005, em memória aos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Europa. Não muito distante do Bundestag (parlamento), 2.711 estelas de cimento de tamanhos diferentes formam um labirinto por onde os visitantes podem caminhar livremente. Uma exposição subterrânea complementa o complexo do Memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento aos Homossexuais Perseguidos
De formas inspiradas no Memorial do Holocausto e próximo a ele, o monumento aos homossexuais perseguidos pelo nazismo foi inaugurado em 27 de maio de 2008, no parque berlinense Tiergarten. Uma abertura envidraçada permite ao visitante vislumbrar o interior do monumento, onde um vídeo infinito mostra casais de homens e de mulheres que se beijam.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Monumento aos Sintos e Roma Assassinados
O mais recente memorial central foi inaugurado em Berlim em 2012. Em frente ao Reichstag, um jardim lembra o assassinato de 500 mil ciganos durante o regime nazista. No centro de uma fonte de pedra negra, está uma estela triangular: ela evoca a forma do distintivo que os prisioneiros ciganos dos campos de concentração traziam em seus uniformes.
Foto: picture-alliance/dpa
'Pedras de Tropeçar'
Na década de 1990, o artista alemão Gunter Demnig começou um projeto de revisão do Holocausto: diante das antigas residências das vítimas, ele aplica placas de metal onde estão gravados seus nomes e as circunstâncias das mortes. Há mais de 45 mil dessas "Stolpersteine" (pedras de tropeçar) na Alemanha e em 17 outros países europeus, formando o maior memorial descentralizado às vítimas do nazismo.