Ministro da Áustria propõe negar asilo a migrantes ilegais
5 de junho de 2016
Sebastian Kurz, ministro do Exterior austríaco, rechaça a entrada ilegal de refugiados por via marítima e defende a devolução a seus países. "Ser resgatado no mar não é bilhete para entrada na Europa", diz.
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Os migrantes que tentam entrar ilegalmente na Europa por meio de embarcações deveriam perder o direito de requerer asilo, declarou o ministro do Exterior da Áustria, Sebastian Kurz, em entrevista publicada neste domingo (05/06).
O governo austríaco prometeu adotar medidas mais severas acerca da imigração depois que o candidato populista de direita Norbert Hofer ficou por pouco de vencer a eleição presidencial em maio, refletindo a preocupação dos eleitores sobre a grave crise migratória no continente.
As centenas de milhares de migrantes que esperam no norte da África precisam entender que "ser resgatado no mar não é um bilhete de entrada para a Europa Central", declarou o político ao jornal austríaco Die Presse, revelando que, após o fechamento da rota dos Bálcãs, a Áustria também pretende dificultar a chegada de refugiados por via marítima.
"A União Europeia (UE) deveria definir claramente que qualquer um que tente entrar na Europa de forma ilegal perderá o direito de ser acolhido", acrescentou Kurz, argumentando que os pedidos de asilo deveriam ser feitos a partir de centros da ONU no norte da África.
Por outro lado, ele afirmou que a Europa teria de aumentar a ajuda em regiões de crise e acolher voluntariamente "os mais pobres dos pobres", sobretudo "mulheres, feridos, enfermos, fracos e grávidas". "Dessa forma, poderíamos limitar a imigração a uma dimensão gerenciável e também integrar essas pessoas."
Elogios a modelo polêmico da Austrália
O ministro ainda elogiou o modelo adotado pela Austrália de interceptar barcos com migrantes no mar, enviando-os de volta a seus países de origem ou mantendo-os em campos de refugiados em ilhas próximas até que seus pedidos de asilo sejam processados.
"Há um país com o qual podemos aprender. A Austrália tinha um problema similar, mas conseguiu decidir por si mesma quem tem permissão de ingressar, e não deixou essa decisão aos traficantes de pessoas", afirmou Kurz, de 29 anos.
"Claro que o modelo australiano não pode ser inteiramente copiado, mas o princípio básico poderia ser aplicado na Europa também", disse o político conservador. Para ele, migrantes vivendo em ilhas como Lesbos, na Grécia, seriam mais suscetíveis a voltar para casa do que aqueles que já têm um apartamento em Berlim ou Viena.
A Austrália tem sido duramente criticada por grupos defensores dos direitos humanos por enviar os refugiados interceptados no mar a acampamentos em Papua-Nova Guiné e Nauru, ou tentar realocá-los em países mais pobres, como o Camboja.
Líbia, ponto de partida
A Líbia, de onde atualmente parte a maioria dos barcos com refugiados, não quer que seja enviado de volta qualquer migrante, afirmou o primeiro-ministro do país, Fayez al-Sarraj, ao jornal alemão Welt am Sonntag neste domingo.
"Não aceitamos que a UE nos devolva migrantes. A Europa tem que encontrar maneiras para que eles sejam devolvidos a seus países de origem. Eles não podem viver conosco", disse o premiê.
No ano passado, estima-se que mais de 150 mil pessoas chegaram à Europa partindo da Líbia. Segundo fontes citadas pela agência de notícias dpa, atualmente há cerca de 1 milhão de refugiados em território líbio esperando para cruzar o Mediterrâneo em direção ao continente europeu.
EK/ap/dpa/rtr
Viagem à Europa da perspectiva de refugiados
Exposição em Hamburgo mostra longa jornada do ponto de vista dos migrantes, resultado do projeto #RefugeeCameras. Risco, desamparo e raros momentos de alegria permeiam as imagens.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Partida sem volta?
Em dezembro de 2015, o alemão Kevin McElvaney entregou 15 câmeras descartáveis e envelopes pré-selados a migrantes em Izmir, Lesbos, Atenas e Idomeni. Sete retornaram ao jovem fotógrafo e fazem parte do projeto #RefugeeCameras. Zakaria recebeu sua câmera em Izmir. O sírio fugiu do "Estado Islâmico" e do regime Assad. Em seu diário de fuga, ele escreve que só Deus sabe se ele voltará à Síria.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Travessia de bote
Zakaria documentou sua viagem marítima da Turquia até a ilha grega de Chios. Ele ficou sentado na parte de trás do bote. Na exposição em Hamburgo, as imagens feitas por refugiados são complementadas por uma seleção de fotos tiradas por profissionais, que ajudaram a montar a representação das rotas de fuga. Todos eles doaram suas obras para apoiar o projeto.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Chegada perigosa
Hamza e Abdulmonem, ambos da Síria, fotografaram a perigosa chegada de seu barco a uma ilha grega. Não havia voluntários para recebê-los. Foi justamente isso que McElvaney tinha em mente quando lançou a #RefugeeCameras. Segundo o jovem fotógrafo, até agora a mídia proporcionou somente um "vazio visual" a esse respeito.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sobrevivendo ao mar
Após o desembarque, vê-se um menino com roupas molhadas e colete salva-vidas numa praia. A imagem faz recordar Aylan Kurdi, o pequeno garoto sírio cujo corpo sem vida foi encontrado no litoral turco em setembro de 2015. A criança nesta foto conseguiu chegar viva à Europa. O seu destino é desconhecido.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sete câmeras
Hamza e Abdulmonem também tiraram esta foto instantânea levemente desfocada de um grupo de refugiados fazendo uma pausa. Das 15 câmeras que McElvaney entregou, sete retornaram, uma foi perdida, duas foram confiscadas, e duas permaneceram em Izmir, onde seus donos ainda estão retidos. As três câmeras restantes estão desaparecidas – assim como seus proprietários.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Família em foco
Dyab, um professor de Matemática sírio, tentou registrar alguns dos melhores momentos de sua viagem até a Alemanha. Na foto, veem-se sua esposa e seu filho pequeno, Kerim, que nos mostra um pacote de biscoito que recebeu num campo de refugiados macedônio. A imagem revela a profunda afeição de Dyab por seu filho, diz McElvaney: "Ele quer cuidar dele, mesmo na árdua viagem que foi forçado a seguir."
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Do Irã à Alemanha
A história de Said, do Irã, é diferente. O jovem teve de deixar seu país, depois de ter se convertido ao cristianismo. Ele poderia ter sido preso ou morto. Para ser aceito como refugiado, ele fingiu ser afegão. Após a sua chegada à Alemanha, ele explicou sua situação, para a satisfação das autoridades. Ele vive agora – como iraniano – em Hanau, no estado de Hessen.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Não apenas selfies
Said tirou esta foto de um pai sírio e seu filho num ônibus de Atenas a Idomeni.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Momento de alegria
Em outro registro feito por Said, um voluntário que trabalha num campo de refugiados em algum lugar entre a Croácia e a Eslovênia brinca com um grupo de crianças, que tentam imitar seus truques.