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Ministro alemão diz que "migração é mãe de todos problemas"

6 de setembro de 2018

Seehofer volta a bater de frente com Merkel ao expressar compreensão com manifestantes de Chemnitz e diz que, se não fosse ministro, também teria saído às ruas.

Seehofer também é uma das principais figuras da União Social Cristã (CSU), tradicional aliada da CDU e Merkel
Seehofer também é uma das principais figuras da União Social Cristã (CSU), tradicional aliada da CDU e MerkelFoto: picture-alliance/dpa/R. Hirschberger

O ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, voltou a bater de frente com a chanceler federal Angela Merkel ao afirmar a correligionários, nesta quinta-feira (06/09), que a migração é a "mãe de todos os problemas" na Alemanha.

A declaração foi feita às margens de um encontro do seu partido, a União Social Cristã (CSU), em Neuhardenberg e repetida mais tarde em entrevista ao jornal Rheinische Post. "Já venho dizendo isso há três anos", afirmou.

Merkel disse ver a questão de outra maneira. "A questão migratória cria desafios para a Alemanha, e temos enfrentado problemas, mas também temos obtido sucessos", declarou à emissora RTL.

Seehofer disse ainda que, "se não fosse ministro, também teria saído às ruas em Chemnitz", em referência às recentes manifestações motivadas pelo assassinato de um cidadão alemão de 35 anos. Dois imigrantes, um da Síria e o outro do Iraque, são acusados do crime. O ministro, porém, ressalvou que não marcharia ao lado de extremistas de direita.

Vídeos mostram manifestantes agredindo verbalmente ou incitando à violência contra estrangeiros durante os protestos na cidade. Vários políticos alemães, incluindo Merkel, criticaram duramente os acontecimentos e falaram em perseguição e incitação ao ódio contra estrangeiros. Seehofer, porém, manteve-se calado.

Nesta quinta-feira, ele disse compreender os manifestantes que saíram às ruas da cidade e lembrou que na origem dos protestos está um crime, que chamou de brutal. Se as pessoas se revoltam diante disso, não podem ser chamadas de nazistas, acrescentou. Segundo ele, muitos alemães associam suas preocupações sociais à imigração.

As declarações foram dadas a poucas semanas das eleições estaduais de 14 de outubro na Baviera, onde a CSU pode perder a maioria no legislativo diante do avanço da AfD e também do Partido Verde. Os líderes da CSU veem a AfD como principal ameaça e adotaram a estratégia de endurecer o discurso na questão migratória.

Pesquisa recente colocou a CSU com 36%, a AfD com 14% e o Partido Verde com 15%. Na eleição anterior, em 2013, a CSU conquistara 47,7%.

Seehofer é o presidente da CSU, um partido conservador que só existe na Baveira e é tradicional aliado da União Democrata Cristã (CDU), de Merkel.

"Pela primeira vez temos um partido à direita da União [CDU/CSU], que pode conseguir se estabelecer no médio prazo, um país dividido e falta de apoio aos partidos majoritários na sociedade", observou. Segundo ele, se não houver uma mudança de curso, os partidos políticos tradicionais vão perder ainda mais a confiança da população.

Ainda sobre os incidentes em Chemnitz, o ministro disse que deve haver "tolerância zero" contra quem incitar ou cometer atos de violência, também contra policiais. "Isso é inaceitável", afirmou, reiterando que esse critério deve valer para todos, sem exceção. Ele disse ainda que atitudes como fazer a saudação nazista durante os protestos devem ser punidas pela Justiça.

O ministro voltou a defender sua controversa proposta de reforçar o controle das fronteiras no país, afirmando que, se tivesse sido aprovada, um dos suspeitos do assassinato em Chemnitz não teria entrado na Alemanha. "Se tivéssemos a regulamentação pela qual tanto lutei, o suspeito iraquiano não teria entrado no país. Ele já tinha pedido asilo na Bulgária em 2014 e poderia ter sido rejeitado na fronteira", destacou, ressaltando que são casos como esse que "custam a confiança dos cidadãos".

Desde que assumiu o ministério do Interior, no quinto governo Merkel, Seehofer vem defendendo uma posição mais dura em relação à migração, distante da abordagem da chanceler federal. Há poucos meses, o ministro protagonizou uma queda de braço com Merkel sobre a política migratória do governo federal que chegou a ameaçar a continuidade da coalizão governista.

As declarações do ministro não agradaram a liderança do Partido Social-Democrata (SPD), parceiro da CDU/CSU na coalizão governista. O secretário-geral da legenda, Lars Klingbeil, as qualificou de "baboseiras populistas de direita" e disse se perguntar se Seehofer não é "o pai de muitos problemas".

O vice-líder do SPD Ralf Stegner afirmou que Seehofer deveria renunciar se não souber ser o ministro do Interior de todos os alemães. "O senhor ministro da Heimat se esquece que a Alemanha liberal, tolerante e constitucional se tornou a Heimat de muitas pessoas. A diversidade é a nossa força."

RC/dpa/apd/afp/rtr

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