Novo diretor da Ancine tem que ser conservador, diz ministro
12 de setembro de 2019
Segundo Osmar Terra, indicado para chefiar agência de cinema tem que ser "conservador nos costumes e liberal na economia". Fala ocorre um dia depois de o governo decidir cortar 43% do fundo de fomento da agência.
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O ministro da Cidadania, Osmar Terra, afirmou nesta quinta-feira (12/09) que o novo diretor da Agência Nacional do Cinema (Ancine) terá um perfil conservador, "tal como o atual governo".
"Esse governo é conservador nos costumes e liberal na economia. Então [o indicado] tem que ter um perfil, já estamos indicando uma pessoa para a Ancine, vai vagar uma diretoria agora em outubro e será indicada outra pessoa e vamos ver quem é o melhor nome pra isso", declarou o chefe do ministério, que tem a tutela da Ancine.
Ele lembrou que a Ancine é formada por quatro diretorias e o presidente é escolhido entre os ocupantes. Terra confirmou que para uma vaga já foi indicada a diplomata de carreira do Itamaraty Paula Alves de Souza.
A fala do ministro ocorre um dia depois de o governo anunciar um corte de quase 43% do orçamento de 2020 do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), a principal fonte de fomento de produções audiovisuais no país. Se o projeto for aprovado pelo Legislativo, no próximo ano o fundo receberá 415,3 milhões de reais, a menor dotação desde 2012.
Desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o cargo, a Ancine tem sido alvo constante de ataques do governo. Em agosto, o presidente disse que queria um nome "terrivelmente evangélico" para comandar a agência. Em tom de ironia, afirmou ainda que o indicado precisava saber "recitar 200 versículos, ter uma Bíblia embaixo do braço e o joelho ralado de ajoelhar no milho".
Em julho, ele também afirmou que pretende limitar a produção cinematográfica de filmes como Bruna Surfistinha, um longa-metragem de 2011 que retrata a vida de uma prostituta. O presidente também deixou claro que é favorável a implementação de "filtros" para impedir o financiamento desse tipo de filme.
"Vai ter um filtro, sim. Já que é um órgão federal, se não puder ter filtros, nós iremos extinguir a Ancine. Privatizaremos (...) ou extinguiremos", ameaçou. A atitude repercutiu mal entre cineastas, que classificaram os planos do presidente como uma tentativa de impor uma censura na agência.
Ainda em julho, Bolsonaro assinou a transferência do Conselho Superior de Cinema, responsável pela política nacional de audiovisual, do Ministério da Cidadania para a pasta da Casa Civil com o objetivo de que a Presidência tenha mais influência sobre o colegiado.
A Ancine é uma agência reguladora que tem como funções o fomento, a regulação e a fiscalização do mercado do cinema e do audiovisual no Brasil. No passado, a agência esteve sob a alçada do Ministério da Cultura, até a extinção da pasta por parte de Bolsonaro.
O atual diretor e presidente da Agência Nacional do Cinema, Christian de Castro, foi afastado do cargo no final do mês passado, por decisão judicial, tendo sido acusado pelo Ministério Público de associação criminosa, violação de sigilo funcional, prevaricação, e crimes contra a honra e denúncia caluniosa.
A partir do ano 2000, chegaram às telas filmes de cineastas associados ao que se chamou de "segunda geração da Escola de Berlim", além de uma vertente do cinema alemão impulsionada por diretores filhos de imigrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/Les Film du Losange
Caixa preta Alemanha
O documentário de Andres Veiel, de 2001, apresenta dois personagens paralelos: Alfred Herrhausen, presidente do Deutsche Bank, morto em um atentado em 1989; e o terrorista Wolfgang Grams, morto em confronto com a polícia. O diretor busca depoimentos de pessoas próximas aos dois e esboça um retrato da sociedade alemã à sombra do terrorismo da RAF: "A luta passou, mas as feridas continuam abertas."
Foto: X Verleih
Adeus, Lênin!
Nesta comédia de 2003, o diretor Wolfgang Becker revisita a queda do Muro de Berlim através da história da família Kerner. E brinca com as diferenças culturais entre as ex-Alemanhas Oriental e Ocidental. O filme recebeu diversos prêmios, entre eles o de melhor filme europeu do ano e se tornou um dos maiores sucessos de público da história recente do cinema alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Contra a parede
O filme de Fatih Akin recebeu o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim em 2003. O diretor volta mais uma vez os olhos para suas raízes, ao contar a inusitada história de amor entre dois jovens turcos na Alemanha, que lutam para se libertar das amarras das tradições familiares. A premiação marcou a consagração de Akin como um dos principais diretores do país.
Foto: picture alliance/dpa
Marselha
Angela Schanelec, uma das diretoras da "Escola de Berlim", traça, em seu longa de 2004, o retrato de uma geração perdida entre lugares, pessoas, idas e vindas, emoções contrárias. Adepta de uma linguagem cinematográfica elíptica e de rigor formal, e amante confessa do cinema de Robert Bresson, Schanelec "documenta" o cotidiano das personagens em seus filmes de ficção.
Foto: peripherfilm/R.Vorschneider
Edukators
"Edukators", de 2005, dirigido por Hans Weingartner, encerrou o longo jejum de filmes alemães no Festival de Cannes, tendo sido posteriormente bem recebido em muitos países. A narrativa em torno do amor, da amizade e da rebeldia serve como alerta à sociedade de que por trás de uma suposta vida feliz e perfeita podem se ocultar sinais de uma ordem mundial nada justa e igualitária.
Foto: picture alliance/dpa
A vida dos outros
O longa-metragem dirigido por Florian Henckel von Donnersmark sobre as atividades da Stasi, a polícia secreta da ex-Alemanha Oriental, levou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Ao refletir sobre a vigilância estatal, o filme de 2006 apresenta uma narrativa que não reconstrói contextos reais, mas cria uma parábola sobre as possibilidades de resistência aos mecanismos de um Estado repressor.
Foto: picture-alliance/dpa/Buena Vista
Yella
Dirigido por Christian Petzold, um dos nomes da chamada Escola de Berlim, "Yella" (2007) coloca na tela os bastidores do mercado financeiro, com suas imagens, atitudes, valores e riscos. Segundo o próprio diretor, as contradições do neoliberalismo são justamente as contradições da protagonista, que deixa sua pequena cidade no Leste alemão para trabalhar no Oeste com empresários inescrupulosos.
Foto: Hans Fromm
13 curtas sobre o estado do país
Inspirado no projeto coletivo anterior "Alemanha no Outono" (1978), os 13 curtas-metragens radiografaram em 2009 os problemas do país em 140 minutos – desde o fantasma da vigilância até as heranças do nazismo e do terrorismo. Com cineastas como Fatih Akin, Wolfgang Becker, Tom Tykwer e Hans Weingartner, a seleção marcou os 50 anos do fim da Guerra Fria e os 20 anos de queda do Muro de Berlim.
Foto: Piffl Medien GmbH
A fita branca
Produção alemã de 2009 dirigida pelo austríaco Michael Haneke, "A fita branca" levou a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Em preto e branco, ele traça um panorama da sociedade europeia às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o prenúncio de catástrofes iminentes. "Uma história infantil alemã", subtítulo do filme, remete tanto à "violência infantil" como à "infância" do nazismo do país.
Foto: picture-alliance/dpa/Les Film du Losange
Todos os outros
Rituais secretos, brincadeiras, desejos não realizados e jogos de poder permeiam as relações do casal que protagoniza este filme dirigido em 2009 pela cineasta Maren Ade. "Todos os outros", apontado como um dos mais franceses entre os filmes alemães, é um impressionante exercício de observação e sutileza sobre o amor e suas inerentes decepções, das quais ninguém escapa.