Ministro espanhol defende ação policial na Catalunha
15 de novembro de 2017
Em entrevista exclusiva ao talk show político "Conflict Zone" da DW, ministro do Exterior espanhol, Alfonso Dastis, admite que Madri subestimou os separatistas catalães e que eles desrespeitaram a democracia.
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O ministro das Relações Exteriores da Espanha, Alfonso Dastis, participou do programa Conflict Zone da DW para falar sobre a crise política na Catalunha e defendeu a ação da polícia espanhola, acusada de usar de força excessiva contra separatistas catalães.
Dastis alegou ao jornalista Tim Sebastian – entrevistador e moderador do Conflict Zone – que o Estado espanhol ofereceu um diálogo aberto com a Catalunha até o fim. "Vamos proteger os direitos daqueles que vivem na Catalunha para que permaneçam catalães, espanhóis e europeus", disse.
O ministro também aproveitou para defender a ação policial, criticada por ter abusado da violência durante protestos de separatistas catalães. "Pode ter havido casos de força, mas não se tratou de força excessiva e não foi uma força deliberada, foi uma reação a provocações de pessoas que a impediram [a polícia] de cumprir o mandato que receberam dos tribunais", afirmou Dastis.
Ele disse que os incidentes não são comparáveis ao "Domingo Sangrento da Irlanda do Norte ou a qualquer coisa desse tipo" – em 1972, houve um confronto entre manifestantes católicos, protestantes e o Exército inglês, em Derry, com 14 mortos. Dastis negou que o governo espanhol estivesse detendo informações sobre as investigações. "As coisas estão sendo analisadas e investigadas. Não acredito que haja nenhuma ocultação."
O ministro sublinhou que a Espanha possui um histórico muito positivo em relação ao respeito aos direitos humanos de sua população. "Estamos prontos para sermos escrutinados e há outros países que não aceitam [ser escrutinados]."
No entanto, Dastis admitiu que o governo Mariano Rajoy "pode ter sido um pouco ingênuo" em relação à questão diplomática com a Catalunha. "Não pensamos que essas pessoas fossem chegar tão longe a ponto de provocar a situação de divisão e fragmentação. Mas isso é simplesmente a responsabilidade deles", afirmou.
"Nós os acusamos de ações, que foram julgadas por todos e por qualquer pessoa sensata, de flagrante desrespeito às leis da democracia", disse Dastis. "O que você pode esperar de pessoas que simplesmente eliminaram as regras do Parlamento e a opinião dos serviços públicos?"
"Os chamados direitos de autodeterminação das pessoas não existem no contexto de Estados que se comportam sem discriminar pessoas", afirmou o ministro. "Há direitos que não existem, no entanto, há quem afirme que eles existem."
Em relação ao ex-líder catalão Carles Puigdemont, o ministro das Relações Exteriores da Espanha disse que ele "simplesmente pensa que ele está certo e que todos os outros estão errados": "Acredito honestamente que a verdade é o contrário." Dastis acrescentou que Puigdemont "não tomou conhecimento das necessidades dos catalães".
Questionado sobre as próximas eleições de dezembro na Catalunha, Dastis disse: "Mostramos que queremos que a democracia vença na Catalunha e que deixamos o povo catalão votar. Veremos o que acontece".
Os jornalistas Tim Sebastian e Michel Friedman se revezam na apresentação do programa de entrevistas da DW Conflict Zone com figuras importantes do cenário político da Alemanha e do mundo. O talk show é transmitido todas as quartas-feiras e todas as edições estão disponíveis na página em inglês da DW.
PV/dw
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Breve história da Catalunha
Desejo de independência da Espanha é acalentado pelos catalães há muito tempo. Ao longo dos séculos, região experimentou vários graus de autonomia e repressão.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/F. Seco
Antiguidade rica
A Catalunha foi habitada por fenícios, etruscos e gregos, que estiveram nas áreas costeiras de Rosas e Ampúrias (acima). Depois vieram os romanos, que construíram mais assentamentos e infraestrutura. A Catalunha foi uma parte do Império Romano até ser conquistada pelos visigodos, no século 5.
Foto: Caos30
Condados e independência
A Catalunha foi conquistada pelos árabes no ano 711. O rei franco Carlos Magno interrompeu o avanço deles em Tours, no rio Loire, e em 759 o norte da Catalunha se tornou novamente cristão. Em 1137, os condados que compunham a Catalunha iniciaram uma aliança com a Coroa de Aragão.
Foto: picture-alliance/Prisma Archiv
Guerra e perda de território
No século 13, as instituições de autoadministração catalã foram criadas sob o nome Generalitat de Catalunya. Depois da unificação da Coroa de Aragão com a de Castela, em 1476, Aragão pôde manter suas instituições autônomas. No entanto, a revolta catalã – de 1640 a 1659 – fez com que partes da Catalunha fossem cedidas à atual França.
Foto: picture-alliance/Prisma Archivo
Lembrando a derrota
No final da Guerra da Sucessão, Barcelona foi tomada, em 11 de setembro de 1714, pelo rei espanhol Felipe 5°, as instâncias catalãs foram dissolvidas e a autoadministração chegou ao fim. Todos os anos, em 11 de setembro, os catalães fazem uma grande comemoração para lembrar o fim do seu direito à autonomia.
Foto: Getty Images/AFP/L. Gene
República passageira
Após a abdicação do rei Amadeo 1°, da Espanha, a primeira república espanhola foi declarada em fevereiro de 1873. Ela durou apenas um ano. Os partidários da república estavam divididos, com um grupo apoiando uma república centralizada e outros, um sistema federal. A foto mostra Francisco Pi y Maragall, um partidário do federalismo e um dos cinco presidentes da república de curta duração.
Foto: picture-alliance/Prisma Archivo
Tentativa fracassada
A Catalunha tentou estabelecer um novo Estado dentro da república espanhola, mas isso apenas exacerbou as diferenças entre os republicanos e os enfraqueceu. Em 1874, a monarquia e a Casa de Bourbon, liderada pelo rei Afonso 12 (foto), retomaram o poder.
Foto: picture-alliance/Quagga Illustrations
Direitos de autonomia
Entre 1923 e 1930, o general Primo de Rivera liderou uma ditadura – com o apoio da monarquia, do Exército e da Igreja. A Catalunha se tornou um centro de oposição e resistência. Após o fim do regime, o político Francesc Macia (foto) conseguiu impor direitos importantes de autonomia para a Catalunha.
Fim da liberdade
Na Segunda República Espanhola, os legisladores catalães trabalharam no Estatuto de Autonomia da Catalunha, aprovado pelo Parlamento espanhol em 1932. Francesc Macia foi eleito presidente da Generalitat de Catalunha pelo Parlamento catalão. No entanto, a vitória de Franco no fim da Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939) acabou com tudo isso.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Opressão
O ditador Francisco Franco governou com mão de ferro. Partidos políticos foram proibidos, e a língua e a cultura catalãs, reprimidas.
Foto: picture alliance/AP Photo
Novo estatuto de autonomia
Após as primeiras eleições parlamentares que se seguiram ao fim da ditadura de Franco, a Generalitat da Catalunha foi provisoriamente restaurada. Sob a Constituição democrática espanhola de 1978, a Catalunha recebeu um novo estatuto de autonomia, apenas um ano depois.
O novo estatuto de autonomia reconheceu a autonomia da Catalunha e a importância da língua catalã. Em comparação com o estatuto de 1932, ele apresentou avanços nos campos da cultura e educação, mas restrições no âmbito da Justiça. A foto é de Jordi Pujol, que foi por longo tempo chefe de governo da Catalunha depois da ditadura.
Foto: Jose Gayarre
Anseio por independência
O desejo por independência da Espanha se tornou mais forte nos últimos anos. Em 2006, a Catalunha recebeu um novo estatuto, que ampliou ainda mais os poderes do governo catalão. No entanto, eles são perdidos após uma queixa levada pelo conservador Partido Popular ao Tribunal Constitucional espanhol.
Foto: Reuters/A.Gea
Primeiro referendo
Um referendo sobre a independência estava previsto para 9 de novembro de 2014. A primeira questão era "você quer que a Catalunha se torne um Estado?" No caso de uma resposta afirmativa, a segunda pergunta era "você quer que esse Estado seja independente?" No entanto, o Tribunal Constitucional suspendeu a votação.
Foto: Reuters/G. Nacarino
Luta de titãs
Desde janeiro de 2016, Carles Puigdemont é o presidente do governo catalão. Ele deu continuidade ao curso separatista de seu antecessor, Artur Mas, e convocou um novo referendo para 1° de outubro de 2017. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, disse que a consulta é inconstitucional.