Misereor faz 50 anos
17 de agosto de 2008No dia 17 de agosto de 1958, o cardeal de Colônia, Joseph Frings, fez um discurso durante uma conferência bispal em Fulda, no qual anunciava uma grande ação contra a pobreza e a lepra no mundo, com base numa passagem do Evangelho de Marcos: "Misereor super turbam", latim para "estou com pena do povo".
Estavam lançadas as bases para a Misereor, organização da Igreja Católica alemã para a ajuda ao desenvolvimento, que completa meio século de existência neste domingo (17/08). São 50 anos de ajuda direta, mas também de muita influência política ao criticar, por exemplo, injustiças do comércio mundial.
Até hoje, a Misereor permaneceu focada na execução de projetos concretos, que desde 1958 já somam 94,5 mil, com um volume de investimento de 5,5 bilhões de euros.
Mais transparência
Se em 1959 a organização recolheu 34 milhões de marcos em doações, no ano passado esse total chegou a 80 milhões de euros. Mas tais doações, das quais a organização em parte depende, já não são mais fáceis de se obter como antes, alerta Martin Bröckelmann-Simon, do departamento de cooperações internacionais da Misereor.
"Por mais que isso pareça muito, ainda somos obrigados a recusar 50% dos pedidos de ajuda que recebemos por não darmos conta", alerta. "Antigamente, podíamos contar que a filiação à Igreja Católica levava automaticamente à contribuição para instituições como a Misereor. Hoje não é mais assim e temos que lutar por doadores, informá-los de nosso trabalho. A transparência e a prestação de contas se tornaram muito importantes."
Além das doações, hoje uma parcela de 8% do financiamento da Misereor é obtida através do imposto eclesiástico, com o qual as igrejas financiam seu trabalho e suas instituições, e outra de 50% é proveniente do Ministério do Desenvolvimento, que em seu orçamento de 2007 previa 149,4 milhões de euros para as principais Igrejas – a Católica e a Protestante.
Luta para manter autonomia
Desde que foi criada, a Misereor sempre foi capaz de manter sua autonomia, negociando diretamente com seus parceiros em países em desenvolvimento. No entanto, há hoje o receio, dividido com organizações não governamentais de todo o mundo, de que uma possível reforma obrigue qualquer ajuda ao desenvolvimento a ser paga diretamente a um Estado.
Para a Misereor, o controle parlamentar é necessário, mas não deveria atrapalhar os esforços de descentralização em curso em muitas nações em desenvolvimento.
"Uma das lições que aprendemos nos últimos 50 anos é que desenvolvimento não se pode comprar", alerta Bröckelmann-Simon. "Claro que o financiamento é importante. Mas é também preciso assegurar uma certa coerência, a fim de evitar que a política agrária ou comercial anule aquilo que a ajuda ao desenvolvimento construiu com muito esforço."