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Afeganistão

21 de março de 2011

Tropas da Otan começam transferência gradual de responsabilidade sobre a segurança do Afeganistão para Exército e polícia locais. Ministério da Defesa afegão e especialistas consideram plano de retirada prematuro.

Plano de retirada deve estar completo até 2014Foto: AP

Segundo palavras do presidente afegão, Hamid Karzai, o 21 de março passará a ser um dia de alegria. Neste, que é o primeiro dia do ano afegão, foi anunciado o fim da missão internacional no Afeganistão. Uma missão iniciada após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, com a guerra contra a rede terrorista Al-Qaeda e o regime talibã, e que ainda não chegou ao fim.

Mesmo assim, Karzai anunciou pessoalmente num grande evento os primeiros locais em que a polícia local e as unidades do exército devem assumir a responsabilidade pela segurança.

No Ministério da Defesa do Afeganistão, porém, a alegria não é tão perceptível. Eshaq Peiman, alto funcionário do órgão, teme que a atual infraestrutura dos soldados afegãos não será suficiente para lidar com a nova tarefa. "O nosso exército está equipado com armas leves, segundo os padrões da Otan. Mas no departamento de armas pesadas a situação é completamente diferente: faltam-nos, por exemplo, unidades de artilharia e de mísseis", diz Peiman.

EUA prometem auxílio

Karzai considera retirada uma conquista para o AfeganistãoFoto: AP

O exército afegão conta, no momento, cerca de 155 mil soldados. Nos próximos três anos, outros 90 mil devem se unir às forças locais de segurança. Até o final de 2014, os Estados Unidos pretendem investir mais de 10 bilhões de dólares em equipamento e treinamento das Forças Armadas afegãs. Ainda não se pode avaliar se a quantia será suficiente, diz Eshaq Peiman, pois a situação atual do Exército é ruim.

Más também seriam as condições da polícia, explica o Ministro do Interior do Afeganistão, Bismillah Muhammadi: "Ainda não temos condições de nos defendermos sozinhos. Não temos as armas necessárias, falta também o treinamento necessário. É verdade que o número de policiais está aumentando, mas quantidade não é qualidade", declarou.

O ministro do Interior sabe que, com os atuais 122 mil policiais, não é possível cuidar da segurança de um país em crise como o Afeganistão. Desde a derrota no final de 2001, os talibãs estão mais unidos do que nunca. O ano passado teve o maior número de vítimas da década. Segundo informações das Nações Unidas, 2.777 afegãos inocentes foram mortos em batalhas e atentados em 2010. Para o ano corrente ainda não há qualquer melhora em vista. Por isso, muitos consideram prematura a transferência de responsabilidade pela segurança do país. Entre esses críticos, está Muhammad Arif Scharifi, da província Sare Pol, no centro do Afeganistão.

"Nos últimos nove anos, as nossas forças de segurança não conseguiram desenvolver a força necessária para defender o país. No momento, elas não estão absolutamente em condições de combater os talibãs e outros terroristas. E isso vale em especial para as unidades policiais aqui em Sare Pol."

Situação embaraçosa para Alemanha e EUA

Tropas lideradas pela OTAN estão no país desde 2003Foto: AP

Palavras pouco agradáveis de ouvir para a Alemanha e os Estados Unidos, os quais trabalham há quase dez anos para recuperar as forças policiais no Afeganistão. Após a Conferência sobre o Afeganistão, realizada em Bonn em 2001, a Alemanha assumiu papel de liderança na capacitação da polícia do país asiático. Nos últimos nove anos, instrutores alemães treinaram mais de 30 mil policiais afegãos.

"Foi uma grande ajuda, mas ela precisaria continuar, para ter um efeito de longo prazo", diz Muhammadi, que também é crítico ao plano de retirada das tropas lideradas pela Otan até o final de 2014. Para ele, ainda faltam detalhes importantes.

"Caso a retirada aconteça de forma abrupta, então nós certamente não estaremos em condições de garantir a segurança. Ainda está em aberto em quais zonas a retirada vai começar. Esperamos que atinja primeiro os distritos mais remotos e depois os grandes centros e cidades", diz Muhammadi.

Para o especialista em Afeganistão do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento da Universidade de Bonn, Conrad Schetter, o problema fundamental da transferência de responsabilidade está na velocidade com que foi programada. "O que é de fato necessário é que as unidades de segurança afegãs assumam responsabilidades em pequena escala desde cedo, para que assim se tenha um processo atenuado, no qual os afegãos assumam a responsabilidade gradualmente, de mês a mês. Mas o que temos é um corte súbito, os afegãos tendo que assumir de uma vez tudo o que estava a cargo da comunidade internacional. Isso, eu considero muito, muito difícil", analisa Schetter.

Seja como for, o presidente Karzai, assim como todos os países que apoiam o Afeganistão há quase uma década, devem manter os planos de retirada das tropas. O mundo deve saber que a missão da comunidade internacional no Afeganistão é temporária e não uma operação permanente, segundo consta no gabinete presidencial em Cabul.

Autor: Ratbil Shamel (ff)
Revisão: Augusto Valente

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