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HistóriaAlemanha

Mistério ainda paira sobre roubos famosos de obras de arte

7 de junho de 2024

Nas últimas décadas, quadros de Van Gogh, Rembrandt, Caravaggio e Pablo Picasso desapareceram de museus na Europa. Paradeiro de muitos destes tesouro é desconhecido até hoje.

Quadro "Pastoral", de Henri Matisse
"Pastoral", de Henri Matisse, foi roubada do Museu de Arte Moderna de Paris em 2010 e continua desaparecidaFoto: picture-alliance/dpa

Das Flores de Papoula de Vincent Van Gogh à obra-prima de Rembrandt Tempestade no Mar da Galileia, passando por quadros roubados pelos nazistas, como os de Gustav Klimt: a ausência aumenta ainda mais o interesse por tesouros artísticos perdidos há muito tempo.

Em 1969, ladrões roubaram o quadro Natividade com São Francisco e São Lourenço, do pintor italiano Caravaggio, que estava pendurado em uma igreja em Parlemo, na ilha da Sicília, região sul da Itália. A pintura em estilo barroco foi finalizada pelo artista em 1609 e seu paradeiro continua um mistério. Representando o nascimento de Jesus, a obra de quase 3 metros de altura foi retirada de sua moldura na igreja por dois ladrões. Supostamente teria ido parar nas mãos da máfia siciliana.

Depois que o crime foi investigado pelo FBI, dos EUA, pela Interpol e pela polícia italiana, se acredita que a obra, avaliada em 20 milhões de dólares (R$ 105,6 milhões), ainda esteja na Sicília. Vários membros da máfia teriam tentado vender o quadro de forma ilegal desde o roubo – um deles chegou a ser preso em 1981. Ele supostamente teria enterrado a pintura de Caravaggio.

Enquanto isso, cinco pinturas no valor de centenas de milhões de reais foram roubadas do Museu de Arte Moderna de Paris em 2010, incluindo O pombo e as ervilhas, do espanhol Pablo Picasso, Pastoral, do francês Henri Matisse, e A oliveira próxima a Estaque, do também francês Georges Braque.

Estas obras também nunca foram encontradas — apesar do ladrão ter enfrentado um julgamento. O roubo das obras, sem precedentes no país, foi descrito por um representante da capital francesa como "um dos piores eventos para a cidade de Paris, em pé de igualdade com o incêndio de Notre Dame. Devastador para a França e para o mundo".

O Caravaggio roubado em 1969 aparece em lista publicada pelo FBI que elenca os dez principais crimes de arte, que também inclui obras do holandês Van Gogh.

Um de seus quadros, o Flores de Papoula, pintado em 1887 e avaliado em 55 milhões de dólares (R$ 290,7 milhões), foi roubado duas vezes do Museu Mohamed Mahmoud Khalil, que fica na região metropolitana do Cairo, no Egito. O quadro foi encontrado uma década após o primeiro roubo, que aconteceu em 1977, mas voltou a desaparecer do museu em agosto de 2010 – e nunca mais foi visto.

Outras quatro obras de Van Gogh, Paul Cézanne, Edgar Degas e Claude Monet foram levadas em 2008 de um museu suíço em um "roubo de arte espetacular". Homens mascarados e armados entraram na Coleção Emil Bührle, no Museu das Belas Artes de Zurique, e levaram as pinturas, antes de fugir em um carro.

Recuperando obras perdidas

Felizmente para os amantes da arte, algumas dessas obras encontraram o caminho de volta para seus legítimos proprietários. Os criminosos que roubaram joias do século 18 avaliadas em 113 milhões de euros (R$ 648,9 milhões) do museu Grünes Gewölbe (Abóbada Verde), em Dresden, na Alemanha, foram condenados em 2023 a penas de prisão que variam entre quatro anos e quatro meses e seis anos e três meses.

Um punho de espada cravejado de diamantes estava entre os itens recuperados, mas algumas joias não foram encontradas e talvez se perderam para sempre.

A Sala de Joias do museu Grünes Gewölbe (Abóbada Verde), em Dresden, durante reabertura em 30 de maio de 2020Foto: Jens Meyer/AP/picture alliance

O ex-advogado Christopher A. Marinello fundou a organização britânica Art Recovery International (ARI) como um meio para ajudar a recuperar obras de arte roubadas e desaparecidas. Ele contribuiu com as investigações para recuperar as joias de Dresden.

Marinello disse à DW que recebeu "dicas de várias fontes sobre o paradeiro das joias roubadas" e passou as informações para as autoridades policiais que investigavam o caso. "A maior parte do nosso trabalho começa quando os objetos roubados e saqueados são colocados à venda", contou sobre a estratégia de recuperação da ARI.

"Nós tentamos impedir a venda e negociar uma resolução discreta com os detentores dos objetos e as vítimas", explicou Marinello, acrescentando que tais acordos extrajudiciais economizam "litígios caros" ao poder público.

A ARI também ajudou a recuperar serigrafias do artista e diretor de cinema americano Andy Warhol no valor de 500 mil dólares (R$ 2,6 milhões). As obras faziam parte da coleção Espécies Ameaçadas, produzida por ele em 1983.

No início deste ano, a polícia espanhola também recuperou uma pintura do artista britânico Francis Bacon que foi roubada de um apartamento em Madrid em 2015.

O retorno da arte roubada pelos nazistas

Marinello, da ARI, também busca obras de arte saqueadas pelos nazistas, incluindo uma da pintora polonesa de art déco, Tamara De Lempicka, intitulada Myrto, que foi roubada da França durante a Segunda Guerra Mundial. Mas localizar essas peças, muitas roubadas de famílias judias e comerciantes de arte, muitas vezes é difícil.

"As pessoas que conscientemente possuem obras de arte roubadas ou saqueadas pelos nazistas não têm escrúpulos ou inclinação moral para devolvê-la", disse Marinello, que está ativamente buscando obras produzidas pelos impressionistas franceses Pierre-Auguste Renoir, Camille Pissarro e Edgar Degas.

"Tais indivíduos se escondem atrás das leis de privacidade alemãs para proteger seus bens adquiridos de maneira ilícita em detrimento das vítimas de crimes e das vítimas do Holocausto", acrescentou. No entanto, o investigador reconheceu que várias obras roubadas caem nas mãos de "casas de leilão e revendedores honestos" que estão dispostos a trabalhar para que a arte seja devolvida.

Em 1976, o artista performático alemão Ulay (1943-2020) decidiu saquear simbolicamente uma arte nazista quando roubou a pintura favorita de Adolf Hitler, O pobre poeta (1839) de Carl Spitzweg.

Documentado em vídeo como parte de sua performance, Ulay (cujo nome verdadeiro era Frank Uwe Laysiepen) caminhou até a Antiga Galeria Nacional de Berlim, agarrou a obra de arte e dirigiu com ela até o bairro Kreuzberg, onde na época moravam muitos imigrantes pobres, para pendurá-la na parede do apartamento de uma família turca.

Antes de entrar no apartamento, no entanto, ele parou em um telefone público e ligou para as autoridades do museu para informar onde poderiam recuperar a pintura. "Eu fiz uma declaração de que isso era uma ação demonstrativa, não um roubo no sentido tradicional", Ulay explicou mais tarde. Ele considerou a performance uma "ação de protesto, antes de tudo, contra a institucionalização da arte, e depois contra a discriminação contra trabalhadores estrangeiros".

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