Governo rebate acusações de ambientalistas de que teria demorado em agir ao investigar a morte de centenas de animais. Carcaças e amostras foram enviadas para análise em outros países.
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A misteriosa morte de centenas elefantes continua a intrigar autoridades e ambientalistas em Botsuana, após as imagens dos animais mortos correrem o mundo e gerarem uma onda de indignação. As autoridades ainda tentam descobrir o que causou as mortes, dois meses depois de as primeiras carcaças serem encontradas no Delta do Okavango.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente do país, foram encontrados mais de 275 elefantes mortos. Entretanto, entidades de defesa dos direitos dos animais relataram mais de 356 mortes. Algumas carcaças foram enviadas para análises no Canadá e nos países vizinhos África do Sul e Zimbábue.
No ano passado, um surto de carbúnculo matou centenas de elefantes na mesa região, mas as autoridades descartaram essa hipótese. Também foram eliminadas as possibilidades de envenenamento e a caça predatória, uma vez que os animais foram encontrados com as presas intactas.
Nesta sexta-feira (03/07), o Departamento de Vida Selvagem e Parques Nacionais do país rebateu acusações feitas por ambientalistas de que o governo não agiu com a rapidez necessária para investigar as mortes.
"Uma equipe de investigação do governo está no local desde que os primeiros casos foram relatados", disse Mmadi Reuben, a principal autoridade veterinária do governo. "Botsuana reagiu prontamente." Ele explicou que a crise do coronavírus atrasou o envio de amostras para análise em outros países.
"Os elefantes começaram a morrer em números enormes em maio, e o governo normalmente responderia em alguns dias a um incidente nessa escala", criticou Mark Hiley, cofundador da ONG National Park Rescue.
Chris Thouless, diretor de pesquisas da organização Save the Elephants, disse que a escala das mortes, fora dos períodos de seca, é sem precedentes, mas considera equivocado presumir que o governo tenha demorado a agir.
"Este é um país bastante remoto", avaliou. Em sua opinião, todo o processo de recolher amostras, fazer análises e processá-las é uma tarefa bastante complicada. Se a causa das mortes for um vírus, ele avalia que o governo terá opções limitadas. "Não se pode fazer com que os elefantes mantenham o distanciamento social", ironizou.
O Botsuana, conhecido pelas belezas naturais e vida selvagem, é um popular destino turístico. No ano passado, a remoção da proibição da caça aos elefantes gerou revolta em nível internacional.
Na época, o presidente Mokgweetsi Masisi justificou a decisão, afirmando que a caça era necessária para manter a população desses animais no patamar de 130 mil espécimes – um terço do total de todo o continente africano.
Segundo Masisi, essa quantidade é "bem maior do que o frágil meio ambiente de Botsuana, já abalado pelas secas e outros efeitos do aquecimento global, pode acomodar com segurança".
Efeitos da pandemia de coronavírus sobre o meio ambiente
Da rápida queda na poluição do ar a animais selvagens que se atrevem a passear por centros urbanos, a crise do coronavírus teve fortes impactos sobre o meio ambiente.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/I. Aditya
Melhor qualidade do ar
À medida que o mundo está parado, a paralisação repentina da maioria das atividades industriais reduziu drasticamente os níveis de poluição. Imagens de satélite revelam até mesmo uma clara queda nos níveis globais de dióxido de nitrogênio (NO2) - um gás produzido principalmente por veículos e, portanto, responsável pela má qualidade do ar nas grandes cidades.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/I. Aditya
Menos emissões de CO2
Da mesma forma como com o NO2, aconteceu uma redução nas emissões de dióxido de carbono devido à diminuição nas atividades econômicas. A última vez em que isso aconteceu foi durante a crise financeira de 2008-2009. Somente na China, as emissões caíram cerca de 25% quando o país começou com medidas restritivas, de acordo com o Carbon Brief. Mas essa mudança provavelmente será apenas temporária.
Enquanto os seres humanos se isolam em suas casas, alguns animais aproveitam o espaço à disposição. Com o trânsito rodoviário reduzido, bichos menores, como porcos-espinhos saídos da hibernação, têm menos probabilidade de serem atropelados. Outras espécies, como os patos, podem estar se perguntando para onde foram as pessoas que lhes costumavam dar migalhas de pão no parque.
Foto: picture-alliance/R. Bernhardt
Mais atenção para o comércio de vida selvagem
Os conservacionistas esperam que o surto de coronavírus ajude a conter o comércio global de vida selvagem, responsável por deixar várias espécies à beira da extinção. A covid-19 provavelmente se originou em um mercado chinês que vende animais vivos e é um centro de vida selvagem traficada ilegal e ilegalmente. A repressão ao comércio de animais selvagens vivos pode ser um efeito positivo da crise.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lalit
Águas mais limpas
Logo após a Itália impor o isolamento, imagens de canais cristalinos de Veneza foram compartilhadas em todo o mundo - as águas hoje estão muito longe de sua aparência turva habitual. E com os navios de cruzeiro temporariamente ancorados, os oceanos também experimentam queda na poluição sonora, diminuindo o estresse de animais marinhos, como baleias.
Foto: Reuterts/M. Silvestri
Problema dos plásticos continua
Mas não há só notícias positivas. Um dos piores efeitos colaterais ambientais da pandemia de coronavírus é o rápido aumento no uso de plástico descartável - de equipamentos médicos, como luvas, a embalagens plásticas, à medida que mais pessoas optam por alimentos pré-embalados. Mesmo cafés que continuam abertos não usam mais copos reutilizáveis, na tentativa de impedir a propagação do vírus.
Foto: picture alliance/dpa/P.Pleul
A crise do clima continua
Com o coronavírus dominando o noticiário, o problema do aquecimento global por enquanto parece deixado de lado. Especialistas alertam que decisões importantes sobre o clima não devem ser adiadas - mesmo com a conferência da ONU sobre o clima adiada para 2021. Embora as emissões tenham caído desde o início da pandemia, é improvável que em longo prazo ocorram mudanças generalizadas.