Mistério e versões conflitantes em torno dos turistas do Saara
6 de maio de 2003Segundo o governo da Argélia, os 31 turistas europeus desaparecidos no Saara ainda estariam vivos. Por outro lado, a crer na declaração do ministro do Interior, Noureddine Zerhouni, nesta terça-feira (06), à rádio nacional argelina, "não há qualquer contato com grupos armados ou de outro tipo". Isto vai de encontro às informações do ministro do Turismo, Lakhdar Dorbani, na véspera, a uma comissão parlamentar em Argel, de que negociações com os seqüestradores estariam em andamento.
Assim, a tônica no bizarro caso de seqüestro – ou não – permanece sendo a desinformação. Zerhouni só pôde afirmar que não há qualquer certeza sobre a situação dos desaparecidos. As notícias, originárias da cidade de Illizi, de que oito dos turistas estariam prestes a ser libertados, carecem de confirmação oficial. Porém o governo de seu país "não exclui nenhuma hipótese".
O ministro argelino do Interior corroborou que Argel recusara como "desnecessária" a oferta de Berlim de ajuda militar, para o caso de uma operação de libertação. A oferta referia-se à unidade de elite GSG 9, com larga experiência e alguns casos espetaculares em seu crédito, como a libertação de uma aeronave da Lufthansa, em 1977, sem qualquer vítima entre os reféns.
O temor do governo alemão de que haja um massacre na tentativa de libertar os reféns baseia-se no histórico brutal das forças de segurança argelinas. Alguns funcionários da GSG 9 já estão naquele país africano, como consultores nas buscas. Segundo o jornal Tagesspiegel, a tropa de elite estaria se preparando para uma mobilização, na base de Sankt Augustin, próxima de Colônia. A operação transcorre em sigilo absoluto.
Além de sua segurança física na eventualidade de uma intervenção, a preocupação principal das autoridades européias é a saúde dos 31 desaparecidos. A região em questão é um planalto formado por pedra vulcânica negra, com despenhadeiros profundos, onde as temperaturas diurnas podem alcançar os 45ºC.
Silêncio bilateral
Embora com motivos certamente diversos dos das autoridades argelinas, o silêncio do governo alemão é igualmente difícil de compreender. Hartmut Simon, pai de uma estudante de 25 anos, de Bayreuth, sumida no deserto argelino desde meados de março, está indignado: "A política de informação das repartições estatais é uma tragédia, elas nos excluem totalmente". Seu contato com o Ministério do Exterior foi suspenso, e a polícia local só divulga o que já se sabe pela imprensa. A carta das famílias dos desaparecidos ao chanceler federal e aos ministros do Exterior e do Interior está há uma semana sem resposta.
O que se sabe com certeza é definitivamente muito pouco, considerando que os primeiros desaparecimentos ocorreram no final de fevereiro. Os 15 alemães, 10 austríacos, quatro suíços, um holandês e um sueco atravessavam o Saara argelino em diferentes grupos, sobre jipes e motocicletas, sem o acompanhamento de guias.
A região em questão, na fronteira com a Líbia e o Níger, é notória não só por seus tesouros arqueológicos, mas também pela presença de contrabandistas de armas e drogas. Porém o fato de parte das vítimas usar motocicletas é um indício de que não se trata de um assalto comum: normalmente os motociclistas são poupados pelos criminosos do deserto, cujo interesse principal são os veículos de quatro rodas.
Entre inúmeras versões e informações conflitantes sobre o desaparecimento, está a especulação de um diplomata ocidental em Argel de que os seqüestradores seriam senhores de guerra ligados a terroristas argelinos. Segundo a imprensa local, trata-se de um grupo radical, que exige alto resgate. O grupo possuiria ligações com a organização Al Qaeda, do extremista muçulmano Osama bin Laden.
Para completar a confusão, um correspondente da rádio oficial da Argélia noticiara na segunda-feira que os turistas estariam divididos em dois grupos: um se encontraria em Illizi, a 1500 quilômetros ao sul de Argel, o segundo estaria em Tamanrasset, mais 400 quilômetros para o sul.