Misteriosa conferência reúne elite mundial na Alemanha
Volker Wagener (ca)8 de junho de 2016
Encontros secretos da Conferência de Bilderberg alimentam teorias da conspiração: tudo o que é dito nos debates entre monarcas, políticos, diplomatas e economistas é segredo, e presença da imprensa é proibida.
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Dresden será, nesta semana, palco de um encontro controverso: a Conferência de Bilderberg, onde cerca de 130 tomadores de decisão da política, economia, ciência, defesa e mídia discutem a portas fechadas sobre os acontecimentos mundiais, numa reunião que, devido ao secretismo com que é tratada, alimenta teorias conspiratórias.
A misteriosa cúpula de Bilderberg acontece a cada ano num local e num país diferente. Em 2016, será no Hotel Taschenberg, no centro da cidade alemã de Dresden, entre esta quinta-feira (09/06) e o domingo. Entre os convidados, nomes de peso, como o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, a chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) Christine Lagarde e o rei Willem-Alexander da Holanda.
Apesar de convidados, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e seu vice, Sigmar Gabriel, se recusaram a participar da rodada. Mas ministros como Ursula von der Leyer (Defesa) e Wolfgang Schäuble (Finanças) estarão representando o país anfitrião.
Apesar de os convidados e os temas terem sido divulgados – eles vão de Rússia a segurança na internet – os participantes da Conferência de Bilderberg estão sujeitos a regras especiais. A principal delas se chama "regra de Chatham House", de 1927, que demanda sigilo absoluto por parte de cada membro da conferência sobre conteúdo de conversas e declarações de palestrantes.
Por esse motivo, a reunião fechada de poderosos é motivo de críticas contínuas por sua falta de transparência. Os organizadores e os participantes, no entanto, afirmam que a reunião é um das raras ocasiões para se falar abertamente entre tomadores de decisões globais. Pois a cobertura pela mídia é proibida, embora jornalistas sejam convidados regularmente.
O pouco que sabe sobre o encontro de Bilderberg não suscita muito interesse. Ali há explicações e debates em blocos de 90 minutos. Segundo informações de um participante, há três anos, no The Grove, um luxuoso hotel londrino, não havia "nada de especial" nos intervalos: típica comida de bufê, e o vinho saía por conta do próprio convidado.
Berço do euro?
Entre vinho branco e rosbife, o que está em jogo, normalmente, é nada menos que a salvação do mundo, ou ao menos soluções para problemas globais. Segundo o livro de memórias do ex-embaixador americano na Alemanha George McGhee, a Conferência de Bilderberg foi fundamental para a elaboração do Tratado de Roma, um pré-estágio da atual União Europeia.
Étienne Davignon, empresário belga e presidente honorário do seleto encontro, afirmou ter vivenciado até mesmo a criação do euro nesta rodada sobre a qual se levantam sempre novos questionamentos. Quem estava por trás da crise do petróleo em 1973? Como foi possível a Reunificação alemã? Bilderberg é um prato cheio para os teóricos da conspiração.
Desde o inicio, a conferência está na mira de críticos, que tentam interpretar o que estaria no cerne da exclusiva reunião. O sociólogo da mídia Rudolf Stumberger afirma que o nobre círculo faria parte de uma tendência rumo a uma tentativa de refeudalização. E o cientista político holandês Kees van der Pijl avalia que os interesses ali representados pouco tem a ver com democracia. Segundo ele, já se escuta há anos que o encontro de Bilderberg é um "evento absolutamente pré-democrático".
Durante as mais de seis décadas de existência, no entanto, o círculo secreto parece não ter perdido a atratividade. "Fraternizar com algumas das pessoas mais importantes do mundo", escreveu o ator britânico Ian Richardson em 2011, "funciona como um afrodisíaco psicológico."
Parece ter sido o caso da primeira reunião, em 1954. O lugar da première e que deu nome ao encontro foi do Hotel de Bilderberg, em Oosterbeek, na Holanda. Durante os primeiros 20 anos, a nobre conferência foi dirigida pelo príncipe Bernhard, marido da então rainha Juliana. Ele teve que renunciar ao cargo devido a um escândalo de corrupção em torno da empresa Lockheed, com a qual ele também estava envolvido.
Esse é um argumento clássico e uma evidência para os críticos, que colocam os participantes da conferência sempre sob suspeita geral: a de que a reunião não passa de uma oportunidade para estreitar os laços entre política e interesses econômicos.
Ruínas da Segunda Guerra – memoriais da paz
Em vários locais da Alemanha são mantidas partes de edificações destroçadas pela violência bélica. Elas recordam o poder devastador das armas e quanto a paz é preciosa.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Wolf
Testemunhas eloquentes
Difícil acreditar: em 1945, numerosas cidades alemãs estavam tão destruídas como, hoje, partes do Iraque ou da Síria. Destroçadas por bombardeios e nunca mais reconstruídas, ruínas em meio às metrópoles do país ainda prestam testemunho eloquente dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Em sua maioria, trata-se de edificações sacras, como a Igreja Memorial do Imperador Guilherme, em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hiekel
Novo e antigo
Inaugurada em 1895, no estilo neo-romântico, a Igreja Memorial do Imperador Guilherme (Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche) sucumbiu a um ataque aéreo dos Aliados em 23 de novembro de 1943. Apenas a ruína da torre principal, com 71 metros de altura, foi preservada como memorial. Os quatro prédios que a rodeiam ficaram prontos em 1961, e hoje todo o complexo arquitetônico é tombado.
Foto: picture alliance/akg-images
Do culto à cultura
A história da Igreja do Convento Franciscano no bairro berlinense de Mitte remonta ao ano 1250. Em consequência da Reforma Luterana, em 1539 o convento foi fechado. E, em 3 de abril de 1945, o fogo choveu do céu. As ruínas da igreja foram protegidas, como único prédio da época a sobreviver à Segunda Guerra. Restaurada, desde 2004 ela abriga exposições, apresentações teatrais e concertos.
Foto: gemeinfrei/imago/F. Berger
Memorial no Reno
Destruída e jamais recuperada, a Igreja de Santo Albano fica na parte histórica da cidade renana de Colônia. Na foto veem-se os restos do coro. A antiga nave, hoje descoberta, serve de memorial para os mortos da guerra. Em seu centro, uma escultura evocativa apela pela paz: "Pai e mãe de luto", de Ernst Barlach, com base num desenho de Käthe Kollwitz.
Foto: CC BY-SA 3.0/Raimond Spekking
Sobrevivente solitária
A pouca distância de Santo Albano está Santa Colomba, uma das mais antigas igrejas paroquiais de Colônia. Sua pedra fundamental foi lançada em 980. Após a destruição quase total em 1943, além de uns poucos resquícios dos muros externos, datando do fim da Idade Média, restou apenas uma figura de Nossa Senhora, em meio aos escombros.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Gambarini
Destaque no museu
Para abrigar essa estátua da Virgem construiu-se no mesmo local, já em 1947-50, uma capela octogonal. Desde então ela é, para os colonianos, a "Madona dos Escombros". Em 1956-57, a capela marista foi ampliada em capela sacramental quadrilateral. Em 2007, a Igreja de Santa Colomba foi totalmente integrada ao edifício do novo Museu Episcopal Diocesano.
Foto: CC BY-SA 3.0/Elke Wetzig
Esplendor barroco perdido
Datando do século 12, o Palácio Zerbst, na Saxônia-Anhalt, era residência dos príncipes de Anhalt-Zerbst. Reformas no século 17 lhe deram uma estrutura em três alas, e passou a constar entre as principais edificações barrocas da Alemanha central. Em criança, a princesa Sofia Augusta Frederica de Anhalt-Zerbst ia visitar lá os seus parentes. Ela seria coroada em 1762 Catarina 2ª, czarina da Rússia.
Foto: picture-alliance/AKG
Ainda há esperança
Em abril de 1945, o Palácio Zerbst foi atingido por bombas aliadas e totalmente consumido no incêndio subsequente. Sua preciosa decoração interna se perdeu. A reconstrução teria sido possível, mas foi rejeitada por motivos políticos. Somente a ruína da ala leste escapou à demolição, e uma associação de amigos cuida para que seja mantida. Sua meta é a restauração fiel da parte exterior da ala.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Wolf
De "bunker" a igreja
Apesar de não ser uma ruína, este "hochbunker" (abrigo de superfície) em Düsseldorf é mantido como memorial. Para fins de proteção, no início dos anos 1940 ele fora camuflado como igreja. A partir de 1949, foi então transformado de fato em casa de culto. O prédio tombado, que também funciona como local de exposições, é arquitetonicamente ímpar, sendo considerado a igreja mais segura do mundo.
Foto: CC BY-SA 3.0/Ilion
Usina memorial
Este antigo abrigo de superfície em Hamburgo-Wilhelmsburg é igualmente único no mundo. Enquanto, após o fim da guerra, grande parte dessas edificações sucumbiram ao tempo, ele foi amplamente saneado e transformado num "Energiebunker". Equipado com painéis fotovoltaicos e uma usina regeneradora dotada de armazenador de calor, o colosso de concreto fornece eletricidade e calefação à população.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Altura fatídica
As origens da Igreja de São Nicolau de Hamburgo remontam a 1195. Após um incêndio em 1842, foi consagrada no local, 32 anos mais tarde, uma casa de culto totalmente nova, em estilo neogótico. Por um tempo, sua torre de 147 metros foi a construção mais elevada do mundo. Porém, em 23 de julho de 1943, sua altura provou-se fatídica, ao servir de ponto de orientação para os bombardeiros dos Aliados.
Foto: gemeinfrei
Hamburgo-Gomorra
Somente a torre e os porões abobadados resistiram. Ao fim da Segunda Guerra, o Senado hamburguês decidiu não reerguer a Igreja de São Nicolau. Suas ruínas permanecem até hoje como ferida aberta, dedicadas "às vítimas da guerra e da ditadura entre 1933 e 1945". Nos porões criou-se um centro de documentação, com a mostra permanente "Gomorra 1943 – A destruição de Hamburgo na guerra aérea".
Foto: picture-alliance/dpa
Sobrevivência por um triz
Em 1945 jazia em destroços, em Dresden, a famosa Frauenkirche, a igreja protestante de Nossa Senhora. Após sobreviver aos devastadores ataques aéreos de 13 e 14 de fevereiro, no dia seguinte a cúpula de pedra dessa chamada "pérola do Barroco" desmoronou. A Alemanha Oriental não tinha verbas para reerguê-la, e por muitos anos as ruínas jazeram como memorial contra a guerra e a destruição.
Foto: Hulton Archive/AFP/Getty Images
Esperança contra a devastação
Com a Reunificação, iniciou-se em 1996 a reconstrução da Frauenkirche, concluída em 2005. O financiamento do projeto de 180 milhões de euros envolveu 16 associações de amigos no país e no exterior, assim como doações de todo o mundo. As pedras da edificação original foram integradas nos novos muros. A igreja reerguida tornou-se, assim, um símbolo de esperança e do entendimento entre os povos.
Foto: DW/Holm Weber
Recomeço a partir dos escombros
Já em 1947, a Igreja da Ressurreição de Pforzheim, sul da Alemanha, foi a primeira construída no país, no pós-Guerra. Como material de construção, 30 mil tijolos das casas circundantes foram desenterrados, coletados e meticulosamente limpos. Além de sinalizar um recomeço, ela serviu de modelo para 46 "igrejas de emergência" nas cidades alemãs destruídas na Segunda Guerra.