Moais da Ilha de Páscoa podem sumir no mar até 2080
30 de agosto de 2025
Estudo analisou modelos de aumento do nível do mar e alertou que esculturas gigantes na ilha do Pacífico correm risco diante de ondas cada vez mais intensas turbinadas pelas mudanças climáticas.
Ahu Tongariki é maior plataforma cerimonial da Ilha de PáscoaFoto: Raphael36543/Pond5 Images/IMAGO
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As mudanças climáticas ameaçam os famosos moais da Ilha de Páscoa, no Chile. As estátuas gigantes, construídas pelo povo rapanui, entre os anos 1250 e 1500, podem serem engolidas pelo mar até 2080, devido ao aumento do nível dos oceanos causado pelo aquecimento global, revelou um estudo publicado em meados de agosto na revista especializada Journal of Culture Heritage.
"O aumento do nível do mar é real. Não é uma ameaça distante", destacou o autor principal do estudo, Noah Poa. A Ilha de Páscoa está localizada no Oceano Pacífico e é administrada pelo Chile. O local foi reconhecido como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
"A questão principal não era se o local seria afetado, mas quando e com que intensidade", afirmou o pesquisador num comunicado divulgado pela Universidade do Havaí, em Manoa.
Para avaliar esse impacto, os pesquisadores construíram uma réplica digital em alta resolução da costa leste da ilha e executaram modelos computacionais para simular o avanço futuro das ondas em vários cenários de aumento do nível do mar.
Posteriormente, os resultados foram sobrepostos em mapas que incluíam os locais onde estão os moais. O estudo mostrou que as ondas podem atingir Ahu Tongariki, maior plataforma cerimonial da ilha, já em 2.080.
Segundo Poa, a descoberta fornece os dados específicos e urgentes necessários para incentivar o debate e o planejamento comunitário futuro.
Importância cultural e econômica
Em Ahu Tongariki, estão localizados 15 moais, que atraem dezenas de milhares de visitantes todos os anos. A região é um dos principais pilares do turismo local. Mas, além de seu valor econômico, Ahu Tongariki, que fica dentro de um parque nacional, está profundamente ligado com a identidade cultural dos habitantes da ilha.
Moais são representações de ancestrais do povo rapanuiFoto: Larisa Blinova/Zoonar/IMAGO
"Este estudo revela uma ameaça crítica à cultura e aos meios de subsistência rapanui. Para a comunidades estes sítios são essenciais para reafirmar sua identidade e apoiar a revitalização das tradições locais", destacou Poa.
Entre os séculos 10 e 16, o povo rapanui construiu aproximadamente 900 moais, que estão espalhados por toda a Ilha de Páscoa e representam ancestrais e líderes comunitários importantes. A ameaça ambiental a essas estátuas gigantes não é inédita. Em 1960, o maior terremoto já registrado da história, um sismo de magnitude 9,5 na costa do Chile, provocou um tsunami no Pacífico que atingiu a ilha e varreu os moais, que haviam sido derrubados durante guerras civis, para o interior – o que danificou as estátuas.
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Como a ilha pode ser protegida
As possíveis medidas para proteger Ahu Tongariki incluem a construção de diques, reforçar a costa e a remoção dos monumentos para outras regiões da ilha. Poa espera que o estudo gere um debate agora e não somente quando danos irreparáveis já tiverem ocorrido.
"Infelizmente, do ponto de vista científico, os resultados não são surpreendentes. Sabemos que o aumento do nível do mar representa uma ameaça direta ao litoral em todo o mundo", acrescentou o pesquisador. "É melhor antecipar e ser proativo, em vez de reagir a potenciais ameaças."
Embora o estudo se concentre na Ilha de Páscoa, suas descobertas podem ser replicadas em patrimônios culturais do mundo inteiro, com regiões costeiras cada vez mais ameaçadas pelo aumento do nível do mar. Um relatório da Unesco divulgado no mês passado concluiu que 50 patrimônios mundiais estão altamente expostos a inundações costeiras.
cn (DW, ots)
Tesouros culturais e históricos destruídos
Incêndios, guerras, terremotos e enchentes destruíram parte da história da humanidade. Confira algumas perdas das últimas décadas, de museus a catedrais.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Correa
Catedral de Notre-Dame, Paris (2019)
Sobrevivente quase intacta de várias guerras, a Catedral de Notre-Dame, em Paris, foi parcialmente destruída por um incêndio em 15 de abril de 2019. A igreja começou a ser construída em 1163 e só foi concluída em 1345. Segundo o governo francês, o dano só não foi maior porque alguns funcionários colocaram suas vidas em perigo e entraram nas duas torres para combater o incêndio de dentro.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Camus
Museu Nacional, Rio de Janeiro (2018)
Um incêndio destruiu cerca de 90% do acervo e boa parte do prédio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 2 de setembro de 2018. Com 20 milhões de peças e documentos, era o quinto maior museu do mundo em acervo. Lá estavam, por exemplo, o fóssil de mais de 11 mil anos de Luzia, a mulher mais antiga das Américas, e o sarcófago da sacerdotisa Sha-amun-en-su, mumificada há 2.700 anos.
Foto: Reuters/R. Moraes
Museu de História Natural, Nova Déli (2016)
Todo o acervo do Museu de História Natural da Índia, localizado em Nova Déli, foi consumido em um incêndio em 26 de abril de 2016. Entre as perdas incalculáveis, está um osso de dinossauro saurópode, com idade estimada em 160 milhões de anos.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Gupta
Museu da Língua Portuguesa, São Paulo (2015)
Em 21 de dezembro de 2015, o Museu da Língua Portuguesa, localizado na centenária Estação da Luz, em São Paulo, foi destruído por um incêndio, no qual morreu um bombeiro civil. Mais de 100 homens e 60 viaturas trabalharam no local. A maior parte do acervo, no entanto, por ser virtual, pode ser recuperada de cópias de segurança. A previsão é de que ele seja reaberto no primeiro semestre de 2020.
Foto: Getty Images/AFP/M. Schincariol
Hatra, Iraque (2015)
Entre os muitos patrimônios culturais destruídos pelo grupo "Estado Islâmico" está a cidade histórica de Hatra, no Iraque. Em abril de 2015, os extremistas divulgaram um vídeo em que aniquilavam o local (foto). Construída por volta do ano 300 a.C., a cidade foi capital do primeiro reino árabe da região, um dos únicos a resistir à invasão do Império Romano no segundo século depois de Cristo.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Militant video
Palmira, Síria (2015)
Em 2015, a organização terrorista Estado Islâmico destruiu várias construções da antiga cidade-oásis de Palmira, na Síria. Entre elas, os templos de Bel e Baalshamin (foto), erguidos há 2 mil anos, e um arco do triunfo construído por volta do ano 200. O EI também executou Khaled al-Assad, que por 50 anos foi chefe de arqueologia de Palmira, por ele ter escondido dos extremistas tesouros culturais.
Foto: picture alliance/AP Photo
Katmandu, Nepal (2015)
Cerca de 60% do patrimônio mundial da Unesco no Nepal foi destruído por um terremoto em 25 de abril de 2015, que também matou pelo menos 8,7 mil pessoas. Nas cidades reais de Bhaktapur, Patan e Katmandu, vários templos e estátuas dos séculos 12 até o 18 foram danificados ou completamente destruídos, entre eles, a Praça de Darbar (foto).
Foto: picture-alliance/dpa/N. Shrestha
Tombuctu, Mali (2012)
Em 2012, as cidades históricas de Tombuctu (foto) e Gao, no Mali, sofreram danos irreparáveis nas mãos de jihadistas. Entre os patrimônios destruídos, estão mausoléus – como o de Sidi Mahmoud Ben Amar –, a porta da mesquita Yahia, de centenas de anos, e milhares de manuscritos dos séculos 14, 15 e 16 sobre islamismo, filosofia, poesia, matemática, astronomia e medicina.
Foto: Getty Images
Áquila, Itália (2009)
Em 2009, uma série de abalos sísmicos (sendo o mais forte no dia 6 de abril) atingiu a região da cidade de Áquila, na Itália, causando a morte de cerca de 300 pessoas e destruindo centenas de prédios históricos. Entre os patrimônios danificados estão a igreja das Almas Santas e a Basílica de Santa Maria di Collemaggio.
Foto: dapd
Catedral de Nossa Senhora da Assunção, Porto Príncipe (2010)
Em janeiro de 2010 um terremoto no Haiti deixou mais de 220 mil mortos e 1,5 milhão de desabrigados. O sismo também destruiu prédios históricos da capital Porto Príncipe, como o Parlamento, o Palácio Nacional, que teve seus escombros implodidos em 2012, e a Catedral de Nossa Senhora da Assunção (foto), construída entre 1884 e 1914.
Foto: AP
Biblioteca e Arquivo Nacional, Bagdá (2003)
No início da ocupação liderada pelos Estados Unidos, em 2003, quando o caos se instaurou na capital, a Biblioteca Nacional de Bagdá (foto) foi incendiada, destruindo cerca de 25% de seus livros e de 60% dos arquivos, incluindo registros otomanos inestimáveis. No mesmo ano, cerca de 15 mil peças foram saqueadas do Museu Nacional de Bagdá. Um terço delas foi recupera e o museu reabriu em 2012.
Foto: cc-by-sa-nd-DAI
Budas de Bamiyan, Afeganistão (2001)
Entalhados em rochas há mais de 1.500 anos, duas estátuas de Buda no vale de Bamiyan, no Afeganistão, foram destruídas pelo Talibã em 2001 por serem consideradas afrontas ao Alcorão. Um dos homens que participou forçado do crime relatou que, primeiro, os Budas foram atingidos com tanques e disparos. Quando viram que não fazia efeito, colocaram explosivos para destruí-los.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Ahmed
Capela do Santo Sudário (1997)
A Capela do Santo Sudário, em Turim, na Itália, foi construída no século 17 para abrigar o tecido que teria envolvido o corpo de Jesus após a crucificação. O local foi destruído por um incêndio na madrugada de 11 para 12 de abril de 1997, mas a relíquia religiosa foi salva por bombeiros que entraram no prédio em chamas para resgatá-la. Somente após 21 anos, a capela foi reaberta.
Foto: picture-alliance/dpa/Ansa
Obras de arte, livros e manuscritos, Florença (1966)
Chuvas torrenciais atingiram a Itália e 80 milhões de metros cúbicos de água invadiram Florença em 4 de novembro de 1966, após o rompimento de um dique do rio Arno. Além de deixar dezenas de mortos, a água invadiu igrejas, galerias, museus e bibliotecas. Pelo menos 1.500 obras de arte ficaram danificadas ou se perderam para sempre, assim como milhares de livros, manuscritos e esculturas.