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Fim do socialismo

1 de julho de 2010

Em 1º de julho de 1990, a Alemanha Oriental assinava o acordo que introduziria a economia de mercado e o marco ocidental no território do antigo regime socialista.

Introdução do marco ocidental propiciou negociatas de câmbioFoto: picture-alliance/ ZB

Há exatamente duas décadas, a República Federal da Alemanha (RFA) e a República Democrática Alemã (RDA) selavam sua união monetária. A moeda única oficial se tornou o d-mark, marco alemão ocidental, segundo estabeleceu o acordo bilateral que impôs drásticas rupturas econômicas e sociais para os alemães que haviam vivido sob o regime comunista.

Essa seria a base para a introdução da economia de mercado no território da antiga Alemanha socialista. No leste do país, o novo dinheiro foi transportado para os bancos sob um rígido esquema de segurança. Dos 25 bilhões de marcos alemães liberados, um quarto foi colocado imediatamente em circulação.

Pelo fato de a nova moeda ter sido introduzida na Alemanha Oriental num domingo, o efeito sobre o consumo só se fez notar no sábado seguinte, quando as lojas ocidentais foram invadidas por massas de compradores do leste.

Família de Dresden troca dinheiro em 1º de julho de 1990Foto: picture-alliance/ ZB

Especuladores se aproveitaram da ocasião para fazer negócios lucrativos, em grande parte ilícitos. Com o respaldo de uma lei promulgada anteriormente pelo Parlamento da Alemanha Oriental com a meta de impedir irregularidades de câmbio, as autoridades do leste começaram a interditar – em 11 de julho de 1990 – as primeiras contas de pessoas físicas e jurídicas. Um ano depois, promotores públicos ainda investigavam prejuízos de milhões de marcos contra o Estado.

A introdução do marco ocidental no leste marcou o início da vigência das principais leis econômicas e sociais da Alemanha Ocidental e o fim do controle de fronteiras entre as duas metades do país.

"Se o marco vier, ficamos aqui; senão, estaremos aí"

Na época, milhares de pessoas mudaram para a parte ocidental do país. No final de 1989, logo após a queda do Muro de Berlim, já se ouvia o slogan "se o d-mark vier, ficamos aqui; senão, estaremos aí".

Outra reivindicação manifestada em protestos tocava o câmbio do marco oriental para o ocidental. "Um para um, senão jamais nos tornaremos um único país" era outro slogan. No final, quantias entre 2 mil e 6 mil marcos depositadas em poupanças acabaram sendo trocadas na proporção 1:1. Valores superiores a esse foram submetidos ao câmbio 2:1; o mesmo se aplicava às dívidas de empresas do leste.

A proporção 1:1 também valia para salários, aposentadorias, aluguéis e arrendamentos. Isso sobrecarregou imensamente a maioria das companhias estatais do leste, não munidas contra a concorrência. Do dia para a noite, os preços de produção aumentaram 400%, sobretudo porque os produtos do leste passaram a ser preteridos. Isso acabou significando a ruína de centenas dessas empresas.

Alemães do leste fazem fila em frente a um banco de Berlim, dois dias antes da introdução do marco ocidentalFoto: picture alliance / ZB

Quando a união econômica, monetária e social das duas Alemanhas entrou em vigor, ninguém podia calcular o que representaria recuperar a economia do leste. O d-mark, altamente cobiçado na parte oriental do país, acabou sendo um choque para a economia local. Analistas econômicos divergem até hoje quanto ao sentido – ou à falta de sentido – de uma introdução tão rápida da moeda ocidental, três meses antes da reunificação da Alemanha.

Peso da guerra caiu nos ombros da Alemanha Oriental

Do ponto de vista histórico, fato é que a Alemanha Oriental teve que arcar com prejuízos de guerra significativamente maiores do que a Alemanha Ocidental. Nos anos em que o Plano Marshall propiciava o milagre econômico no oeste, o leste – pelo contrário – se responsabilizava pelos incalculáveis danos que as forças armadas nazistas haviam causado na União Soviética.

Até 1953, a URSS cobrou indenizações de 70 bilhões de marcos da zona de ocupação soviética e futura República Democrática Alemã, se apropriando de fábricas inteiras, trilhos ferroviários, locomotivas, vagões de carga, produção de cereais e produtos industriais.

A Alemanha Ocidental, por sua vez, saiu ilesa. As reparações exigidas por parte das potências ocidentais foram suspensas parcialmente em 1946 e definitivamente em novembro de 1949. Segundo informações dos aliados, as reparações cobradas somaram 2 bilhões de marcos, uma quantia irrisória em comparação com o que a Alemanha Oriental teve que pagar à União Soviética.

O historiador Arno Peters, um simpatizante explícito da RDA, considerava o peso desproporcional das reparações de guerra sobre a Alemanha Oriental uma grave hipoteca da qual a economia socialista jamais voltaria a se recuperar. Segundo seus cálculos iniciais, a dívida dos alemães-ocidentais para com os orientais era de 72 bilhões de marcos.

Nostalgia pelas moedas socialistas acabou

Cédulas do marco orientalFoto: picture-alliance/dpa

Nos primeiros anos após a reunificação, foi grande o interesse dos colecionadores pelas moedas e cédulas da antiga Alemanha Oriental, com seus motivos e estampas socialistas. Com o tempo isso foi esmorecendo. Apenas raridades ainda são comercializadas por altos preços, como é o caso da moeda de 50 centavos de 1949, avaliada hoje em até 8 mil euros.

Grande parte das moedas do leste retiradas de circulação em 1990 foram derretidas; as cédulas foram enterradas em minas de arenito. No entanto, o processo de decomposição não foi tão rápido como o esperado, de modo que o dinheiro socialista acabou sendo incinerado.

O que restara das cédulas da RDA foi eliminado há oito anos. As últimas reservas de cédulas e moedas comemorativas, depositadas em cofres, passaram ser leiloadas após o Instituto de Crédito para a Reconstrução ter incorporado o antigo banco central da RDA, em 1994. O último desses leilões ocorreu em meados do ano 2000.

SL/dpa/dw
Revisão: Roselaine Wandscheer

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