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SociedadeMoldávia

Moldávia, um país entre a solidariedade e o medo

Carla Bleiker | Robert Schwartz | Dmytro Hubenko | Vitalie Călugăreanu
12 de maio de 2022

Nenhum país acolheu proporcionalmente tantos refugiados ucranianos quanto esta pequena nação do Leste Europeu. Palco de um "conflito congelado" com separatistas pró-Rússia, a Moldávia teme ser o próximo alvo de Moscou.

Tiraspol, a capital da região separatista da Transnístria.
Tiraspol, a capital da região separatista moldava da Transnístria. Próximo alvo de Putin?Foto: Goran Stanzl/Pixsell/imago images

Espremida entre a Romênia e a Ucrânia, a República da Moldávia é um país pequeno e empobrecido da Europa Oriental. Sua população não passa de 3 milhões de pessoas. Mas até esse número é superestimado devido à emigração em massa. Calcula-se que pelo menos um terço dos moldávios trabalhem fora do país, o que torna difícil determinar o número exato da população.

A pequena Moldávia recebeu mais de 450 mil refugiados da Ucrânia desde que a Rússia invadiu o país vizinho, no final de fevereiro. Quando comparado à própria população da Moldávia, esse é proporcionalmente o maior número de refugiados ucranianos que entraram em apenas um país desde o início do conflito.

A enorme disposição da pequena nação para receber refugiados ucranianos foi alvo de elogios por parte do secretário-geral da ONU, António Guterres, durante uma visita à Moldávia no início desta semana. Em uma coletiva de imprensa em na capital Chişinau, ele salientou que estava no país "numa missão de solidariedade e gratidão, para agradecer a Moldávia pelo apoio contínuo à paz e pela generosidade dos cidadãos que acolheram quase meio milhão de refugiados ucranianos de braços abertos".

Uma história entre a Romênia e a União Soviética

Uma ex-república soviética, a Moldávia conquistou a independência em 1991, após o colapso do bloco comunista. A língua oficial da Moldávia é o romeno. O pequeno país compartilha uma fronteira (marcada pelo rio Prut) com a Romênia a oeste. Até 1940, a maior parte do que hoje é a Moldávia fazia parte da Romênia. Em seguida, as forças soviéticas invadiram áreas a leste do rio Prut e estabeleceram a República Socialista Soviética da Moldávia.

A maioria da população na Moldávia é etnicamente romena. Todos os que são de origem romena têm direito a um passaporte do país vizinho, e muitos moldavos fazem uso desse instrumento. Ter esse passaporte os torna cidadãos da União Europeia, pois a Romênia passou a fazer parte do bloco em 2007. Como a Moldávia é pobre, muitos habitantes do país usam o passaporte para emigrar e trabalhar em países da UE, podendo assim enviar dinheiro para suas famílias.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, e a primeira-ministra da Moldávia, Natalia Gavrilita Foto: Bogdan Tudor/AFP

Transnístria: O "conflito congelado"

No extremo leste do país, onde a Moldávia faz fronteira com a Ucrânia, fica a região separatista da Transnístria, uma estreita faixa de terra habitada por uma fatia significativa de russos étnicos. A região se declarou independente da Moldávia após um breve conflito militar em 1992. Os separatistas foram apoiados por tropas de Moscou. Ainda hoje, a Rússia mantém cerca de 1.500 soldados na região e realiza regularmente exercícios militares no local.

Aproximadamente 60% da população da Transnístria é russófona. Os separatistas batizaram oficialmente a região de "República Moldávia Peridniestriana", mas nem mesmo a Rússia a considera um Estado soberano.

As outras duas línguas oficiais da região são o romeno e o ucraniano. Juntamente com os russos, eles representam os três principais grupos étnicos que vivem na Transnístria. A população da região diminuiu ao longo dos anos em meio ao chamado "conflito congelado" entre separatistas e o governo da Moldávia. Hoje é estimada em 460 mil pessoas.

Os soldados russos baseados na região separatista são uma fonte de preocupação para o governo da Moldávia. Especialmente após uma autoridade militar russa ter afirmado recentemente que o controle do sul da Ucrânia daria à Rússia uma ligação direita para a Transnístria. O general russo em questão também usou a mesma linguagem de propaganda do Kremlin para justificar a guerra na Ucrânia, sugerindo, sem provas, que a minoria russa na região sofre com "opressão".

Prédio pintado com as cores da bandeira da Ucrânia em Chisinau, a capital da MoldáviaFoto: VLADISLAV CULIOMZA/REUTERS

Suíça do Leste Europeu

Em 1994, três anos depois de ter conquistado a independência, a Moldávia incluiu explicitamente uma cláusula de neutralidade na sua Constituição. Assim como a Suíça, o país afirmou que não quer tomar partido em conflitos internacionais. Especula-se se a adoção dessa política tenha visado incentivar as tropas russas a deixar a Transnístria — mas se foi esse o caso, a estratégia não funcionou.

A neutralidade também significa que a Moldávia não faz parte de nenhuma grande aliança, como a Otan, por exemplo. A pequena nação também não anunciou sanções contra Moscou desde o início da guerra na Ucrânia, mas a pró-europeia presidente do país, Maia Sandu, condenou publicamente as ações da Rússia. Esse parece ser o máximo que qualquer político moldávio está disposto a ir.

A Moldávia é um dos mais pobres países europeus e depende fortemente do fornecimento de gás russo. As recentes denúncias da Rússia sobre uma suposta "opressão" de russófonos no país e a presença permanente de tropas de Moscou na Transnístria têm levado muitos moldávios a temer que uma eventual vitória das forças invasoras russas na Ucrânia signifique que o Kremlin também está disposto a lançar mais uma campanha de agressão, desta vez contra seu pequeno país.