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Monti renuncia e Berlusconi volta à cena política na Itália

10 de dezembro de 2012

Logo após Mario Monti anunciar sua renúncia, Berlusconi iniciou sua campanha para voltar ao poder. Entretanto, novas forças políticas ofuscam o ex-premiê, indicando uma nova tendência no eleitorado italiano.

Foto: AP

"Agora Berlusconi que voltar e fazer o país retroceder cinco anos." Foi assim que Pier Ferdinando Casini, líder dos Democratas Cristãos, demonstrou seu descontentamento com o anúncio da candidatura de seu adversário político Silvio Berlusconi. Justo agora, quando os italianos vêm de um ano de sacrifícios para tentar evitar uma crise como a da Grécia, disse Casini à televisão estatal.

O último fim de semana foi de grandes mudanças no panorama político da Itália. O premiê independente Mario Monti, há 13 meses no cargo, anunciou sua intenção de renunciar tão logo a lei de estabilidade e orçamento seja adotada. Essa decisão veio após o partido Popolo della Liberta (PdL), do qual Berlusconi é fundador, retirar o apoio ao governo nas duas casas do parlamento. A saída de Monti pode ocorrer ainda antes do Natal, possibilitando a volta de do ex-premiê nas eleições de 2013.

Monti anunciou sua renúncia após perder apoio no parlamentoFoto: Reuters

Menor apoio a Berlusconi

Os observadores políticos acham improvável a volta do líder do PdL, aos 76 anos de idade, para um quinto mandato. As pesquisas indicam até o momento apenas 15% das intenções de voto para Berlusconi, bem atrás de Pier Luigi Bersani do cristão-social Partito Democratico (PD), que tem o dobro das intenções de voto.

O historiador e especialista em assuntos da Itália, Rudolf Lill, da Universidade de Colônia, considera "irracional" o anúncio de Berlusconi. "Esse jogo de cena não dará resutado, em razão de tudo o que ele já fez e pela situação em que o país se encontra hoje." Ainda que alguns de seus velhos seguidores continuem fascinados pelo ex-premiê, "a era de Berlusconi já passou", afirma Lill.

Modelos diferentes de democracia

O PD investiu alto na realização de suas eleições primárias, das quais participaram milhões de eleitores pelo país, consolidando a liderança de Pier Luigi Bersani. No PdL as primárias internas sequer vieram a ocorrer, uma vez que o ex-premiê se adiantou ao processo, declarando a sua própria candidatura.

"O partido de centro-esquerda é estruturado democraticamente enquanto seu adversário, o PdL se baseia no autoritarismo", compara Rudolf Lill. Berlusconi fundou o partido há alguns anos e é seu presidente, o que o permite utilizá-lo como trampolim para voltar à campanha eleitoral.

Pier Luigi Bersani venceu as primárias do PD e é o principal nome da centro-esquerdaFoto: Reuters

A hora de Bersani

Os especialistas aguardam agora o uso da máquina midiática de Berlusconi, que controla boa parte dos órgãos de imprensa italianos. Ainda assim, os analistas consideram o multimilionário ultrapassado politicamente.

Bersani conquistou espaço por seus próprios meios, afirma Lill. Críticos o acusam de ter um passado fortemente ligado ao comunismo. Mas segundo Lill, "Ao longo de sua carreira Bersani passou a adotar uma postura mais liberal e já se estabeleceu como a principal figura do mais forte partido italiano atualmente".

Ele gosta de fumar cigarrilhas e tem aparência jovial. Chama a atenção seu hábito de falar em metáforas. Lill considera Bersani como um bom nome para a sucessão de Monti, pois ele seria capaz de dar continuidade às reformas, mantendo acesa a esperança de recuperar a economia do país.

Grillo lidera Movimento 5 Stelle e já tem 20% das intenções de votoFoto: AP

Aspirações e medos da democracia italiana

A Itália está perto de sofrer uma paralisação política temporária. Caso Monti renuncie ainda este mês, as eleições gerais poderiam ser marcadas por confusões e distúrbios políticos. Uma das razões desse panorama instável é o comediante e blogueiro provocador Beppe Grillo. Seu "Movimento 5 Stelle" (Movimento 5 estrelas, em tradução livre), de origem populista e já bastante conhecido na internet, vem obtendo êxitos significativos em nível regional.

As pesquisas de opinião apontam Grillo à frente de Berlusconi e atrás de Bersani, com 20% das intenções de voto. O historiador Rudolf Lill considera o líder do 5 Stelle um "antipolítico". Caso ele entre de fato na disputa, poderá tornar o processo eleitoral ainda mais caótico, comprometendo a governabilidade no próximo ano.

Mas Lill também observa que a democracia na Itália está bem encaminhada. É possível perceber que o país está mais ativo política e democraticamente, afirma o historiador. As primárias do partido de Bersani confirmaram essa tendência. O resultado foi bastante positivo, e no momento a centro-esquerda parece estar amadurecida para poder governar.

Autora: Beate Hinrichs (rc)
Revisão: Francis França