Monumentos da era industrial ganham nova vida
31 de agosto de 2002Velhos galpões de máquinas, minas de carvão e altos-fornos desativados estão despertando para uma nova vida na região do Ruhr, no oeste da Alemanha. Eles vão servir de palco para o requintado programa da Trienal do Ruhr, que começou neste sábado (31), com grande entusiasmo do público.
Em 2002, 2003 e 2004, serão levados em 14 diferentes localizações entre as cidades de Hamm e Duisburg, mais de 70 representações teatrais, concertos e exposições. O programa deste ano estende-se até 13 de outubro e conta com a participação de conhecidos nomes do exterior, entre os quais a atriz francesa Isabel Adjani e os diretores Patrice Chéreau e Peter Sellars.
Passado e identidade —
A região que foi o principal centro de produção da máquina de guerra de Hitler e o motor do milagre econômico do pós-guerra presta-se na atualidade, como nenhuma outra, para uma reflexão acerca da Alemanha, na opinião de Gérard Mortier, diretor do festival.A reflexão sobre o passado alemão e a identidade alemã é, assim, o fio condutor do programa deste ano. O espetáculo musicado de abertura do evento é intitulado Alemanha, tuas canções (Deutschland, deine Lieder), em alusão ao nome do hino nacional, cujo texto é a Canção dos Alemães (Das Lied der Deutschen), escrita em 1841 pelo poeta Hoffmann von Fallersleben.
Outros pontos altos são a montagem de Sellars de Os Filhos de Herácules, de Eurípides, bem como a estréia mundial do White Oak Dance Project, coreografia de Richard Move, com o ícone da dança Mikhail Baryshnikov.
No ano que vem, Mortier pretende concentrar-se na cultura francesa, na elaboração do programa.
Entre Salzburgo e Paris
Gérard Mortier, que dirigiu o Festival de Salzburgo durante dez anos com grande sucesso, já tem um contrato para 2004: será o diretor-geral da Opéra National de Paris. Essa nomeação gerou descontentamento na Alemanha, com muitos temendo que o compromisso de Mortier com a região do Ruhr fosse para ele um simples intermédio.Em suas entrevistas recentes, o belga busca dissipar o ceticismo, acentuando o quanto acredita no potencial da antiga região industrial que, em sua opinião, possui "uma grande força emocional" em função de suas diferentes camadas sociais. "Vejo a Trienal do Ruhr como um grande experimento, que demonstrará se serei capaz de transmitir a arte clássica a um público moderno." E completa: "Estou certo desde já de que minha época mais feliz será aqui nesta região."