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SaúdeChina

Moradores de Pequim se preparam para nova onda de covid-19

William Yang
26 de abril de 2022

Temerosos de sofrer carestia como no lockdown em Xangai, residentes da capital estocam alimentos e outros artigos. Governo realiza testes em massa. Especialistas apontam para custos de estratégia chinesa de "covid zero".

Cidadãos enfileirados na rua para teste de esfregaço
Posto de testagem no bairro pequinês de FengtaiFoto: Andy Wong/AP/picture alliance

Com as medidas restritivas antipandemia entrando na quarta semana em Xangai, também Pequim se prepara para uma potencial onda de casos de covid-19. As autoridades locais pretendem testar 90% de seus 21 milhões de habitantes, segundo o veículo de imprensa estatal chinês Global Times.

A partir desta terça-feira, deverão ser realizadas três rodadas de testagem em 11 bairros da capital da China. Na véspera, já haviam começado os exames em massa no bairro de Chaoyang, onde se registraram 46 casos e mais de uma dezena de edifícios presidenciais foi posta em quarentena.

Residentes relataram à DW que postos de testes foram instalados em cada comunidade. "As maiores têm até dois postos, e todos os exames são grátis", contou à DW a moradora de sobrenome Lin. Além disso, funcionários da saúde foram de porta em porta convidando à testagem.

Segundo o vice-diretor do Centro Municipal de Prevenção e Controle de Doenças de Pequim, Pang Xinghuo, testes epidemiológicos iniciais mostram que a cadeia de transmissão está basicamente clara. No entanto, as autoridades alertam que ainda há risco de uma escalada do surto, pois se conta com um aumento do fluxo da população em torno dos feriados de maio.

O diretor da equipe de especialistas antiepidemia da cidade de Shenzhen, Lu Hongzhou, afirmou ao Global Times que os testes PCR em grande escala administrados por Pequim vão "ajudar muito a manter a epidemia sob controle".

Segundo Xi Chen, professor associado da Yale School of Public Health, nos Estados Unidos, as autoridades pequinesas parecem ter aprendido com a experiência em Xangai.

"O número de casos confirmados em Pequim no fim de semana passado era semelhante ao de Xangai em 3, 4 de março. Xangai esperou dez dias para apertar as medidas de saúde pública, e acabou aplicando um confinamento em 28 de março. O anúncio de Pequim de três rodadas de testagem em massa parece mais reativo, desta vez."

Imagens de prateleiras de supermercado vazias em Xangai assustam demais chinesesFoto: Hector Retamal/AFP/Getty Images

Estocagem de alimentos "relativamente racional"

Embora apenas 70 casos tenham sido registrados desde a última sexta-feira, as notícias de testes em massa levaram os pequineses a estocar alimentos e outros artigos básicos, devido ao medo de um confinamento súbito.

"Depois de ver o povo de Xangai com carência de gêneros de primeira necessidade durante o lockdown, muitos em Pequim acorreram aos supermercados e estocaram arroz, macarrão, papel higiênico e outros", confirmou o residente Guo.

Em contrapartida, diversos supermercados e plataformas de comércio eletrônico prometeram aumentar seus inventários, a fim de assegurar o acesso às mercadorias e, ao mesmo tempo, evitar que os preços disparem em meio a uma onda de covid-19. Segundo outro morador, Gu, a situação de armazenagem entre a população "se mantém relativamente racional".

Por outro lado, o professor de política de saúde e economia Chen frisa que a estocagem de frutas e verduras pode intensificar a desigualdade de distribuição de recursos, e que a as autoridades pequinesas deveriam priorizar o abastecimento regular de mercadorias frescas, evitando a penúria vivenciada por milhões em Xangai após um "lockdown não preparado".

Em contaste com o amplo descontentamento público em Xangai, moradores de Pequim consultados pela opinaram que a população permanecerá basicamente fiel às medidas antipandemia implementadas, confiando que confinamentos temporários e direcionados permitirão conter a propagação do coronavírus em apenas algumas semanas.

Custos da estratégia de zero covid crescem

Xi Chen, de Yale, discorda desse otimismo, apontando que os custos da estratégia chinesa de zero covid estão se acumulando rapidamente, e restrições em seguida a surtos locais podem criar mais tensões sociais e políticas em Pequim do que surtos em outras partes da China.

"Ao contrário de muitos países desenvolvidos, que têm ajudado comunidades, estabelecimentos comerciais e famílias a enfrentarem a pandemia com pacotes de estímulo e programas de previdências, esse tipo de medida ainda falta na China. Portanto, o governo tem que tentar ao máximo sustar o alastramento do vírus no curto prazo, a fim de evitar grandes rupturas para a economia e a sociedade."

Outros especialistas apontam que a variante ômicron do coronavírus, mais transmissível, impõe um dilema sério aos governos que ainda querem manter a estratégia de zero covid, já que controles rigorosos só prologarão a duração dos surtos locais, em vez de erradicar a transmissão local inteiramente.

Chen acrescenta que os custos da estratégia de zero covid dependem do tempo que o governo chinês levará para reduzir os contágios, e de como usará esse tempo para preparar a reabertura: "Se a China demorar muito a eliminar os casos de covid, ou se desperdiçar essa importante janela temporal, os custos totais serão consideravelmente altos."

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