População da capital do Irã foge após bombardeios israelenses a áreas residenciais e aviso de Donald Trump para que deixem a cidade "imediatamente". País não tem bunkers para civis nem sistemas de alerta.
Engarrafamentos se formaram nas ruas do norte de Teerã em meio a bombardeios israelensesFoto: Atta Kenare/AFP
As redes sociais foram tomadas por vídeos que mostram quilômetros de congestionamentos nas estradas e nas saídas da cidade. Longas filas se formaram também nos postos de gasolina e o combustível rapidamente se tornou escasso. "É difícil de acreditar, estamos no meio de uma guerra", relatam moradores em um desses vídeos.
A incerteza sobre o próximo alvo israelense tem impulsionado os iranianos a deixar a capital. "Não se sabe quando, e pior ainda, onde o próximo míssil poderá cair”, dizem testemunhas em outro vídeo.
O medo se acentuou após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicar nas redes sociais que os 10 milhões de moradores deveriam deixar a cidade "imediatamente". Segundo a agência de notícias DPA, partes da cidade já estão completamente desertas.
"Civis presos em fogo cruzado"
"Os civis iranianos estão presos em fogo cruzado", disse à DW a analista iraniano-americana Holly Dagres, pesquisadora sênior do Washington Institute.
"Os iranianos estão profundamente chocados e assustados neste momento. Por 46 anos, viveram numa república islâmica que, essencialmente, faz guerra contra seu próprio povo. Essa situação é resultado das decisões de um regime que o povo já não quer", disse a especialista sobre o regime comandado pelo aiatolá Ali Khamenei.
"Os iranianos não querem guerra nem derramamento de sangue. Estão completamente impotentes diante dessa situação", afirmou.
Bombardeios atingem áreas residenciais na capital iranianaFoto: Vahid Salemi/AP/dpa/picture alliance
Muitos não sabem como se proteger nem para onde fugir. Ao contrário das cidades israelenses, a capital iraniana não conta com abrigos antiaéreos. Por isso, o Irã anunciou que começaria a abrir mesquitas, estações de metrô e escolas para servirem como abrigos improvisados para civis.
A declaração provocou uma onda de indignação nas redes sociais. Muitos usuários iranianos criticaram a ausência de proteção contra a população.
"Esta não é uma guerra entre os povos iraniano e israelense, e deve acabar o quanto antes", escreveu o sociólogo Mehrdad Darvishpour, professor na Universidade de Mälardalen, na Suécia, à DW.
"A única forma de evitar uma destruição maior e descontrolada causada por essa guerra é que todos que defendem a paz e a democracia exerçam pressão global para deter os ataques israelenses e forçar o Irã a negociar."
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Israel diz que "moradores de Teerã pagarão o preço"
Desde o início do conflito, Israel bombardeou instalações nucleares, unidades de fabricação e manutenção de mísseis, além de campos de petróleo e gás natural iranianos. Contudo, os ataques rapidamente passaram a atingir também cidades.
Segundo o Irã, mais de 200 pessoas morreram nos bombardeios, a maioria civis. Outras 1.200 ficaram feridas.
A República Islâmica respondeu à agressão com baterias de mísseis que também atingiram cidades israelenses e deixaram 24 mortos. Quase 600 pessoas ficaram feridas.
Comércios foram fechados e ruas ficaram desertas na capital iranianaFoto: Atta Kenare/AFP via Getty Images
A escalada sem fim do conflito ampliou o medo e a sensação de impotência entre a população iraniana. Na manhã de segunda-feira (16/06), após ataques noturnos iranianos que causaram mais mortes em Israel, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, ameaçou retaliações diretas contra a capital. "Os moradores de Teerã pagarão o preço em breve", escreveu.
Horas depois, Katz amenizou a declaração. "Quero deixar claro o óbvio: não há intenção de prejudicar os habitantes de Teerã, como o ditador assassino faz com os moradores de Israel."
"Dizemos aos cidadãos de Teerã: 'Salvem-se!'", alertou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Contudo, não há informações sobre para onde as pessoas deveriam fugir ou onde estariam realmente seguras.
Muitos dos que fogem da área de Teerã seguem para o norte, em direção ao Mar Cáspio, para cidades menores no interior ou para as fronteiras do Irã.
As ruas antes movimentadas agora estão silenciosas. Alguns supermercados permanecem abertos, mas as prateleiras estão praticamente vazias. Quedas de energia e cortes de água acontecem com frequência, pressionando os moradores que já enfrentam temperaturas diárias acima de 35°C.
Estrangeiros fogem via Azerbaijão
Segundo a agência de notícias AFP, mais de 600 cidadãos estrangeiros de 17 países atravessaram do Irã para os vizinhos Azerbaijão e Armênia desde que Israel começou a atacar o país.
Cerca de 10 milhões de pessoas moram em Teerã. Muitos fogem para cidades no interior, afastadas de alvos militaresFoto: IRNA
Os países fazem fronteira com o noroeste do Irã. A travessia mais próxima, para o Azerbeijão, fica a cerca de 500 quilômetros de Teerã por estrada.
Os evacuados, que cruzaram a fronteira pelo posto de controle de Astara, na costa do Mar Cáspio, estão sendo transportados para o aeroporto de Baku e "levados para seus países de origem em voos internacionais", disse uma fontes à AFP.
O Azerbaijão fechou suas fronteiras terrestres em 2020 devido à pandemia de Covid-19 e as manteve fechadas desde então.
"Diante da necessidade de evacuação, o Azerbaijão abriu temporariamente sua fronteira para aqueles que deixam o Irã", disse o funcionário.
O mês de junho em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Ataque iraniano atinge hospital em Israel
A escalada militar entre Israel e Irã se agravou no sétimo dia do conflito, quando um míssel iraniano provocou danos ao principal hospital do sul de Israel e ataques aéreos israelenses atingiram uma importante instalação nuclear iraniana. O centro médico Soroka, na cidade de Bersebá, foi atingido por um míssil balístico, deixando vários feridos. (19/06)
Foto: Tsafrir Abayov/Anadolu /picture alliance
Milhares protestam na Argentina contra prisão de Cristina Kirchner
Apoiadores da ex-presidente da Argentina saíram às ruas em defesa da líder peronista, que começou a cumprir seis anos de prisão domiciliar por corrupção. Os manifestantes se concentraram em frente à casa do governo argentino e se espalharam pelas ruas vizinhas. Em discurso, Kirchner prometeu "voltar com sabedoria", apesar de não poder mais se candidatar a cargos públicos. (18/06).
Foto: Gustavo Garello/AP Photo/picture alliance
PF indicia Carlos Bolsonaro e Ramagem por "Abin paralela"
A PF concluiu a investigação sobre esquema de espionagem ilegal de celulares na Abin e indiciou mais de 30 pessoas, incluindo o ex-diretor da agência Alexandre Ramagem e o vereador Carlos Bolsonaro. A investigação mira servidores e políticos que teriam monitorado telefones e computadores de desafetos de Jair Bolsonaro durante seu governo. Ele é acusado de se beneficiar do esquema (17/06)
Foto: Fellipe Sampaio/STF
Agência para refugiados da ONU demitirá 3,5 mil funcionários
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) anunciou que cortará 3,5 mil empregos – quase um terço de seus custos com a força de trabalho – devido à escassez de recursos, e reduzirá a escala de sua ajuda em todo o mundo após uma queda no financiamento à ajuda humanitária, principalmente dos recursos vindos dos EUA sob Donald Trump. (16/06)
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Milhares protestam nos EUA contra Trump
Uma multidão tomou as ruas de 2 mil cidades americanas em oposição à gestão de Donald Trump, acusado de autoritário pelos manifestantes. O envio de forças federais para reprimir protestos em Los Angeles na última semana e a convocação de um desfile militar que acontece neste sábado em Washington também pautaram as críticas nos atos apelidados de "No Kings" (Sem Reis). (14/04)
Foto: Yuki Iwamura/AP/dpa/picture alliance
Israel e Irã trocam agressões em escalada militar
Israel lançou um ataque contra instalações nucleares do Irã, matando 78 pessoas, incluindo três dos chefes militares do país e dezenas de civis. A ofensiva desencadeou uma troca de agressões sem precendentes entre os países. Em retaliação, a República Islâmica disparou dezenas de mísseis contra Tel Aviv e Jerusalém, furando o Domo de Ferro israelense e ferindo 34 pessoas. (13/06)
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Queda de avião na Índia deixa mais de 200 mortos
Um avião da Air India com 242 pessoas a bordo caiu em uma área residencial logo após decolar perto do aeroporto de Ahmedabad, no oeste da Índia. Apenas um dos passageiros a bordo sobreviveu. A polícia indiana contabiliza ainda outras 24 vítimas que estavam no solo e morreram no momento do acidente. A causa do acidente está sendo investigada (12/06)
Foto: Ajit Solanki/AP Photo/picture alliance
Ajuda humanitária em Gaza na mira de militares israelenses
Pelo menos 21 palestinos morreram enquanto se dirigiam a locais de distribuição de ajuda humanitária em Gaza. Entidades denunciam, além da violência, quantidade insuficiente de alimentos, após meses de bloqueio à entrada de itens básicos por Israel. O exército israelense alegou que disparou "tiros de advertência". O número de palestinos mortos em 20 meses de guerra já supera 55 mil. (11/06)
Foto: Saeed Jaras/Middle East Images/AFP/Getty Images
Réu no STF, Bolsonaro é interrogado em processo da trama golpista
Ao longo de dois dias, ex-presidente e outros sete ex-auxiliares acusados de integrar "núcleo crucial" da trama golpista depuseram na Primeira Turma. Político negou ter discutido planos de golpe após perder a eleição e disse que só debateu medidas constitucionais com militares, mas que não editou "minuta do golpe". (10/06)
Foto: Fellipe Sampaio/STF
Israel detém barco que levava Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila
A Marinha de Israel interceptou um barco que tentava levar ajuda humanitária a Gaza. O veleiro Madleen, da iniciativa internacional Flotilha da Liberdade, levava 12 ativistas a bordo. Eles foram escoltados até um porto e, segundo o governo israelense, serão deportados. (09/06)
Trump chama militares para reprimir protestos na Califórnia contra prisão de imigrantes
O presidente americano Donald Trump enviou militares da Guarda Nacional a Los Angeles para conter protestos que eclodiram na esteira de uma série de operações de detenção de supostos migrantes irregulares. A medida não tem apoio do governo do estado da Califórnia, que acusou Trump de tentar provocar uma crise. (08/06)
Foto: Frederic J. Brown/AFP
Rússia amplia ataques contra 2ª maior cidade da Ucrânia
A Rússia executou diversos ataques no centro de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, deixando cinco civis mortos e mais de 61 feridos, incluindo um bebê e uma adolescente de 14 anos. Bombas planadoras, um míssil e 53 drones atingiram prédios residenciais. O prefeito do município classificou a ação como o ataque mais severo desde o início da guerra. (07/06)
Foto: Sofiia Gatilova/REUTERS
Marcelo livre
Um juiz americano determinou a libertação do estudante brasileiro Marcelo Gomes da Silva, de 18 anos, que chegou aos Estados Unidos com cinco anos de idade e foi detido pelo Serviço de Imigração (ICE) a caminho de um treino de vôlei. Ele ficou preso por cinco dias, durante os quais dormiu em chão de concreto, sem acesso a chuveiro, acompanhado de homens com o dobro da sua idade. (06/06)
Foto: Rodrique Ngowi/AP
Musk e Trump trocam insultos e rompem relações
Bilionário que atuou como conselheiro da Casa Branca criticou projeto de lei de Orçamento de Trump que prevê cortes de impostos e aumento de gastos batizado pelo presidente como "Big Beautiful Bill". Musk chegou a endossar impeachment de Trump e associou presidente ao pedófilo Jeffrey Epstein. Trump reagiu dizendo que Musk "enlouqueceu" e ameaçou cortar contratos da SpaceX com governo. (05/06)
Foto: Nathan Howard/REUTERS
Moraes ordena prisão de Carla Zambelli após deputada deixar o país
O ministro do STF acatou pedido da PGR de prisão preventiva contra a deputada federal e determinou a inclusão dela na lista de procurados da Interpol. Moraes determinou bloqueio de salários, bens, contas bancárias e perfis em redes sociais. Parlamentar deixou o país após ser condenada a 10 anos de prisão e à perda de mandato por envolvimento na invasão do CNJ. (04/06)
Foto: Adriano Machado/REUTERS
Governo da Holanda desmorona após saída de ultradireitista
Alegando insatisfação com a política migratória, Gert Wilders – também conhecido como "Trump holandês" – e seu partido deixaram coalizão de governo, levando primeiro-ministro Dick Schoof (foto) à renúncia após menos de um ano de mandato. Sem maioria no parlamento, Schoof permanecerá interinamente no cargo até a realização de novas eleições e formação de um novo gabinete. (03/06)
Foto: Peter Dejong/AP/picture alliance
Conservador Karol Nawrocki vence eleição presidencial na Polônia
Resultado é derrota para o governo do primeiro-ministro Donald Tusk e deve dificultar andamento de políticas pró-União Europeia. Apoiado pelo partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS), Nawrocki poderá vetar leis e desgastar o governo com bloqueios no Parlamento. Aliança frágil de Tusk pode não resistir até 2027. (02/06)
Foto: Czarek Sokolowski/AP/dpa/picture alliance
Ucrânia destrói aviões de guerra da Rússia em ataque massivo de drones
Na véspera de uma nova rodada de negociações de paz, Ucrânia e Rússia intensificaram sua ofensiva militar e protagonizaram ataques sem precedentes. Enquanto, Kiev destruiu 41 aviões militares na Sibéria, ofensiva de maior alcance no território russo em três anos de guerra, Moscou lançou número recorde de drones contra território ucraniano. (1º/06)