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Moradores se unem contra a especulação imobiliária em Berlim

16 de abril de 2018

Moradores de bairros como Kreuzberg e Neukölln saem às ruas contra a explosão dos aluguéis e a gentrificação, causadas por investidores. Capital alemã teve maior alta em preços de imóveis no mundo em 2017.

O bairro de Kreuzberg é um tradicional bastião da esquerda e de ambientalistas berlinensesFoto: Lars Wendt

Berlim é a cidade do mundo onde o preço dos imóveis mais subiu no ano passado. Segundo o jornal britânico The Guardian, somente em 2017 os preços aumentaram 20,5%. Desde 2004, o aumento foi superior a 120%. O mercado imobiliário da capital alemã foi invadido principalmente por investidores estrangeiros.

Essa especulação imobiliária, somada à gentrificação (o processo de valorização de áreas urbanas), reflete-se também na recente explosão dos valores dos aluguéis na cidade, o que tem obrigado antigos moradores e estabelecimentos comerciais tradicionais a deixar esses imóveis por não poderem mais pagar o preço pedido.

A jornalista Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

Quem conhece pessoas que moram em bairros como Kreuzberg ou Neukölln já deve ter ouvido histórias de prédios vendidos a investidores que, insatisfeitos com o valor cobrado nos aluguéis, resolvem fazer obras, na maioria das vezes desnecessárias, ou burlar regras que limitam o valor do aumento para assim cobrar mais dos inquilinos. Há casos em que o valor a mais pedido ultrapassa 400%. Aqueles que não têm um seguro que cubra despesas com advogado ou dinheiro para bancar uma batalha na Justiça acabam saindo do apartamento.

Para tentar mudar esse cenário e evitar que Berlim se torne impagável para grande parte da população, milhares de pessoas saíram às ruas da cidade no último sábado (14/04). A marcha, organizada por mais de 250 iniciativas que lutam por aluguéis justos, desde associações de aposentados até grupos punks, passando por sindicatos e igrejas, reuniu cerca de 25 mil pessoas, segundo os organizadores.

Os manifestantes exigem dos governos federal e local regras mais duras para evitar a "venda" da cidade a investidores e mecanismos eficientes para controlar os preços dos aluguéis. Eles desejam uma cidade para todos, não importa a idade, origem e classe social.

Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, Magnus Hengge, da iniciativa Bizim Kiez, que presta apoio a moradores em Kreuzberg, afirmou que metade dos berlinenses tem medo de não conseguir mais pagar o aluguel nos próximos dois anos. E, de fato, o tema está muito presente no cotidiano berlinense. "Onde você mora?" e "quanto você paga?" são as perguntas mais recorrentes em festas, eventos sociais ou reunião entre amigos na cidade.

Para tentar reverter essa evolução sombria, que está mudando o caráter social de Berlim, a pressão dos moradores é fundamental. No ano passado, por exemplo, após uma série de protestos, moradores de Kreuzberg conseguiram impedir que uma padaria tradicional fechasse suas portas após o investidor que comprou o prédio onde ela estava decidir expulsá-la do local por achar que a padaria não combinava mais com a região.

Esse é apenas um caso de sucessos da resistência dos moradores, que está aumentado nos últimos anos. Outro exemplo é do secretário de obras do distrito Friedrichshain-Kreuzberg, Florian Schmidt, que tem usado o direito de compra, previsto na legislação alemã, para adquirir pelo governo imóveis que seriam vendidos para investidores e, dessa maneira, garantir aluguéis justos para moradores. A política local do distrito, governado pelo Partido Verde ao lado dos social-democratas e A Esquerda, é recomprar a região e evitar que os tradicionais bairros populares e artísticos percam sua identidade.

As iniciativas que foram às ruas de Berlim no sábado pretendem continuar com os protestos e ações até que os governos local e principalmente federal garantam à população, através de uma legislação eficiente, que controle a especulação imobiliária, o direito à moradia.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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