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Moro mostra diálogo em que Bolsonaro cobra mudança na PF

25 de abril de 2020

"Mais um motivo para a troca", escreveu presidente depois de citar investigação contra deputados bolsonaristas. Alexandre Ramagem, figura próxima dos filhos de Bolsonaro, deve ser escolhido novo diretor da corporação.

Brasilien Brasilia | Sergio Moro, Justizminister | Rücktritt
Moro deixou seu “superministério” na sexta-feira e acusou Bolsonaro de interferência política na Polícia FederalFoto: Reuters/U. Marcelino

O ex-ministro da Justiça Sergio Moro revelou na noite de sexta-feira (24/04) uma troca de mensagens na qual o presidente Jair Bolsonaro cobra a troca do comando da Polícia Federal após citar uma investigação envolvendo aliados do governo. O material foi apresentado pelo Jornal Nacional, da TV Globo.

O diálogo, segundo Moro, ocorreu na última quinta-feira por meio do aplicativo Whatsapp. Uma reprodução mostra que o presidente enviou o link de uma reportagem do site O Antagonista que apontava que a Polícia Federal está "na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas". O texto aborda o inquérito das "fake news” que corre no Supremo Tribunal Federal (STF)

"Mais um motivo para a troca", escreve Bolsonaro em seguida, segundo o material divulgado por Moro, em referência a uma eventual troca do diretor-geral da corporação, com quem o presidente estava insatisfeito.

Moro, segundo o material, explicou então ao presidente que a investigação não havia partido do então diretor-geral Maurício Valeixo. "Esse inquérito é conduzido pelo ministro Alexandre, no STF", respondeu Moro, citando Alexandre de Moraes, ministro do Supremo.

"Diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas", completou Moro. "Conversamos em seguida, às 0900", finalizou o ex-ministro, citando um encontro que os dois teriam.

Na última sexta-feira, Sergio Moro, um controverso mas popular ministro do governo Jair Bolsonaro, pediu demissão após o presidente exonerar o diretor-geral Valeixo, passando por cima da pasta de Moro, ao qual a PF está subordinda. Em um pronunciamento no mesmo dia, Moro acusou o presidente de interferência política na Polícia Federal.

Segundo Moro, Bolsonaro queria na chefia da corporação "ter uma pessoa da confiança pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência" . Ainda segundo Moro, Bolsonaro "tinha preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal” e que uma "troca (no comando) também seria oportuna”.

Moro ainda acusou o governo de falsificar a publicação do Diário Oficial que oficializou a saída de Valeixo, que informou que a demissão ocorreu "a pedido” deste O ex-ministro afirmou que o ex-diretor nunca solicitou a demissão. A publicação ainda trazia a assinatura eletrônica de Moro. "Eu não assinei esse decreto", disse Moro.

Indicação ao Supremo

Bolsonaro rebateu algumas das acusações de Moro em um longo e confuso pronunciamento no final da tarde de sexta-feira. Ao lado de uma série de ministros remanescentes, Bolsonaro acusou Moro de condicionar uma troca no comando da PF a uma indicação do seu próprio nome para uma vaga no STF.

"Mais de uma vez, Moro disse para mim: 'você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o STF'", disse Bolsonaro.

Moro contestou a acusação de Bolsonaro em uma publicação no Twitter. "A permanência do Diretor Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF."

O material que Moro enviou ao Jornal Nacional também mostra uma recente troca de mensagens com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), uma aliada do presidente. No diálogo, ela pede que Moro aceite uma troca no comando da corporação como também a indicação de Alexandre Ramagem, atual chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), como novo diretor-geral da PF. "Por favor, ministro, aceite o Ramage (sic)", escreveu a deputada.

As mensagens mostram que Zambelli afirmou que, em troca, ajudaria a convencer Bolsonaro a indicar Moro para uma vaga no STF.

Ainda segundo as mensagens apresentadas por Moro, ele respondeu: "Prezada, não estou à venda".

Após a divulgação da mensagens, a deputada Zambelli não negou o conteúdo, mas disse que Moro foi "maligno" ao divulgar as mensagens. "Será que isso é só trairagem (sic)? Ou é crime também? Eu estou decepcionada", disse.

Na noite de sexta-feira, a imprensa brasileira apontou que Alexandre Ramagem, que além de chefiar a Abin é uma figura próxima dos filhos do presidente, especialmente do vereador Carlos Bolsonaro, deve ser indicado como novo diretor-geral da Polícia Federal. A nomeação ainda depende de publicação no Diário Oficial da União.

Investigação 

Ainda na sexta-feira, o ministro Celso de Mello, decano do STF foi sorteado como o relator do pedido de instauração de inquérito para apurar as acusações apresentadas por Moro contra Jair Bolsonaro.

O inquérito foi solicitado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) após o ex-ministro acusar Bolsonaro de interferência política.

JPS/ots

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