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Moro teria orientado Lava Jato a incluir prova em processo

5 de julho de 2019

Mensagens trocadas com Dallagnol, analisadas pela "Veja" e o "The Intercept", indicam diversas interferências do então juiz na operação. Conversas envolvem nomes como Eduardo Cunha e José Carlos Bumlai.

Sergio Moro
Segundo a "Veja", Moro teria chegado ao ponto de revisar algumas peças dos procuradores e "dava bronca neles"Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil

Mensagens trocadas entre o ex-juiz Sergio Moro e procuradores, divulgadas nesta sexta-feira (05/07), indicam que o atual Ministro da Justiça teria orientado ilegalmente ações da da operação Lava Jato, pedindo para que uma prova fosse incluída num processo e feito pressão contra a delação premiada do ex-deputado Eduardo Cunha, entre outras atitudes que comprometeriam sua imparcialidade.

As novas informações foram divulgadas através de uma parceria entre o portal The Intercept Brasil e a revista Veja. Segundo a revista, Moro também mandou acelerar ou retardar operações, fez pressão para que determinadas delações não andassem e teria chegado ao ponto de revisar algumas peças dos procuradores "e até dava bronca neles".

A revista afirma que uma conversa de 28 de abril de 2016 indica que Moro alertou o chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, sobre a falta de uma informação na denúncia de Zwi Skornicki, representante do estaleiro Keppel Fels, um dos principais operadores de propina no esquema de corrupção da Petrobras. Skornicki acabou se tornando delator na Lava Jato e admitiu o pagamento de propinas a vários funcionários da estatal, entre eles Eduardo Musa.

"Laura no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do Musa e se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e da tempo. Só é bom avisar ele", diz Dallagnol à procuradora Laura Tessler.

"Ih, vou ver", respondeu Tessler. No dia seguinte, o MPF incluiu um comprovante de pagamento de 80 mil dólares feito por Skornicki a Musa, e Moro aceitou a denúncia minutos depois. 

Em outra troca de mensagens, em 17 de dezembro de 2015, Moro cobra de Dallagnol que o MPF se manifeste sobre um pedido de revogação da prisão preventiva do pecuarista José Carlos Bumlai, acusado de gestão fraudulenta de instituição financeira e corrupção num caso que envolve empréstimos repassados ao PT em troca de contratos com a Petrobras.

Segundo a reportagem, Dallagnol responde que a tarefa "será feita". "Ate amanhã meio dia", teria escrito, acrescentando: "Seguem algumas decisões boas para mencionar quando precisar prender alguém…"

Em outra troca de mensagens, em 12 de junho de 2017, Moro teria se expressado contrariamente à possibilidade de uma delação premiada do ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. 

"Rumores de delação do Cunha... espero que não procedam", afirma uma mensagem do então juiz. Dallagnol responde com um sinal de afirmativo e diz que são "só rumores".

"Cá entre nós, a primeira reunião para receber anexos (nem sabemos o que virá) acontecerá na próxima terça. Sempre que quiser, vou te colocando a par", afirma o procurador. "Agradeço se me manter informado. Sou contra, como sabe", respondeu o juiz.

A palavra final sobre a proposta da delação de Cunha passaria para Procuradoria-Geral da república, uma vez que atingia políticos de foro privilegiado.

Nas mensagens, Moro interfere na agenda de procuradores da Lava Jato, pedindo que apressem requerimentos e até reclamando da demora do MPF em fazer declarações públicas que seriam conveniente aos processos sob sua tutela.

A Veja afirma que uma das "obsessões" do juiz seria manter os casos da Lava Jato em Curitiba sob seus auspícios, como ocorreu nos processos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva envolvendo o apartamento tríplex no Guarujá e o sítio de Atibaia.

Com base em diálogos, a reportagem afirma que "o magistrado mentiu a um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) ou, na hipótese mais benigna, ocultou dele uma prova importante" para que um processo não saísse de suas mãos.

Em agosto de 2015, Moro teria dito ao então ministro do STF Teori Zavascki que não sabia da existência de uma planilha que descrevia pagamentos a diversos políticos, para que um caso envolvendo o ex-presidente da AG Energia, do grupo Andrade Gutierrez, permanecesse em suas mãos.

A planilha em questão continha informações sobre pagamentos de propina feitos por empreiteiras, entre elas a Andrade Gutierrez, a Othon Luiz Pinheiro da Silva, da Eletronuclear, responsável pela construção da usina nuclear Angra 3.

A Veja afirma que, em parceria com o The Intercept, analisou 649.551 mensagens, "palavra por palavra". Em "carta ao leitor", a revista afirma que sempre foi e continua sendo a favor da Lava Jato, mas ressaltou: "Os diálogos que publicamos nesta edição violam o devido processo legal, pedra fundamental do estado de direito."

A Veja, que adotou diversas vezes uma postura favorável a Moro, exaltando seu papel à frente da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, diz que o juiz "deixou de lado a imparcialidade e atuou ao lado da acusação". "Embora ele tenha sido fundamental na luta contra a corrupção, não se pode fechar os olhos ante as irregularidades cometidas", conclui.

RC/ots

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