Sul-africana tinha 81 anos e sofria de duradoura doença, diz família. Ela foi casada com Nelson Mandela durante os 27 anos em que ele ficou preso e foi uma das vozes na luta pelos direitos dos negros na África do Sul.
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Winnie Madikizela-Mandela, ativista antiapartheid e ex-mulher do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, morreu nesta segunda-feira (02/04) aos 81 anos, segundo comunicou sua família.
"[Winnie] morreu pacificamente nas primeiras horas da tarde desta segunda-feira, cercada por sua família e entes queridos", informou uma nota divulgada pelo porta-voz Victor Dlamini.
Segundo o comunicado, a ativista morreu no hospital Milpark, na cidade de Joanesburgo, em decorrência de "uma longa doença pela qual foi hospitalizada várias vezes desde o início do ano". Em 20 de janeiro passado, ela recebera alta após ser internada com infecção nos rins.
A nota da família descreve a ativista como uma mulher que "lutou corajosamente contra o apartheid e sacrificou a sua vida pela liberdade do país".
"Ela manteve viva a memória do marido, Nelson Mandela, enquanto ele esteve preso em Robben Island [presídio próximo à Cidade do Cabo], e ajudou a dar à luta pela justiça na África do Sul uma das suas faces mais reconhecíveis", acrescenta o texto.
Winnie foi casada com o ex-presidente sul-africano por 38 anos, entre os quais 27 anos ela passou longe do marido, durante o longo tempo que Mandela passou na prisão – primeiro na ilha de Robben Island e, mais tarde, nas prisões de Pollsmoor e Drakenstein.
A imagem do casal caminhando de mãos dadas no dia da libertação de Mandela, em 1990, correu o mundo. Dois anos mais tarde, eles se separariam. O divórcio saiu em 1996, após um longo processo que envolveu revelações de infidelidade por parte de Winnie.
A luta antiapartheid
A ativista sul-africana nasceu em 26 de setembro de 1936 na província do Cabo Oriental, no sul do país, e, aos 19 anos, recebeu seu diploma de assistente social, uma exceção para uma mulher negra naquela época.
Winnie se casou com Mandela em junho de 1958 – ela com 21 anos e ele com quase 40, pai de três filhos e recém-divorciado de sua primeira mulher, Evelyn Ntoko Mase.
Com a prisão do marido, ela assumiu a liderança da luta contra o governo de minoria branca na África do Sul, mas passou a ser vista como uma ameaça para o movimento de libertação depois que começou a enfrentar acusações de assassinato e tortura contra supostos traidores.
Sua reputação foi fortemente prejudicada após um discurso que ela deu em 1986 endossando uma prática conhecida como "necklacing" como punição para traidores da causa defendida pelo Congresso Nacional Africano (ANC), de seu marido. O termo se refere ao método brutal de colocar um pneu em volta do pescoço de alguém e atear fogo.
Winnie foi presa diversas vezes por suas atividades antiapartheid. Em 1991, foi julgada e condenada a seis anos de prisão – sentença posteriormente convertida em multa – pelo sequestro de um jovem militante, Stompie Seipei.
Em 1998, a Comissão da Verdade e Reconciliação, encarregada de julgar os crimes políticos durante o apartheid, considerou Winnie "politicamente e moralmente culpada de enormes violações dos direitos humanos". Ela negou envolvimento em qualquer assassinato.
O arcebispo Desmond Tutu, que liderou a comissão, falou sobre Winnie na ocasião: "Ela foi uma tremenda fortaleza em nossa luta e um ícone da libertação – mas algo deu errado, terrivelmente e gravemente errado".
Nesta segunda-feira, em declaração após a morte de Winnie, Tutu afirmou que a ativista, com "sua coragem desafiadora", foi "profundamente inspiradora para mim e para uma geração de ativistas". "Ela negou se abater após a prisão de seu marido, o assédio perpétuo sofrido por sua família por forças de segurança, as detenções e proibições", lembrou o arcebispo, vencedor do Nobel da Paz.
Após Mandela ser eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, em 1994, Winnie ocupou o cargo de vice-ministra em seu governo, sendo mais tarde demitida por insubordinação. Em 2009, ela renovou a carreira política ao conquistar um assento no Parlamento sul-africano.
Winnie afirmou recentemente que visitara o ex-marido com frequência em seus últimos meses de vida, tendo estado presente quando ele morreu, em dezembro de 2013.
EK/ap/dpa/lusa/rtr
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Nelson Mandela: Uma vida pela liberdade
Sorridente: assim a maior parte dos sul-africanos pensa em Nelson Mandela. Até os 95 anos e carinhosamente apelidado de "Madiba" (seu nome xhosa), ele foi símbolo da nova África do Sul e de tolerância e paz para o mundo.
Foto: Getty Images
Primeiro escritório de advocacia para negros
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 na província do Cabo Oriental, na África do Sul. Já durante os estudos de Direito, mostrava-se politicamente ativo, lutando contra o sistema de segregação racial apartheid. Em 1952, passou a trabalhar no primeiro escritório de advocacia do país dirigido por negros – que oito anos mais tarde seria consumido por um incêndio.
Foto: AP
Apartheid
O apartheid – a separação estrita entre negros e brancos na África do Sul, na época governada pela minoria branca – marcou a infância e juventude de Nelson Mandela. Seu pai lhe deu o nome Rolihlahla, que na língua xhosa significa "o que quebra ramos", ou, figurativamente, "agitador". A placa mostra uma "área branca" numa praia sul-africana.
Foto: AP
O boxeador
Na juventude, Mandela foi um entusiasta do boxe. "No ringue, classe, idade, cor da pele e prosperidade não representam nada" – assim ele explicava o seu amor pelo esporte. Mesmo durante os anos de prisão, ele se manteve em boa forma física. Treinamento com pesos, abdominais e flexões faziam parte de seu programa diário.
Foto: Getty Images
Prisão perpétua
A polícia contém uma multidão reunida diante do tribunal onde se realizam as audiências contra Mandela e outros ativistas anti-apartheid, em 1964. No chamado Processo Rivonia, Nelson Mandela é condenado à prisão perpétua por suas atividades políticas.
Foto: AP
Décadas de confinamento
A vida em cinco metros quadrados: nesta pequena cela na Ilha de Robben, Mandela passa 18 de um total de 27 anos de pena. Ele é o detento número 46664. "Lá, eu só era conhecido como um número", comentou, após sua libertação em 1990.
Foto: cc-by-sa- Paul Mannix
A luta continua
Enquanto Nelson Mandela estava na prisão, outros faziam avançar a luta contra o apartheid, sobretudo a sua então mulher, Winnie Mandela (c.). Ela se tornou líder ativista contra o governo minoritário branco.
Foto: AP
Apoio mundial
No Estádio de Wembley, em Londres, promove-se em julho de 1988 um concerto beneficente por Mandela. Músicos de renome internacional celebram seu 70º aniversário e protestam contra a segregação racial. Cerca de 70 mil espectadores assistem no estádio às dez horas de show, outras centenas de milhares acompanham pela televisão o evento transmitido para 60 países.
Foto: AP
Enfim, livre
Após 27 anos de prisão, Nelson Mandela é libertado em 11 de fevereiro de 1990. Ele e a esposa Winnie erguem os punhos em sinal de orgulho pela luta de libertação negra contra o regime de minoria branca do apartheid.
Foto: AP
Retorno à política
De volta à liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), em maio de 1990 Mandela inicia as primeiras conversas com o então presidente sul-africano, Frederik Willem de Klerk (e.). Juntos, eles preparam o caminho para uma África do Sul sem apartheid. Por esses esforços, ambos são laureados com o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
Foto: AP
Companheiros de luta
Oliver Tambo (e) und Walter Sisulu (d) contam entre os companheiros mais próximos de Mandela. Em 1944, fundaram a ala jovem do CNA e organizaram manifestações contra o regime racista. Sisulu foi condenado à prisão perpétua, juntamente com Mandela; Tambo passou 30 anos no exílio, principalmente em Londres. Após 1990, todos os três ocuparam cargos de liderança no CNA.
Foto: AP
Posse como presidente
Em 10 de maio de 1994, a África do Sul escreve história: após as primeiras eleições livres e democráticas, Nelson Mandela é eleito primeiro chefe de Estado negro do país. Ele permanece no cargo até 1999, quando passa a presidência ao seu herdeiro político, Thabo Mbeki.
Foto: AP
Reconciliação em vez de vingança
Para esclarecer os crimes do apartheid, Mandela cria a Comissão da Verdade e Reconciliação em 1996. O arcebispo sul-africano e futuro Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu é indicado para presidi-la. A atuação da comissão não fica livre de críticas: muitas vítimas não conseguem aceitar que basta os criminosos admitirem seus atos publicamente para ficarem impunes.
Foto: picture-alliance/dpa
A caminho da Copa 2010
Em 15 de maio de 2004, a África do Sul é escolhida como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2010. Orgulhoso, Nelson Mandela ergue a taça. O país inteiro o aclama, em júbilo, como aquele que abriu os caminhos para o grande evento esportivo. Tratou-se do primeiro Mundial de futebol realizado em solo africano.
Foto: AP
Sombras sobre a Nação do Arco-Íris
Em 2008, a xenofobia e a violência eclodem em diversos bairros pobres das metrópoles sul-africanas. A brutal caça aos imigrantes leva à morte de várias pessoas. Muitos se perguntam: terá fracassado a "Nação do Arco-Íris" fundada por Mandela, em que todos deveriam conviver em paz?
Foto: AP
Da política à família
Nos últimos anos de vida, Nelson Mandela ficou mais afastado dos palcos públicos, recolhendo-se cada vez mais ao círculo familiar. Aqui, em 2011, ele festeja seus 93 anos, ao lado dos netos e bisnetos.