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Morre aos 100 anos o ex-presidente da Fifa João Havelange

16 de agosto de 2016

Dirigente brasileiro foi presidente do órgão máximo do futebol mundial de 1974 a 1998, período no qual tornou a Copa do Mundo um negócio bilionário. No fim da vida, foi acusado de corrupção.

João Havelange
Foto: picture-alliance/dpa

O ex-presidente da Fifa João Havelange morreu nesta terça-feira (16/08), aos 100 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava internado há uma semana no Hospital Samaritano, no Botafogo, por conta de uma pneumonia e vinha enfrentando problemas de saúde desde julho de 2015, quando também esteve internado por complicações pulmonares.

Havelange foi presidente da Fifa de 1974 a 1998, período no qual foi uma das pessoas mais influentes do esporte mundial. Foi na gestão dele que a Fifa passou por profundas mudanças, e a Copa do Mundo se expandiu para um grande negócio, movimentando enormes quantias de dinheiro.

Filho de um comerciante de armas belga de classe alta do Rio de Janeiro, Jean-Marie Faustin Godefroid de Havelange nasceu em 8 de maio de 1916 e se formou em Direito pela Universidade Federal Fluminense. Ele foi atleta em diferentes modalidades (natação e polo aquático) e se destacou em competições disputadas em piscinas internacionais.

Participou dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, como nadador, e de Helsinque, em 1952, como jogador de polo aquático. Até 2007, a competição da atual Liga Nacional de Polo Aquático masculina era chamada de Troféu João Havelange. No feminino, a disputa manteve seu nome até 2008.

Porém, Havelange ficou realmente conhecido quando se tornou dirigente esportivo. Primeiro, trabalhou na antiga Confederação Brasileira de Desporto (CBD), antecessora da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e depois no Comitê Olímpico Internacional (COI), do qual foi membro por mais de quatro décadas.

Em 1974, assumiu a presidência da entidade máxima do futebol mundial, a Fifa, cargo que deixou apenas em 1998, elegendo seu sucessor, o suíço Joseph Blatter. Para chegar lá, Havelange conquistou o apoio dos países em desenvolvimento, principalmente asiáticos, sul-americanos e africanos, a quem prometeu mais espaço no futebol mundial, em detrimento dos europeus.

Havelange e Teixeira foram acusados de receber propina na comercialização de direitos de marketing da Copa do MundoFoto: picture alliance/Agencia Estado

Copa do Mundo vira um grande negócio

Na Fifa, Havelange transformou o futebol num grande negócio. Participou da organização de seis Copas do Mundo e criou os Mundiais das categorias de base. Enquanto foi presidente, multiplicou o número de países que faziam parte da entidade, superando até mesmo a ONU, e ampliou a quantidade de seleções que disputam os Mundiais de 16 para 32.

Entre as novas competições criadas pelo dirigente estão os Mundiais Sub-17 e Sub-20, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo Feminina de Futebol.

Assim que assumiu a presidência, a Fifa contava apenas com 12 funcionários e tinha pouco dinheiro em caixa. Em sua página na internet, a federação ressalta que a gestão de seu presidente de honra foi um período "de muitas conquistas", especialmente "a transformação da Copa do Mundo em um evento duas vezes maior do que o torneio de apenas 16 equipes", como era quando ele assumiu.

Para observadores do mundo esportivo, no entanto, esta expansão do número de competidores e do volume de campeonatos – como os Mundiais sub-17, sub-20 e a Copa Feminina de Futebol, criada no início dos anos 90 – aconteceu sem o devido cuidado técnico. O intuito principal seria ampliar as possibilidades publicitárias e as negociações de contratos, irrigando assim os cofres da Fifa.

A estrutura atual da federação começou a ser montada no início da administração do carioca, com dois contratos com as multinacionais Adidas e Coca-cola, este último vigente até hoje. Ele havia conquistado a cadeira de presidente da Fifa com um simpático discurso de maior globalização do esporte, a partir de uma maior inclusão dos continentes americano, asiático e africano na Copa do Mundo. Ele mesmo foi o primeiro – e até agora, único – não-europeu a comandar a entidade.

A primeira Copa do Mundo já havia sido televisionada em 1970 e, quando Havelange assumiu a direção da entidade, em 1974, o mundo vivia um momento de plena difusão da transmissão a cores. Empresários da mídia corriam atrás de conteúdos e, com eles, de audiência. O ex-cartola, cuja habilidade empresarial já havia sido comprovada quando assumiu a direção da empresa de ônibus Viação Cometa, percebeu que tinha um excelente produto em mãos. "Ninguém diz 'não' ao futebol", chegou a dizer certa vez. Nascia, então, um negócio bilionário.

Acusações de corrupção

Havelange afirmava categoricamente que não fazia política. "Esporte e política não podem se misturar." Para muitos, no entanto, nenhum dirigente esportivo fez tanta política como ele ao aproximar-se de governantes e personalidades públicas mundiais para propagar o futebol.

O brasileiro com raízes belgas é mundialmente reconhecido, mas também um dos dirigentes esportivos mais questionados da história. Em 1998, quando saiu do comando da Fifa para ser substituído por Blatter, Havelange tornou-se presidente de honra.

Mas se viu forçado a deixar o cargo, após um relatório do comitê de ética da Fifa descrever como "moral e eticamente reprovável" o comportamento dele na relação com a empresa ISL, que negociava direitos de marketing com a Fifa. Em julho de 2012, ele o seu ex-genro, Ricardo Teixeira, foram acusados de embolsar milhões de dólares em propina em negociações envolvendo os direitos de transmissão da Copa do Mundo.

Pressionado pelas denúncias, em 2011 Havelange renunciou ao mandato que possuía havia mais de 40 anos no COI. Ele alegou problemas de saúde para deixar o órgão. Especulava-se, porém, que a decisão visava um drible na investigação ética do comitê – que poderia resultar em uma suspensão ou mesmo em sua expulsão do órgão.

AS/MS/dpa/efe

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