Artista foi autor de algumas das obras mais impressionantes da arte contemporânea, como o "embrulho" colocado na Pont-Neuf, em Paris, e no Reichstag, em Berlim.
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Morreu neste domingo (31/05), aos 84 anos, o artista plástico Christo, autor de algumas das obras mais impressionantes da arte contemporânea, como o "embrulho" colocado na Pont-Neuf, em Paris, e no Reichstag, em Berlim.
O artista, nascido Christo Vladimirov Javacheff, na Bulgária, morreu de causas naturais em sua casa em Nova York. "Ele viveu a sua vida ao máximo, não apenas sonhando com o que parecia impossível, mas realizando-o”, diz um post em sua página no Facebook.
"O trabalho artístico de Christo e [e sua esposa] Jeanne-Claude reuniu pessoas em experiências partilhadas em todo o mundo, e o seu trabalho continua a viver nos nossos corações e memórias", acrescenta o texto.
De acordo com o post, Christo e a esposa sempre manifestaram a intenção de que o seu trabalho continuasse após as respectivas mortes – Jeanne-Claude morreu em 18 de novembro de 2009.
Por isso, adianta o texto, cumprindo um desejo do artista plástico, a obra "L'Arc de Triomphe, Wrapped" (Arco do Triunfo embrulhado) em Paris, mantém-se para as datas previstas, de 18 de setembro até 3 de outubro de 2021.
Uma exposição sobre o trabalho e o tempo que Christo e Jeanne-Claude viveram em Paris estará aberta este ano, de 1 de julho a 19 de outubro, no Centro Georges Pompidou, na capital francesa.
Christo nasceu em 13 de junho de 1935, em Gabrovo, na Bulgária, de onde saiu em 1957, primeiro para Praga, na Tchecoslováquia, depois para Viena, na Áustria, e posteriormente para Genebra, na Suíça.
Em 1958, fixou-se em Paris, onde conheceu Jeanne-Claude Denat de Guillebon, que se tornou sua mulher e parceira nas monumentais criações artísticas. Depois, foram para Nova York, onde viveram durante 56 anos.
Desde os primeiros objetos até os projetos monumentais ao ar livre, Christo e Jeanne-Claude "embrulharam" monumentos em várias partes do mundo.
Entre os seus trabalhos estão "Wrapped Coast, Little Bay", em Sydney, na Austrália (1968-69), "Valley Curtain", no Colorado (1970-72), "Running Fence", na Califórnia (1972-76), "Surrounded Islands", em Miami (1980-83), "The Pont Neuf Wrapped", em Paris (1975-85), "The Umbrellas", no Japão e na Califórnia (1984-91), "Wrapped Reichstag", em Berlim (1972-95), "The Gates", no Central Park em Nova York (1979-2005), "The Floating Piers", no Lago Iseo na Itália (2014-16), e "The London Mastaba", no lago Serpentine em Londres.
Passadas duas décadas, "embrulho" do Reichstag continua sendo uma das ações mais espectaculares do casal de artistas Christo e Jeanne-Claude. Christo precisou lutar 23 anos pela sua aprovação.
Foto: picture alliance/dpa/W. Kumm
O triunfo
"Nós vencemos!", gritou Christo no dia 25 de Fevereiro de 1994. Após 23 anos de luta tenaz, o parlamento alemão finalmente aprovou seu projeto "Reichstag embrulhado". No dia 17 de Junho de 1995 chegavam os caminhões com a enorme quantidade de tecido. A ação, considerada até hoje espetacular, completa 20 anos e é homenageada em uma exposição.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Mãos à obra
Christo veste suas luvas de trabalho antes de dar início ao empacotamento. Desde 1971 ele e a esposa, Jeanne-Claude, tentavam convencer o parlamento alemão a autorizar a ação artística. Christo sempre foi um entusiasta da localização e simbologia do Reichstag. Mas foi justamente por se tratar de um símbolo histórico que o projeto suscitou debates acirrados no parlamento.
Foto: picture alliance/dpa/P. Grimm
Um símbolo de liberdade
Em 1978, Christo apresentou seu modelo no Museu de Design de Zurique. Para ele, o prédio construído no final do século 19 pelo imperador alemão Guilherme 2º era, apesar de sua história turbulenta, um símbolo de liberdade. A República de Weimar foi proclamada ali em 1918. O tema da liberdade acompanha Christo e sua arte desde que ele fugiu da Bulgária comunista, em 1951.
Foto: picture-alliance/akg-images/Niklaus Stauss
A coleção "Reichstag embrulhado"
O que foi visto em 1995, na abertura da exposição com Christo e Jeanne-Claude, retorna agora a Berlim. A coleção "Reichstag embrulhado" deve ser exposta após o recesso de verão do Parlamento. O artista búlgaro vai expor os 320 desenhos, modelos, colagens e fotografias, bem como os restos de panos, cordas e ganchos daquele tempo.
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Embrulho temporário
As obras de Christos são efêmeras. Como representante da chamada "Land Art", ele se voltou contra a propriedade de obras artísticas. Ele defendia que a arte nos espaços públicos pode ser apreciada por todos, ela não deve ser propriedade de ninguém. Christo considera durabilidade da obra como sinônimo de posse. Mesmo o Parlamento alemão só pôde ser visto embrulhado durante 14 dias.
Foto: picture alliance/dpa/W. Kumm
Um acontecimento
A última das 70 tiras de tecido prateado foi fixada no Parlamento dia 23 de junho de 1995. Mais de 100 mil metros quadrados de tecido, amarrados por vários quilômetros de cordas azuis, fascinaram os espectadores. Cinco milhões de visitantes passaram pela obra ao longo de 14 dias: um recorde mundial de público num intervalo tão curto de tempo.
Foto: picture-alliance/dpa/Kneffel
Empacotando o nada
Christo começou com seus empacotamentos espetaculares na década de 1960. Seu embrulho de 5,6 mil metros cúbicos na "documenta 4" de Kassel, em 1968, ficou famoso no mundo inteiro. Desde cedo, Christo embalou cadeiras, jornais e barris de petróleo, mas aquela era a primeira vez que o artista empacotava o ar.
Foto: cc-by-3.0/Dr. Ronald Kunze
A cortina no Vale Rifle
Na década de 1970, as ações de Christo e Jeanne-Claude foram ficando mais trabalhosas e coloridas. A fim de preservar sua liberdade artística, o casal financiava os próprios projetos com a venda de desenhos, fotografias e modelos. Um espetáculo: a cortina laranja esvoaçante de 400 metros de comprimento que Christo pendurou no Vale Rifle, no Colorado, em 1972.
Foto: picture alliance/Everett Collection
Um olhar diferente
Christo e Jeanne-Claude nunca tornaram objetos e edifícios irreconhecíveis. A estética era importante para ambos. Sob a cobertura, o objeto continuava à vista, para estimular a imaginação. Em 1985, os dois cobriram a Pont Neuf, em Paris. Com a variação do clima, o tecido cintilava em cores diferentes – a ponte se mostrava, literalmente, sob uma nova luz.
Foto: picture-alliance/dpa
Arte como espetáculo
Na década de 1990, as ações do casal de artistas foram ficando cada vez mais arriscadas. Em "The Umbrellas", no Japão e na Califórnia, um dos assistentes morreu durante a montagem dos 3 mil guarda-sóis. Depois disso, Christo só trabalhou com escaladores profissionais e engenheiros. A "família" de ajudantes está em constante expansão.
Foto: Getty Images/Gamma-Rapho/K. Kaku
Longa espera para "The Gates"
Christo envolve não apenas coisas, mas também paisagens e parques, como fez em 2005 com "The Gates", no Central Park de Nova York. Christo e Jeanne-Claude já tinham planejado os tecidos esvoaçantes para os portões na década de 1980, mas a aprovação levou ainda mais tempo do que a do Reichstag. Hoje, em geral, são preocupações ambientais que dificultam a liberação.
Foto: picture-alliance/Schroewig/Graylock
Work in progress
Christo já se acostumou a esperar. O artista, prestes a completar 80 anos, está trabalhando em três projetos simultaneamente. Alguns deles foram projetados com Jeanne-Claude, que morreu em 2009. Como a obra "The Mastaba", em Abu Dhabi, uma pirâmide gigantesca de 410 mil barris de petróleo. Por este primeiro grande projeto permanente, Christo poderia ganhar um monumento.