Premiado e polêmico, romancista de origem judaica é considerado um dos maiores autores americanos da segunda metade do século 20. Entre suas principais obras estão "O complexo de Portnoy" e "Pastoral americana".
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Morreu nesta terça-feira, aos 85 anos, o escritor americano Philip Roth, de insuficiência cardíaca num hospital de Nova York, comunicou o agente literário Andrew Wilie. O autor de origem judaica polaco-ucraniana publicou cerca de 30 livros. Em 2012, aos 78 anos, anunciou a decisão de deixar de escrever.
Roth, que nasceu em 1933 em Newark, em Nova Jersey, é considerado um dos maiores escritores americanos da segunda metade do século 20. O premiado romancista habitualmente era mencionado como candidato ao Prêmio Nobel de Literatura – prêmio que nunca lhe foi entregue. Sua extensa e premiada obra abordou, além do sexo, o desejo, a velhice e morte, o judaísmo e suas obrigações.
Seu maior sucesso veio com O complexo de Portnoy (1969), em que o protagonista, Alexander Portnoy, conta suas aventuras sexuais ao seu psiquiatra e vive atormentado pelo remorso e a obsessão pelo sexo. O livro teve grande impacto junto ao grande público devido às cruas descrições sexuais e à maneira de abordar a vivência judaica. A obra chegou a ser banida na Austrália.
O judaísmo sempre fez parte da carreira literária de Roth – por um lado, era tachado por críticos como o protótipo do escritor judeu, interessado em explorar a condição dos judeus em relação à sociedade, mas também enfureceu líderes da comunidade judaica com personagens marcados pela fraqueza e, em certa medida, até indignos.
Uma das críticas que recebeu após o lançamento de O complexo de Portnoy é que era o livro "pelo qual todos os antissemitas estavam rezando". Roth, no entanto, identificava-se como um escritor americano e não como judeu. "Não escrevo em judeu, eu escrevo em americano", dizia.
Feministas, judeus e uma de suas ex-mulheres atacaram-no em público, por vezes pessoalmente. As mulheres, nos seus romances, eram amiúde pouco mais do que objetos de desejo e raiva – Roth chegou a ser acusado de misoginia.
Outras obras famosas de Roth são as que compõem a chamada "trilogia americana": Pastoral americana (1997), Casei com um comunista (1998) e A marca humana (2000); assim como Complô contra a América (2004), onde relata uma versão alternativa da história americana pactuando com os nazistas.
Com Pastoral americana, Roth ganhou o Prêmio Pulitzer, um dos muitos de uma aclamada carreira, onde ficou faltando o Prêmio Nobel de Literatura, para o qual seu nome foi ventilado em diversas ocasiões.
Entre as várias distinções, Roth foi premiado com dois National Book Awards, dois National Book Critics Circle, dois prêmios Faulkner, com o Prêmio Internacional Man Booker em 2011 e, um ano depois, venceu o Prêmio Príncipe das Astúrias de Literatura.
No final dos anos 60, Roth sobreviveu a uma apendicite aguda e, em 1987, a uma depressão quase suicida. Em O teatro de Sabbath, o escritor imaginou a inscrição na sua lápide: "Sodomista, abusador de mulheres, destruidor de caráteres".
PV/efe/lusa/afp/rtr/dpa/ap
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Curiosidades sobre o Nobel de Literatura
O homenageado mais jovem, os mais controversos, os que não quiseram buscar o prêmio e outras curiosidades do Nobel de Literatura, que é concedido desde 1901.
Foto: picture alliance/dpa/V.Bucci
Por livro antigo
Quando Thomas Mann recebeu o Nobel de Literatura em 1929, não foi pela sua então obra mais recente, "A montanha mágica". O escritor foi homenageado por seu romance anterior, "Os Buddenbrook". Os jurados do Nobel na Suécia consideraram ""A montanha mágica" muito "prolixo e pesado", por isso optaram por uma obra mais antiga.
Foto: picture-alliance/dpa/Bifab
"Outros compromissos" mais importantes
Bob Dylan foi o primeiro músico a ganhar o Nobel de Literatur em 2016. Embora muitos músicos tenham celebrado o fato, Dylan demonstrou dar pouca importância ao prêmio. Ele não só não compareceu à cerimônia de entrega, alegando outros compromissos, como não enviou nenhum discurso para ser lido em sua ausência. Em março de 2017, então, ele deu uma passada por Estocolmo par apanhar sua medalha.
Foto: picture alliance/dpa/V.Bucci
Medo de aglomeração humana
Também a escritora austríaca Elfriede Jelinek não compareceu à cerimônia de premiação em 2004. Na época, alegou sentir medo em aglomerações humanas e da popularidade repentina: "Não estou em condições psíquicas de me expor a isso". Mas ela ao menos mandou um discurso por vídeo.
Foto: Imago/Leemage/S. Bassouls
Ameaça do regime soviético
O autor russo Boris Pasternak, famoso pelo romance "Doutor Jivago", foi homenageado em 1958. Seu governo, no entanto, o ameaçou de expatriação se aceitasse o prêmio. Pasternak não cedeu à pressão, o que lhe valeu a saída da Associação dos Escritores da União Soviética. Apesar de tudo, Pasternak permaneceu no país. A medalha pelo Nobel foi apanhada pelo filho dele em Estocolmo em 1989.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Outro prêmio controverso
A elite literária se indignou em 1997, alegando que o italiano Dario Fo, homenageado naquele ano com o Nobel de Literatura, era apenas um "bufão divertido e não um autor de classe mundial". Ao que o escritor respondeu com um discurso memorável ao receber o prêmio da Academia sueca.
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Nobel pela retórica
Por duas vezes, o então premiê britânico Winston Churchill esteve na lista de nomeados ao Nobel da Paz. Até que, em 1953, ele recebeu o prêmio, mas de Literatura. O júri elogiou sua "maestria na descrição histórica e biográfica" e por sua "brilhante oratória, em que defende os valores humanos".
Foto: picture-alliance/AP-Photo
Interesse pelo dinheiro do prêmio
Em 1969, o prêmio foi para o francês Jean-Paul Sartre. Mas ele surpreendentemente o negou, alegando que "todo prêmio cria a dependência". Mais estranho ainda foi que, alguns anos mais tarde, ele discretamente perguntou junto ao Comitê Nobel se não seria possível receber as 273 mil coroas suecas do prêmio.
Foto: picture alliance/AP Images
O mais jovem
O britânico Joseph Rudyard Kipling é o mais jovem agraciado com o Nobel de Literatura. Ele o recebeu em 1907, com 41 anos de idade, por suas histórias curtas e poemas sobre o tempo que passou na Índia e por suas famosas histórias infantis como "O livro da selva". Ele também foi o primeiro escritor britânico a ganhar o Nobel de Literatura.