Indicado ao Nobel de Literatura e detentor de dois Jabutis e do Prêmio Camões, escritor maranhense é conhecido por obras como "Muitas Vozes" e "Poema Sujo", considerado sua obra-prima. Ele morreu de pneumonia.
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O poeta, escritor, jornalista e teatrólogo Ferreira Gullar morreu neste domingo (04/12) no Rio de Janeiro, aos 86 anos. Ele estava internado por complicações respiratórias e morreu de pneumonia.
Gullar, cujo nome verdadeiro era José de Ribamar Ferreira, era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2014. Ele nasceu em São Luís do Maranhão em 10 de setembro de 1930.
O maranhense descobriu a poesia moderna aos 19 anos de idade, ao ler Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Segundo perfil no site da ABL, de início, o jovem ficou escandalizado com a poesia moderna, mas logo se tornou um poeta experimental radical.
"Eu queria que a própria linguagem fosse inventada a cada poema", disse ele. Em 1954, o livro A Luta Corporal o lançou no cenário literário. Os últimos poemas do livro provocariam o surgimento na literatura brasileira da "poesia concreta", de que Gullar foi um dos participantes. Mais tarde, ele passou a integrar o grupo neoconcreto, formado por artistas e poetas do Rio de Janeiro.
Gullar levou suas experiências poéticas ao limite da expressão, criando o Livro-Poema, o Poema Espacial e o Poema Enterrado. Este consiste numa sala no subsolo a que se tem acesso por uma escada; após penetrar no poema, deparamo-nos com um cubo vermelho; ao levantarmos este cubo, encontramos outro, verde, e sob este ainda outro, branco, que tem escrito numa das faces a palavra "rejuvenesça".
Luta política
Depois do Poema Enterrado, Gullar partiu para a luta política revolucionária. Ele aderiu ao Partido Comunista e passou a escrever sobre política e participar da luta contra a ditadura militar. Teve, então, de recorrer ao exílio em Moscou, Santiago do Chile, Lima e Buenos Aires.
Durante o exílio na capital argentina, ele escreveu o Poema Sujo, que com quase cem páginas é considerado sua obra-prima, tendo sido traduzido para várias línguas e publicado em vários países.
No campo do teatro, após o golpe militar de 1964, o escritor e um grupo de dramaturgos fundaram o Teatro Opinião, que teve importante papel na resistência à ditadura. Com Oduvaldo Vianna Filho, Gullar escreveu as peças Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come e A saída? Onde fica a saída?
Retorno ao Brasil e prêmios
O poeta voltou ao Brasil em 1977, e foi preso e torturado. Libertado por pressão internacional, ele voltou a atuar na imprensa carioca e, depois, como roteirista de televisão. Em 1980, Gullar publicou Na vertigem do dia e Toda Poesia, livro que reuniu toda sua produção poética até então.
Em 1999, ele publicou Muitas Vozes, que recebeu os principais prêmios de literatura daquele ano. Três anos depois, foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura.
Ele foi agraciado com o Prêmio Jabuti duas vezes, em 2007 e 2011, por Resmungos e Em Alguma Parte Alguma, respectivamente. Em 2010, Gullar recebeu o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário dos países de língua portuguesa.
LPF/abr/ots
Grandes nomes da literatura brasileira
Com influência multicultural, autores abordam de temas político-sociais a intimistas e autobiográficos. Nomes como Clarice Lispector, comparada a Kafka, e Paulo Coelho com sua busca espiritual, exemplificam diversidade.
Foto: Getty Images
Mestre do realismo
Vindo de família simples, Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro, em 1839. Começou a carreira literária colaborando com jornais e revistas. Sua obra inclui os clássicos "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "Dom Casmurro", romances marcados pelo realismo. Machado de Assis foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) e é considerado o maior escritor brasileiro.
Foto: Marc Ferrez/Instituto Moreira Salles
Representante do Nordeste
Nascido na Bahia em 1912, Jorge Amado foi traduzido para 49 idiomas e publicado em mais de 50 países. Entre seus romances mais conhecidos, estão "Capitães de Areia" e "Gabriela, Cravo e Canela", que retratam a realidade social baiana, marca da obra do autor. Foi membro da ABL, recebeu o Prêmio Camões pelo conjunto de sua obra e o título de doutor honoris causa pela Universidade de Sorbonne.
Foto: Getty Images
Kafka brasileira
A ucraniana Clarice Lispector chegou ao Brasil com um ano de idade, em 1926. Após o primeiro romance, "Perto do Coração Selvagem", vieram clássicos como "A Hora da Estrela e "A Paixão Segundo G.H.", marcados pela temática existencial e psicológica. Traduzida para diversos idiomas, foi descrita como o Kafka da ficção latino-americana no "New York Times" e biografada pelo americano Benjamin Moser.
Foto: Divulgação
Uma pedra no meio do caminho
Carlos Drummond de Andrade, nascido em 1902, foi cronista, contista e tradutor, mas foi como poeta que ganhou fama. Sua poesia divide-se em fases: irônica ou gauche; social; filosófica; nominal; e das memórias. Um de seus versos mais célebres é "Tinha uma pedra no meio do caminho", do polêmico poema "No meio do caminho". O influente poeta brasileiro foi traduzido para mais de dez idiomas.
Foto: Editora Record
Repórter de guerra
O escritor, professor, sociólogo, engenheiro e repórter Euclides da Cunha nasceu em 1866. Como correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo", cobriu a Guerra de Canudos, travada entre o Exército e sertanejos no interior da Bahia. A partir daí nasceu sua obra-prima: "Os Sertões". O livro de cunho sociológico foi traduzido para vários idiomas, entre eles alemão e inglês.
Foto: gemeinfrei
Conhecedor do sertão
Guimarães Rosa, nascido em 1908, ingressou na faculdade de Medicina com apenas 16 anos. Foi como médico que conheceu a realidade dos sertanejos, retratada em seus contos, novelas e no romance “Grande Sertão: Veredas”. Sua coletânea de contos “Sagarana” é considerada um dos volumes mais importantes da ficção brasileira do século 20. Pelo conjunto de sua obra, Rosa recebeu o Prêmio Machado de Assis.
Foto: Ed. Nova Fronteira
Ventos do sul
Nascido em 1905, Erico Verissimo desenvolveu já na infância o interesse pelos clássicos da literatura. Nos anos 1940, lecionou literatura brasileira nos EUA e começou a escrever a obra-prima "O Tempo e o Vento". A trilogia, que tem como pano de fundo a história de seu estado natal, Rio Grande do Sul, levou 15 anos para ficar pronta, virou série de televisão e foi traduzida para vários idiomas.
Foto: Companhia das Letras/Leonid Streliaev
Um brasileiro em Berlim
João Ubaldo Ribeiro nasceu na Bahia em 1941. Do nordeste brasileiro, o escritor preocupado com a identidade nacional partiria para o mundo. A carreira literária o levou aos EUA, a Portugal, à Alemanha. Dos 15 meses como bolsista do DAAD, saíram as crônicas reunidas no bem-humorado livro “Um brasileiro em Berlim“. Vários de seus livros foram publicados em alemão, incluindo “Viva o povo brasileiro“.
Foto: Bruno Veiga
Primeira presidente dos imortais
A carioca Nélida Piñon, nascida em 1937, foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras. Formada em jornalismo, teve seu contos, ensaios e romances traduzidos em vários países, inclusive Alemanha, e ocupou cátedras em diversas universidades estrangeiras. Entre os prêmios recebidos, está o Jabuti, pelo livro "Vozes do Deserto", que tematiza a mulher no mundo árabe.
Foto: Divulgação/Editora Record
Versos sujos e melódicos
Ferreira Gullar nasceu no Maranhão em 1930 e vive no Rio de Janeiro. Publicou o primeiro livro de poesia aos 19 anos. Membro do Partido Comunista, foi preso na ditadura e, durante o exílio, escreveu seu livro mais conhecido: “Poema Sujo“. Marcado pelas lembranças da infância, o cotidiano da cidade e a riqueza rítmica e melódica, o livro é considerado um dos mais importantes da poesia brasileira.
Foto: José Olympio Editora/Cristina Lacerda
Entre o mundo árabe e o amazônico
Filho de libaneses, Milton Hatoum nasceu em Manaus em 1952. Formado em Arquitetura, morou em Madri, Barcelona e Paris. De volta à Amazônia, publicou o primeiro romance: "Relato de um Certo Oriente". Já doutor em teoria literária, escreveu "Dois irmãos", trama sobre uma família libanesa que vive em Manaus. Estes e os livros seguintes receberam diversos prêmios e foram publicados em 14 países.
Foto: DW
Sucesso com a busca espiritual
Paulo Coelho, nascido em 1947, iniciou a carreira literária nos anos 1980. Da peregrinação pelo Caminho de Santiago, resultou o primeiro romance de destaque: "O Diário de um Mago". A busca espiritual continuou em "O Alquimista", livro brasileiro mais vendido de todos os tempos e mais traduzido no mundo (69 idiomas). Sua literatura, alvo de polêmica, lhe rendeu dezenas de prêmios e condecorações.