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Morre Ariel Sharon, linha-dura e idealista israelense

Andreas Gorzewski (av)11 de janeiro de 2014

De militar a político, biografia do líder conservador está intimamente ligada à do Estado israelense. Defensor intransigente da segurança nacional, para seu povo foi herói. Mas para muitos palestinos, um déspota.

Foto: Pedro Ugarte/AFP/Getty Images

O ex-primeiro-ministro de Israel Ariel Sharon morreu neste sábado (11/01) aos 85 anos de idade. A notícia foi divulgada no início da tarde (horário local) pela mídia israelense e confirmada posteriormente por parentes. Ele estava em coma havia oito anos após sofrer um derrame cerebral grave e vinha sendo acompanhado no Sheba Medical Center, em Tel Aviv.

O estado de saúde de Sharon piorou no início deste ano com a falência de órgãos vitais, entre eles os rins. "Ele se foi. Ele partiu quando decidiu partir", declarou Gilad Sharon pouco após a morte do pai.

Um linha-dura

Ariel Sharon foi muitas vezes descrito como brigão, linha-dura, "falcão". Segundo o título em inglês de sua autobiografia, Warrior, ele era um guerreiro. Dependendo da perspectiva, as reações a ele foram de reconhecimento e admiração ou de rejeição e ódio. Para muitos israelenses, ele era o "herói da guerra do Yom Kippur", carinhosamente apelidado "Arik". Para muitos palestinos, foi, juntamente com um chefe de milícia libanês, o "carniceiro de Sabra e Shatila".

Sharon nasceu em 26 de fevereiro 1928 como Ariel Scheinerman, nas proximidades de Tel Aviv. Seus pais eram judeus do Leste Europeu, que mais tarde mudaram o nome de família em homenagem ao Vale de Sharon.

A biografia do líder está estreitamente ligada à história do Estado de Israel. Na Guerra de Independência, em 1948, lutou contra as tropas árabes, como chefe de pelotão de uma brigada de infantaria. Em 1953, criou uma unidade especial para operações de retaliação a ataques de combatentes palestinos. Em 1973, sua travessia do Canal de Suez – temerária e aparentemente não autorizada – com uma unidade de encouraçados, ajudou a alcançar a vitória na Guerra do Yom Kippur.

De oficial a premiê

Como tantos outros políticos israelenses de ponta, Sharon utilizou sua trajetória militar como trampolim para uma carreira política. Entrou para o Parlamento representando o partido conservador Likud ("Consolidação" em hebraico). Tornou-se ministro da Agricultura e, mais tarde, da Defesa.

Ao lado de Shimon Peres (e), em 1975Foto: Hulton Archive/Getty Images

Nessa época, Israel invadiu o Líbano, com o fim de expulsar de lá a Organização pela Libertação da Palestina (OLP). Depois, uma milícia cristã aliada aos israelenses atacou os campos de refugiados palestinos de Sabra e Shatila, em Beirute, matando centenas. O massacre, perpetrado em território controlado por Israel, provocou protestos internacionais.

Uma comissão de inquérito israelense considerou Sharon corresponsável pela matança dos palestinos. Em 1983, ele renunciou ao Ministério da Defesa, mas permaneceu no gabinete como ministro sem pasta. Na Bélgica, um processo contra ele, pelos atos de violência, foi iniciado, mas em seguida abandonado. Na época, o sistema legal belga possibilitava tal tipo de ação jurídica, segundo o assim chamado "princípio do direito universal".

Como líder militar, a caminho de Beirute, em 1982Foto: AFP/Getty Images

A longo prazo, porém, tais percalços não prejudicaram a carreira de Ariel Sharon. Nos anos seguintes, ele assumiu os ministérios das Relações Exteriores, da Indústria e Comércio e da Construção Civil, entre outros. Em 2001, foi eleito primeiro-ministro. Após uma luta de poder dentro de seu partido, em 2005 renunciou à chefia de governo e abandonou o Likud, para fundar o novo partido centrista Kadima ("Adiante").

Intransigência e provocação

Em relação aos palestinos, Sharon destacou-se como linha-dura intransigente, tendo sempre a segurança de Israel como objetivo principal. Por ver com olhos críticos a ideia de um Estado palestino autônomo, manteve distância das negociações sobre autonomia.

Após uma série de atentados suicidas contra israelenses, ele responsabilizou o então presidente da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat, pela violência. Apesar das criticas internacionais, colocou o líder palestino sob prisão domiciliar, em sua sede presidencial, em Ramallah, na Cisjordânia.

Sharon também não hesitava em provocar, como ao mudar-se para um apartamento em plena zona árabe da cidade velha de Jerusalém. Em setembro de 2000, sua visita ostensiva a um dos locais mais sagrados para os muçulmanos, o Monte do Templo, acompanhado por mil policiais, desencadeou protestos dos palestinos. As batalhas de rua culminaram na Segunda Intifada, revolta violenta que durou quatro anos e meio.

"Falcão" se abranda

Mais tarde, o líder israelense abandonou em parte essa atitude inflexível. Justamente o veterano "falcão" ordenou a retirada das tropas militares e dos assentamentos judaicos da Faixa de Gaza. Em sua autobiografia, Sharon afirmava acreditar que judeus e árabes podem viver juntos.

Primeiro-ministro em 2001Foto: picture-alliance/dpa

Entretanto, na opinião do ex-embaixador israelense na Alemanha Avi Primor, o líder conservador permaneceu fiel a suas convicções fundamentais. "Ariel Sharon não mudou sua ideologia, nem sua política, e muito menos seus instintos", afirmou o diplomata em artigo para a revista Cicero. Sharon foi, antes, um realista que aceitou as circunstâncias em mutação.

Em 4 de janeiro de 2006, o então premiê sofreu um derrame cerebral grave e encontrava-se em coma desde então.

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