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Morre autor Erich Loest, cronista das duas Alemanhas

Susanne Gigerich / Susanne Dickel (av)13 de setembro de 2013

Entre prisão, censura e sucesso, trajetória do escritor natural do leste alemão atravessa história nacional, do nazismo à Reunificação, passando pela RDA comunista. País perde testemunha e observador minucioso.

Erich Loest em 2001Foto: picture-alliance/dpa

Há já dois anos, Erich Loest declarara que não tinha mais forças para escrever romances. Após longa enfermidade, ele morreu nesta quinta-feira (12/09). Segundo informações da polícia, o autor se atirou pela janela da Clínica da Universidade de Leipzig. Com ele, o país perde um dos mais importantes cronistas da história das duas Alemanhas.

Erich Loest nasceu em 24 de fevereiro de 1926 em Mittweida, Saxônia. Inicialmente queria estudar agronomia. Em 1944 filiou-se ao Partido Nacional-Socialista (NSDAP). Um ano mais tarde, era enviado para a guerra, na última mobilização de Adolf Hitler, e foi aprisionado pelas tropas dos Estados Unidos.

Nos anos do pós-guerra, sua convicção ideológica mudou: de autointitulado "nazista ardente", Loest se transformou em comunista fiel e membro do partido único da Alemanha Oriental, o SED. Ficou conhecido no país como autor já a partir de seu romance de estreia, Jungen die übrigblieben (Rapazes que sobraram, em tradução livre), de 1950.

Fora da RDA: Osnabrück, 1981Foto: picture-alliance/dpa

Mas então veio o 17 de junho de 1953: com a ajuda de tanques soviéticos, o regime do SED esmagou de forma sangrenta uma revolta popular. Loest criticou o governo comunista pelo ato, sendo, em consequência, enviado para o presídio do Stasi, o serviço nacional de informações, na cidade de Bautzen.

Censura e exílio voluntário

Após o "tempo assassinado", como descreveu os sete anos de prisão, ele retornou em 1964 a Leipzig, portanto severa doença gástrica e outras sequelas do cativeiro. E continuou onde fora obrigado a parar, na literatura e na vida.

Suas primeiras publicações em Lepzig ainda ocorreram sob pseudônimo. Em Bautzen, ele não fora explicitamente proibido de escrever, mas tal era impossível, na prática: ele fora privado de papel e lápis, e até mesmo sua esposa só podia visitá-lo uma vez a cada três meses. Quanto a ser publicado, nem pensar.

Enquanto existiu a República Federal Alemã (RDA), Loest nunca foi reabilitado: a sentença de 1957 só foi anulada em 1990.

Nos dez anos após o cumprimento da pena, ele escreveu 30 contos e 11 romances. Entre estes, Der Abgang (A partida), que reflete suas experiências na Segunda Guerra Mundial e como prisioneiro de guerra.

Em 1979, abandonou a federação de escritores da RDA, em protesto público pela censura de seu romance Es geht seinen Gang oder Mühen in unserer Ebene (A coisa vai andando, ou Dificuldades em nosso plano), lançado no ano anterior.

Segundo Erich Loest, a disputa em torno da obra culminou numa luta acirrada, constante, "na RDA, contra a RDA, pela minha literatura". Dois anos mais tarde, ele e toda sua família deixavam definitivamente a Alemanha comunista, em direção a Osnabrück e Bad Godesberg.

Em 1995, com o best-seller "Igreja de São Nicolau"Foto: picture-alliance/dpa

No Oeste, ele conquistou rapidamente um lugar como autor de prestígio. Algumas obras suas foram filmadas, entre as quais, um de seus romances mais conhecidos, Völkerschlachtdenkmal (Memorial da batalha popular, de 1984).

Observador meticuloso

Após a queda da União Soviética, Loest voltou a Lepizig. Seu best-seller Nikolaikirche (Igreja de São Nicolau, 1995) descreve a trajetória até a reunificação do país. Antes, ele tratara da vigilância pelo serviço secreto da RDA em Der Zorn des Schafes (A ira da ovelha, 1990) e Die Stasi war mein Eckermann oder: mein Leben mit der Wanze (A Stasi era meu Eckermann ou: minha vida com o grampo, 1991). Também em seus livros posteriores, Loest examinou a história alemã, instigando assim o debate público.

Por seu trabalho, Loest recebeu em outubro de 2012 o Prêmio da Associação dos Amigos do Memorial às Vítimas do Stasi. Como justificativa para a escolha, assinalou-se que ele conseguira comunicar a numerosos leitores na Alemanha um retrato realista da RDA como ditadura desumana.

O dom da observação meticulosa, a representação cuidadosa da realidade, foram suas marcas registradas. Com Erich Loest, o mundo literário alemão perde um repreensor incansável e testemunha histórica importante. Mas, acima de tudo, um ser humano íntegro e sensível, cujo caráter não permitia nem mesmo um olhar de cólera retrospectiva.

Loest ao lado do atual presidente Joachim Gauck, ao ser premiado em Berlim, 2010Foto: picture-alliance/dpa

Certa vez, Loest escreveu: "Não consigo me lembrar do dia da fundação da RDA, pois nesse dia me casei, e isso deve ter sido mais importante para mim do que a criação de mais um pequeno Estado na Europa Central".

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