Morre brasileira que caiu em trilha de vulcão na Indonésia
Publicado 23 de junho de 2025Última atualização 24 de junho de 2025
Juliana Marins, a brasileira de 26 anos que na semana passada caiu em um penhasco na trilha rumo ao cume do Monte Rinjani, na Indonésia, foi localizada sem vida nesta terça-feira (24/06). A informação foi compartilhada pelo perfil criado pela família da brasileira.
"Hoje, a equipe de resgate conseguiu chegar até o local onde Juliana Marins estava. Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu. Seguimos muito gratos por todas as orações, mensagens de carinho e apoio que temos recebido", diz a mensagem divulgada pela família.
A brasileira estava desaparecida desde sábado, quando caiu de um penhasco que circunda a trilha junto à cratera do vulcão. Ela sofreu uma queda inicial de aproximadamente 300 metros e, desde então, a sua localização estimada vinha se tornando progressivamente mais profunda, sugerindo que ela estava deslizando. Ela permaneceu no local sem água, comida ou roupas apropriadas para o frio.
A operação para alcançá-la num ponto profundo de formações rochosas foi interrompida várias vezes por causa do mau tempo. O chefe da equipe local de resgate, Muhammad Hariyadi, disse à Reuters que havia 50 pessoas envolvidas no resgate. Segundo ele, o terreno arenoso dificultava o resgate.
As críticas iniciais da família ao governo brasileiro foram, desde o acidente, substituídas pela confirmação de que autoridades acompanhavam os esforços de resgate. Na segunda-feira, o Itamaraty informou que dois funcionários da embaixada acompanhavam o resgate, enquanto o Brasil pediu reforço aos esforços de busca para o governo da Indonésia.
O pai da jovem conseguiu embarcar para Bali, na Indonésia, nesta terça, depois de encontrar dificuldades para chegar ao destino final, por causa do fechamento do espaço aéreo no Catar na segunda-feira. A não circulação de aviões resulta dos ataques pelo Irã contra bases militares dos Estados Unidos no território catari, num dos últimos desdobramentos do conflito no Oriente Médio.
Aventureira e corajosa
Juliana fazia a trilha com apoio de uma empresa de turismo. Ela estava num grupo com outros cinco turistas e um guia local.
Mais de três horas depois da queda, Juliana foi localizada pela primeira vez por imagens gravadas com um drone por outros turistas. O vídeo mostra que, no sábado, ela inicialmente parecia ter sobrevivido à queda do precipício e estava numa fresta entre rochas.
A jovem parecia ter dificuldade para se mover e estava sem os óculos, sem os quais não enxerga. Uma primeira tentativa de resgate teria falhado porque Juliana já não se encontrava mais no ponto onde havia sido filmada.
O parque, que continuava sendo frequentado por turistas, foi fechado apenas três dias depois da queda de Juliana. O Ministro das Florestas da Indonésia, Raja Juli Antoni, disse em nota que o objetivo era facilitar o trabalho dos socorristas e respeitar Juliana e sua família.
Formada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Juliana era de Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Ela já estivera no Egito por dois meses durante os estudos universitários e trabalhara na produção de um canal televisivo de esportes radicais.
O seu perfil no Instagram retratava Juliana como uma jovem viajante, em frequente contato com a natureza e dançarina de pole dance. Neste ano, a brasileira fazia um mochilão pela Ásia, tendo visitado Filipinas, Vietnã e Tailândia.
Condições adversas
À TV Globo, uma das companheiras de trilha de Juliana relatou que o grupo subiu 1,5 mil metros no primeiro dia até um acampamento. Um vídeo mostra as duas jovens decepcionadas com a vista totalmente encoberta por nuvens, falando em tom de brincadeira para a câmera.
Na manhã seguinte, foi retomado o percurso sob condições adversas. Segundo outros membros do grupo, estava frio, escuro, nublado e escorregadio, e parte do grupo seguiu na frente de Juliana, que tinha dificuldades para seguir o trajeto.
"A Juliana entrou em desespero porque não sabia o que fazer – e aí acabou culminando no sumiço dela. Quando percebeu que ela estava demorando muito, ele [o guia] chegou e viu que ela tinha caído lá embaixo", disse Mariana Marins, irmã de Juliana, ao programa Fantástico da TV Globo. Ela reproduzia informações fornecidas por funcionários do parque onde se localiza o vulcão.
Informações desencontradas
Houve desencontro nos relatos sobre as condições em que aconteceu a queda, que chegaram virtualmente à família no Brasil. Funcionários do parque disseram à família que o guia a deixara para trás quando ela expressou estar cansada demais para prosseguir a trilha. Já os companheiros de excursão disseram que o guia estava perto dela quando ela caiu.
Em entrevista ao jornal O Globo, o guia que acompanhava o grupo, Ali Musthofa, negou ter abandonado Juliana. Ele relatou ter aconselhado a jovem a descansar e combinado que a encontraria num ponto à frente, a três minutos de distância.
Também chegou aos seus parentes inicialmente o relato de que Juliana chegara a receber água, comida e agasalho após a queda. Depois, entretanto, a família voltou atrás, afirmando que recebera informações falsas. Circularam ainda imagens forjadas de um falso resgate, segundo Mariana.
À imprensa, a família da jovem inicialmente criticou o governo brasileiro por não fornecer informações precisas e viu negligência e lentidão na operação de resgate.
Em nota, o Itamaraty disse que "desde que acionada pela família da turista, a embaixada do Brasil em Jacarta mobilizou as autoridades locais, no mais alto nível, o que permitiu o envio das equipes de resgate para a área do vulcão onde ocorreu a queda, em região remota, a cerca de quatro horas de distância do centro urbano mais próximo."
ht/cn (Agência Brasil, ots)