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Morre Donald Rumsfeld, arquiteto da invasão do Iraque

30 de junho de 2021

Secretário de Defesa sob o governo George W. Bush tinha 88 anos. Sua gestão foi marcada por acusações de falta de planejamento nas guerras travadas pelos EUA nos anos 2000 e por uso de tortura em Abu Ghraib.

USA Ex- Verteigungsminister Donald Rumsfeld
Foto: Stephen Jaffe/AFP/Getty Images

O ex-secretário de Defesa dos EUA Donald Rumsfeld, o "falcão" que teve papel central no planejamento e execução das guerras do Afeganistão e do Iraque nos anos 2000, durante a presidência de George W. Bush, morreu aos 88 anos, anunciou sua família nesta quarta-feira (30/06).

"A história pode lembrar dele por suas realizações extraordinárias ao longo de seis décadas de serviço público, mas para aqueles que o conheceram melhor vamos lembrar de seu amor inabalável por sua esposa Joyce, sua família e amigos, e a integridade que ele trouxe para uma vida dedicado ao país ", declarou a família em nota.

"Os Estados Unidos são mais seguros" graças a Donald Rumsfeld, afirmou o ex-presidente George W. Bush em um comunicado, citando "um homem de inteligência, integridade e energia quase inesgotáveis" e que "nunca empalideceu diante de decisões difíceis". "Estamos de luto por um funcionário exemplar, um homem muito bom", acrescentou.

Carreira

Em uma trajetória pública que se estendeu por mais de 50 anos, Rumsfeld trabalhou diretamente para três presidentes dos EUA: Richard Nixon, Gerald Ford e George W. Bush. Sob o governo Nixon, nos anos 1970, Rumsfeld foi responsável por empregar em seu gabinete Dick Cheney, que décadas mais tarde se tornaria vice-presidente.

Após a queda de Nixon, Rumsfeld assumiria inicialmente a posição de chefe de gabinete do governo Ford. A partir de 1975, assumiu pela primeira vez o cargo de secretário de Defesa, em um período em que os EUA tentavam reorganizar suas forças após o fim da Guerra do Vietnã.

Em 1977, ele se voltou para o setor privado, mas ainda assumiu missões como enviado especial no Oriente Médio durante o governo de Ronald Reagan, chegando a visitar o ditador iraquiano Saddam Hussein em 1983.

Em 2001, sob George W. Bush, Rumsfeld voltou a assumir a antiga posição de secretário de Defesa, com o apadrinhamento do seu antigo aliado Dick Cheney, então já vice-presidente dos EUA. Os primeiros meses da sua gestão foram marcados pelos ataques terroristas do 11 de Setembro. Com os EUA em choque por causa dos ataques, Rumsfeld liderou os esforços de planejamento e execução para invadir o Afeganistão e o Iraque, durante a chamada "Guerra ao Terror".

Richard Clarke, que ocupava o cargo de especialista antiterrorismo do governo, afirmou em suas memórias que Rumsfeld já defendia atacar o Iraque nos dias seguintes aos atentados, embora as evidências apontassem para a rede Al Qaeda, liderada por Osama bin Laden, que estava escondido no Afeganistão.

As invasões de Afeganistão (2001) e Iraque (2003) se revelariam extremamente desgastantes para os EUA nos anos seguintes e resultariam em centenas de milhares de mortes nos dois países. Na posição de secretário de Defesa, Rumsfeld defendia que os EUA eram capazes de executar guerras rapidamente com o uso de pequenas forças militares, no que ficou conhecido como a "Doutrina Rumsfeld".

Em contraste com a Guerra do Golfo, na qual os EUA usaram quase 700 mil militares para libertar o Kuwait, a invasão do Iraque teve inicialmente apenas 130 mil soldados americanos, numa área de operações muito maior. Críticos apontaram que a escassez de tropas de ocupação contribuiu para que vastas áreas do Iraque ficassem sem qualquer segurança, ficando abertas para o fluxo de combatentes estrangeiros e o surgimento de novas redes terroristas. Uma violenta insurreição começou poucas semanas após a queda do regime iraquiano. Rumsfeld repetidamente tentou minimizar a violência que eclodiu no país. “Coisas acontecem”, disse o então secretário em abril de 2003, enquanto o Iraque era sacudido por saques.

Para justificar a invasão do Iraque, o governo de George W. Bush afirmou que o regime do ditador Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa e até mesmo ligações com a Al Qaeda. Um relatório  do Pentágono revelou em 2007 que um assessor de Rumsfeld, Douglas J. Feith, fabricou falsas alegações de ligações entre Saddam Hussein e a rede terrorista. Já as supostas armas de destruição em massa nunca foram encontradas.

Em janeiro de 2003, depois que os governos da Alemanha e da França expressaram oposição com a invasão iminente do Iraque, Rumsfeld rotulou os países como parte de uma "Velha Europa".

No mesmo ano, ele foi alvo de críticas severas por causa do episódios de tortura de prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib. Em 2004, um promotor alemão chegou a receber uma queixa criminal que acusava Rumsfeld e 11 outras autoridades americanas como criminosos de guerra, mas o Ministério Público da Alemanha evitou prosseguir com o caso.

Em 2006, com o Iraque sacudido por ataques terroristas e violência entre xiitas e sunitas, Rumsfeld perdeu apoio político. Oito generais americanos da reserva chegaram a pedir publicamente a sua demissão. Bush chegou a afirmar que desejava manter o secretário, mas Rumsfeld finalmente apresentou sua demissão em novembro do mesmo ano.

Nos anos seguintes, ele se dedicou a escrever um livro de memórias e a administrar sua fundação.

 Ele nunca expressou arrependimento por suas ações e em 2011 afirmou que "livrar a região do regime brutal de Saddam criou um mundo mais estável e seguro".

jps (ots)

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