Schmidt governou a Alemanha de 1974 a 1982, e seu governo foi marcado pela crise do petróleo e pelo combate ao terrorismo da RAF. Ele tinha 96 anos.
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O ex-chanceler federal da Alemanha Helmut Schmidt faleceu nesta terça-feira (10/11), aos 96 anos, na sua residência, em Hamburgo. A morte foi confirmada pelo seu médico. O estado de saúde do ex-chanceler havia se deteriorado muito ao longo do fim de semana passado.
No início de setembro, o ex-chanceler federal havia sido submetido a uma operação devido a um coágulo sanguíneo na perna. Depois de duas semanas, ele deixou o hospital, mas contraiu uma infecção, que o deixou com febre alta nos últimos dias.
Schmidt foi chanceler federal de 1974 a 1982, dando continuidade ao governo da coalizão entre Partido Social-Democrata (SPD) e Partido Liberal Democrático (FDP), iniciado em 1967 com o chanceler federal Willy Brandt.
Brandt deixara o governo em 1974, em meio a um escândalo de espionagem por parte da Alemanha Oriental. Günter Guillaume, um assessor próximo de Brandt, era na verdade um espião comunista.
No governo Brandt, Schmidt havia sido líder da bancada social-democrata no Bundestag (câmara baixa do Parlamento) e ministro da Defesa e, a partir de 1972, das Finanças. Quando Brandt deixou o governo, Schmidt era seu sucessor natural.
Entre os principais desafios enfrentados por Schmidt durante seu governo estão a crise do petróleo e a consequente recessão internacional e o terrorismo da Fração do Exército Vermelho (RAF). O ponto máximo desse terrorismo foram os sequestros do empresário alemão Hanns-Martin Schleyer e de um avião da Lufthansa na capital somali, Mogadíscio, em outubro de 1977.
O objetivo de ambos os atos era pressionar pela libertação de terroristas da RAF de prisões alemãs, mas Schmidt se mostrou inflexível. Numa ação extremamente arriscada, ordenou que o avião da Lufthansa fosse libertado por uma unidade especial da polícia alemã.
Schleyer foi morto pelos sequestradores, depois de o governo alemão se negar a atender às exigências deles. Schmidt assumiu a responsabilidade política pela morte do empresário. Os sequestros e a crise que se seguiu entraram para a história como o Outono Alemão.
Em 1979, Schmidt apoiou a instalação de novas armas nucleares na Alemanha Ocidental pela Otan, entrando em conflito com o próprio partido e também com o FDP, parceiro de coalizão. Em 1982, os ministros do FDP deixaram o governo, o que levou ao fim da era Schmidt.
Com o apoio do FDP, a União Democrata Cristã (CDU), liderada por Helmut Kohl, retornou ao governo alemão ainda em 1982.
Schmidt, que nascera em 23 de dezembro de 1918 em Hamburgo, permaneceu até 1987 no Bundestag. Em 1983, ele se tornou um dos editores do jornal alemão Die Zeit e passou a publicar artigos e livros. Aos poucos, tornou-se uma das vozes mais ouvidas e respeitadas da sociedade alemã.
AS/dpa/epd/dw/afp
Willy Brandt e a aproximação com o Leste
A foto do então chefe de governo alemão se ajoelhando em frente ao memorial às vítimas do regime nazista na Polônia fez história. Uma retrospectiva da vida do social-democrata e Prêmio Nobel da Paz Willy Brandt.
Foto: picture alliance / Klaus Rose
Quando palavras não bastam
Em 7 de dezembro de 1970, na Polônia, o chanceler federal Willy Brandt se ajoelha diante do memorial aos mortos no levante do Gueto de Varsóvia. Ao homenagear as vítimas do nazismo, ele fazia um pedido de desculpas silencioso pela culpa alemã na guerra. A foto correu mundo. Em 18 de dezembro de 2013 Brandt completaria 100 anos. Uma retrospectiva da vida do chefe de governo e Prêmio Nobel da Paz.
Foto: picture-alliance/dpa
Resistência no exílio
Herbert Frahm é o nome original do político natural de Lübeck. Quando os nazistas assumem o poder, em 1933, o filho ilegítimo adota o nome da mãe, Brandt. Social-democrata convicto, entra para a clandestinidade, temendo a perseguição, e depois foge para Oslo. Na Escandinávia trabalha como jornalista, organizando de lá a resistência dos socialistas alemães exilados contra Hitler.
Foto: WBA im AdsD der FES
Prefeito de Berlim
Após o fim da guerra, em 1945, Brandt voltou para a Alemanha. Como deputado por Berlim, fez parte do primeiro Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão. Em 1957, tornou-se prefeito da metrópole. Quatro anos mais tarde era construído o muro que dividiu a cidade. Brandt se engajou veementemente para que Berlim permanecesse parte da República Federal da Alemanha e, portanto, do Ocidente.
Foto: picture-alliance/dpa
Visita de Kennedy a Berlim
Dois anos após a construção do Muro, o presidente americano John F. Kennedy visitou Berlim. Junto ao prefeito Brandt e ao chanceler federal Konrad Adenauer, ele passeou em carro aberto pela metrópole, e em seguida fez um discurso inflamado sobre o valor da liberdade. Ao dizer em alemão a frase "Eu sou um berlinense", expressou sua solidariedade com os alemães ocidentais e os habitantes da cidade.
Foto: dpa
Braço-direito de Brandt
No início da década de 60, Brandt desenvolveu, com seu aliado Egon Bahr, as bases de sua nova política para o Leste. Sob o slogan "Mudança através da aproximação", o social-democrata e seu futuro ministro apostaram em se avizinhar dos Estados do Leste Europeu, em vez de intimidá-los. Assim, Brandt também esperava melhorar as relações com a República Democrática Alemã (RDA), sob regime comunista.
Foto: picture-alliance/Sven Simon
Premiê na terceira tentativa
Após perder duas eleições parlamentares, em 1961 e 1965, em vez de chanceler federal Brandt se tornou ministro do Exterior. Mas o sucesso foi alcançado em 1969, quando ele se tornou o primeiro chanceler federal social-democrata da RFA. Apesar de a maioria de votos ter cabido aos democrata-cristãos, uma coalizão com os liberais assegurou a Brandt maioria no Parlamento.
Foto: picture-alliance/dpa
Cúpula teuto-alemã
Em Erfurt, na Alemanha Oriental, pela primeira vez o chanceler federal Willy Brandt se encontrou com o então primeiro-ministro da RDA, Will Stoph. A multidão festejou o chefe de governo da RFA – para embaraço da liderança comunista da RDA. Milhares acorreram ao hotel dos chefes de governo, aclamando-o e chamando: "Willy Brandt à janela!"
Foto: picture-alliance/dpa
Prêmio Nobel da Paz
Em 10 de dezembro de 1971, Willy Brandt recebeu em Oslo o Prêmio Nobel da Paz. Da exposição de motivos constava que, em nome do povo alemão, o chanceler federal havia "estendido a mão para uma política de reconciliação entre antigos países inimigos". Assim, Brandt era homenageado por sua política, que contribuiu para uma distensão entre Leste e Oeste, durante a Guerra Fria.
Foto: picture alliance/dpa
Votação duvidosa
Em protesto contra a política de Brandt para o Leste e a renúncia a antigos territórios alemães em regiões do Leste Europeu, diversos membros do governo passaram para a oposição. Em 1972, esta tentou derrubar Brandt com uma moção de desconfiança, mas a votação fracassou, surpreendentemente. Mais tarde soube-se que o Stasi, polícia secreta da RDA, havia subornado alguns deputados.
Foto: picture-alliance/AP
Caso Guillaume
O estopim da súbita renúncia de Brandt, em 1974, foi o desmascaramento de seu colaborador próximo Günter Guillaume, como espião da Alemanha Oriental. Acredita-se que Guillaume e sua esposa espionaram durante quase 20 anos na RFA. Mas há suspeitas de que a renúncia de Brandt tivesse também outros motivos: até hoje, especula-se sobre casos amorosos e uma possível depressão.
Foto: picture-alliance/akg-images
Adversários perpétuos
Após a renúncia de Brandt seu correligionário Helmut Schmidt tornou-se novo chanceler federal da Alemanha. Embora Schmidt tenha sido ministro da Defesa e depois das Finanças sob Brandt, ambos permaneceram concorrentes ferrenhos. No entanto seus estilos políticos eram totalmente diversos: Brandt é visto como um visionário, que se ama ou se despreza; Schmidt, por sua vez, é estimado como pragmático.
Foto: picture-alliance/dpa
Social-democrata do mundo
Em 1976, Brandt se tornou presidente da Internacional Socialista, a federação mundial dos partidos trabalhistas e social-democratas. Nessa função, encontrou-se com chefes de Estado como Fidel Castro, Mikhail Gorbatchov e o líder palestino Yasser Arafat. Sob Brandt , a organização voltou a ser uma voz respeitada na política internacional.
Foto: picture-alliance/dpa
Fim da "Cortina de Ferro"
Em 9 de novembro de 1989, cai Muro de Berlim, que dividira a cidade por 28 anos. Já na manhã seguinte, Willy Brandt voou para a metrópole. Em seu discurso, ele expressou gratidão por poder vivenciar aquele dia especial. Referindo-se à reunificação da Alemanha e da Europa, Brandt disse: "Agora cresce junto o que foi criado para estar junto."