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Morre Hugh Hefner, fundador da "Playboy"

28 de setembro de 2017

Magnata morreu aos 91 anos e deixou como herança revista que ajudou a definir a cultura sexual na segunda metade do século 20. Lançada em 1953, publicação nasceu como desafio a conservadores códigos morais nos EUA.

A Playboy levou o sexo para conversas convencionais e ajudou a definir a cultura sexual na segunda metade do século 20Foto: picture-alliance/AP Photo/K. Dowling

O carismático fundador da revista Playboy, Hugh Hefner, morreu aos 91 anos, em sua casa, a Mansão Playboy, em Los Angeles. Hefner morreu de causas naturais, comunicou a Playboy Enterprise, a empresa matriz do império Playboy, nesta quarta-feira (27/09).

Além disso, a conta do Twitter da Playboy publicou uma foto de Hefner e destacou uma frase dita por ele em uma de suas entrevistas: "A vida é muito curta para viver o sonho de outra pessoa".

Hefner fundou a Playboy em 1953, depois que os diretores da revista Esquire negaram um aumento de 5 dólares em seu salário. Ele aproveitou a onda da "revolução sexual" das décadas de 1960 e 1970, com uma abordagem que combina imagens de mulheres nuas com artigos e entrevistas. Famosa pelo "coelho" que a representa, a revista nasceu como um desafio aos conservadores códigos morais que regiam os EUA naquela época. 

"Quando Hef [Hugh Hefner] criou a Playboy, ele fez isso para defender a liberdade pessoal e sexual em um momento que os EUA eram dolorosamente conservadores. A nudez desempenhou um papel no debate sobre nossas liberdades sexuais", afirmou a equipe da Playboy, num comunicado há dois anos, após anúncio de que abandonaria os nus. A marca Playboy levou o tema sexo para conversas convencionais e ajudou a definir a cultura sexual na segunda metade do século 20.

O criador da Playboy também era conhecido por seu estilo de vida hedonista. Durante décadas, ele organizou festas frequentadas por celebridades em suas mansões Playboy – primeiro em Chicago, depois em Los Angeles. Mesmo em sua velhice, Hefner era caracterizado como um playboy vestindo pijamas de seda e fumando cachimbo, que vivia rodeado de mulheres, geralmente loiras.

Para trafegar entre suas mansões em Chicago e Los Angeles, Hefner usava seu jato particular "The Big Bunny"Foto: picture-alliance/Globe-Zuma

Puritanismo na infância

Hefner nasceu em Chicago em 9 de abril de 1926. Seus pais eram metodistas devotos e nunca demonstraram "amor de forma física ou emocional".

"Parte da razão pela qual eu sou quem sou é que minhas raízes puritanas são profundas", disse ele, em 2011. "Meus pais são puritanos. Meus pais são proibicionistas. Não havia bebida alcoólica em casa. Nenhuma discussão sobre sexo. Acho que vi desde muito cedo o lado doloroso e hipócrita disso."

Hefner começou a publicar um jornal de bairro quando tinha nove anos de idade e cobrava um centavo por exemplar. Ele gostava de escrever e de desenhar quadrinhos e, já adolescente, começou a ler a revista Esquire, que ele posteriormente usaria como inspiração.

Ele se reinventou aos 16 anos, após ter sido rejeitado por uma garota pela qual era apaixonado. Ele começou a chamar a si mesmo de Hef, em vez de Hugh, e começou a escrever um livro de quadrinhos. Esses desenhos evoluíram para um scrapbook detalhado, que rendeu mais de 2.500 volumes em 2011, entrando para o Livro Guinness dos Recordes como maior scrapbook pessoal, uma espécie de caderno de anotações.

Hefner autografa cópia da primeira capa da Playboy, lançada em 1953, com Marilyn Monroe Foto: picture-alliance/dpa/I. West

Depois de trabalhar para a revista Esquire, Hefner foi para a revista Children's Activities, enquanto se preparava para lançar a Playboy. Ele e o cofundador Eldon Sellers lançaram a Playboy da cozinha da residência de Hefner em Chicago. A protagonista do primeiro número da Playboy, em dezembro de 1953, foi a diva Marilyn Monroe, com uma foto de capa, na qual apareceu vestida, mas completamente nua em uma cama de veludo vermelho nas páginas interiores.

Império do sexo

Quando a Playboy foi lançada, estados americanos podiam legalmente proibir anticoncepcionais, e a palavra "gravidez" foi banida da famosa série televisiva americana "I Love Lucy". Publicada mensalmente, a Playboy mudou a visão sobre sexo, alimentando a "revolução sexual".

A silhueta do coelho da publicação se tornou icônica, e a circulação da revista passou de 200 mil, em 1954, para mais de 1 milhão de exemplares, em 1959. Na década de 1970, a revista tinha mais de 7 milhões de leitores e inspirou concorrentes, como Penthouse e Hustler.

A revista de Hefner recebeu ataques da direita por aqueles contrários às fotos de nudez e da esquerda por feministas que criticavam a redução das mulheres a objetos. Em 1963, Hefner foi absolvido de acusações de obscenidade por divulgar fotos de celebridades nuas.

Drew Barrymore, Farrah Fawcett e Linda Evans são apenas algumas das celebridades que posaram para a Playboy. A revista também teve apelo intelectual: apresentou ficções de Kurt Vonnegut, Joyce Carol Oates, Vladimir Nabokov, John Updike e Doris Lessing, assim como entrevistas com Fidel Castro, Malcolm X, Martin Luther King Jr., o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter e John Lennon.

No 60º aniversário da revista, a modelo Kate Moss estampou a capa vestida de coelhinha, símbolo da PlayboyFoto: picture alliance/AP Photo/PLAYBOY

Sob a direção de Hefner, a Playboy seguiu transgredindo com a presença da primeira negra, Darine Stern, na capa de outubro de 1971; ou quando, em novembro de 1975, mostrou a modelo Patricia Margot McClain a ponto de se masturbar num cinema.

Ao longo dos anos, no entanto, a Playboy foi perdendo o seu caráter provocador, já que o país também deixava para trás grande parte dos seus tabus sexuais e sua puritana sensibilidade.

Hefner também dirigiu uma série de casas noturnas da Playboy, com garçonetes "coelhinhas" vestindo uniformes com caudas e orelhas de coelho Ele também estrelou as séries televisivas "Playboy After Dark", de 1969 a 1970, e o reality show "The Girls Next Door", de 2005 a 2010.

Hefner viveu uma vida hedonista, cercado de jovens mulheres e presente em festas repletas de celebridadesFoto: Getty Images/AFP/P. Guyot

Ele administrou a revista de sua mansão em Chicago. Mais tarde, ele adquiriu outra mansão em Los Angeles, viajando entre as duas residências com seu jato particular, nomeado de "The Big Bunny" – "O Grande Coelho". Legiões de celebridades do sexo masculino se reuniam em suas mansões para ficar entre as jovens modelos da Playboy.

O playboy por trás da Playboy

A obsessão de Hefner por coelhos começou com figuras que decoravam um cobertor na infância. Ele participou ativamente da vida que abraçou, curtindo filmes pornográficos, strip poker e sexo grupal. Segundo suas próprias contas, ele fez sexo com mais de mil mulheres, muitas das quais posaram para sua revista.

Hefner foi casado três vezes: Mildred Williams, de 1949 a 1959, Kimberly Conrad, de 1989 a 2010, e Crystal Harris, desde 2012. Aos 85 anos, ele disse: "Nunca encontrei minha alma gêmea." Hefner teve quatro filhos.

Após um acidente vascular cerebral em 1985, ele tornou sua filha Christie diretora executiva, mas manteve 70% das ações da Playboy e continuou a escolher a "coelhinha do mês" e as fotos de capa.

Em 1992, numa entrevista ao jornal americano The New York Times, Hefner foi questionado sobre do que mais tinha orgulho. "De ter mudado atitudes sobre o sexo. Do fato de pessoas legais poderem viver juntas agora. De ter descontaminado a noção de sexo pré-marital. Isso me dá grande satisfação", respondeu.

PV/efe/lusa/ap/rtr

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