Morre Max Mannheimer, ícone da memória do Holocausto
24 de setembro de 2016
Sobrevivente de campos de concentração nazistas dedicou a vida à luta contra o esquecimento das atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra. Ele foi enviado para Auschwitz e Dachau, onde perdeu quase toda a família.
Anúncio
Max Mannnheimer, sobrevivente dos campos de concentração nazistas de Auschwitz e Dachau e uma das principais vozes da memória do Holocausto na Alemanha, morreu aos 96 anos numa clínica em Munique, afirmou neste sábado (24/09) a diretora do memorial de Dachau.
A diretora, Gabrielle Hammermann, destacou que Mannheimer se dedicou como nenhum outro à luta contra o esquecimento das atrocidades cometidas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Em janeiro de 1943, a família judia de Mannheimer – originária de Mähren, que hoje pertence à República Tcheca – foi levada ao campo de concentração de Theresienstadt e de lá para o de Auschwitz. Em agosto de 1944, ele foi levado para o campo de Dachau, nas imediações de Munique.
Mannheimer e o irmão Edgar foram libertados por soldados aliados no fim de abril de 1945, pouco antes do fim da Segunda Guerra. Os pais, a esposa e as irmãs foram mortas pelos nazistas.
Logo após o conflito, Mannheimer pretendia deixar a Alemanha. Mas ele acabou assumindo como missão de vida a luta contra o radicalismo de direita e o antissemitismo. Mannheimer se engajou na Sociedade do Campo de Dachau e ocupava a presidência da entidade desde 1988. Ele também era vice-presidente do Comitê Internacional de Dachau.
Mannheimer reuniu suas memórias no livro Drei Leben (Três vidas, em tradução livre), no qual fala sobre sua vida antes, durante e após o período que passou nos campos de concentração.
Em maio do ano passado, Mannheimer se sentou ao lado da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, num ato realizado em Dachau para lembrar do 70º aniversário da libertação do campo. Na ocasião, o escritor ressaltou a responsabilidade de manter a memória viva. Além do livro, o escritor fazia palestras em todo o país para dar voz aos judeus que morreram nas mãos dos nazistas.
O prefeito de Munique, Dieter Reiter, classificou Mannheimer de "embaixador da Alemanha democrática". "Seu lema era, como deve ser o lema de todos os nós: não podemos esquecer", disse.
LPF/efe/dpa/epd
O Memorial do Holocausto
Artístico, abstrato, imponente. O monumento lembra, desde 10 de maio de 2005, que foi em Berlim que o extermínio dos judeus europeus foi planejado e organizado. Hoje, ele é uma atração turística popular.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Monumento incomum
Normalmente, monumentos celebram heróis de uma nação. O Memorial do Holocausto de Berlim é exatamente o oposto. Ele é, como afirmou o famoso escritor Martin Walser, em 2011, "o primeiro monumento construído por um povo em memória de seus crimes". A construção recebe diariamente milhares de pessoas e fica 24 por dia aberto ao público.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Kumm
Obra de arte imponente
Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas assassinaram seis milhões de judeus. O genocídio é considerado o maior crime da história. "É um enorme monumento. Ele faz juz ao crime que se destina a lembrar. E o mais incrível é que ele é uma obra de arte", disse Walser. Na foto, é possível ver, ao fundo, a Potsdamer Platz.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Stache
Como um campo ondulado
Em meados de 1998, foi apresentado o modelo para o memorial nas proximidades do Portão de Brandemburgo. Antes, houve uma concorrência. Quatro projetos foram escolhidos. Entre eles, o de um campo repleto de blocos de concreto, do arquiteto americano Peter Eisenman. O então chanceler alemão, Helmut Kohl, achou a ideia a melhor e se empenhou pela sua construção.
Foto: picture-alliance/dpa
O nascimento da ideia
A ideia para o Memorial do Holocausto nasceu em 24 de agosto de 1988, durante um painel de discussão em Berlim Ocidental. A jornalista Lea Rosh reivindicou a construção de um memorial na cidade. Sem a dedicação dela, o monumento não existiria. Ela fez do projeto seu objetivo de vida. Na foto, Rosh faz um discurso durante a inauguração simbólica das obras do monumento, em janeiro de 2000.
Foto: picture-alliance/Berliner_Zeitung
No coração de Berlim
A construção, no centro de Berlim, demorou vários anos. O monumento, de grandes dimensões, entre Reichstag, Portão de Brandenburgo e a Potsdamer Platz, é uma tarefa hercúlea. Ele foi construído em uma área de 19 mil metros quadrados, contendo 2.710 blocos de concreto, dispostos simetricamente. Todos eles ocupam a mesma área, mas têm diferentes alturas. Os custos foi de 27 milhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa
O Stonehenge de Berlim
O monumento se tornou uma atração turística. Todos os anos, centenas de milhares de turistas mergulham no mar de blocos de concreto, muitos deles judeus de diferentes países. O Memorial do Holocausto é um dos lugares mais visitados da capital alemã.
Foto: picture-alliance/Wolfram Steinberg
Detalhes sobre o Holocausto
Sob o campo de blocos de concreto, está um centro de informação. O museu complementa a forma abstrata da lembrança expressada pelo monumento. A exposição permanente dá nomes e rostos às vítimas, mostra destinos individuais e de famílias, suas vidas, sofrimento e morte. Não há imagens dramáticas. O terror se desenrola nas mentes dos visitantes.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Grimm
Solidão e desorientação
O quanto mais fundo a pessoa entra no labirinto ondulante, mais aumenta a sensação de desorientação existencial. O visitante perde a noção de lugar. No meio de Berlim, é possível se estar infinitamente longe de tudo. A pessoa pode se sentir solitária, ameaçada, abandonada. É uma tentativa de transmitir a sensação, em escala menor, que a maioria das vítimas do Holocausto experimentou.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Spata
O arquiteto
Peter Eisenman (82 anos), autor do memorial, se diz satisfeito que o monumento seja tão bem recebido, que crianças brinquem de se esconder, que jovens façam selfies e casais se beijem. Ele não tinha intenção de criar "um lugar sagrado". Ele também gosta do fato de que o memorial seja tão abstrato. "As pessoas não pensam nem em um campo de concentração ou sequer em algo terrível", ressalta.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Pedersen
Convite à reflexão
"Não é possível organizar a forma como as pessoas se lembram do Holocausto", diz Peter Eisenman. Alguns vêm com flores, outros rezam, se sentam nos blocos, brincam, riem ou refletem. Em Berlim, todos são livres para decidir como querem se lembrar do Holocausto. O memorial está sempre aberto e livre. A lembrança também.